Mundial 2018 Rússia: Onze provável da Seleção Portuguesa

Pedro AfonsoMaio 19, 201811min2
A menos de um mês do início do Mundial de 2018 e após o anúncio dos 23 convocados da Seleção das Quinas, começa a ser possível desenhar uma estrutura tática e intervenientes que caracterizarão a Seleção Nacional durante a competição. O Fair Play traz uma previsão dos 11 guerreiros que defenderão a honra de Portugal na terra dos Czars.

Na passada Quinta-feira, o Engenheiro Fernando Santos dissipou as dúvidas acerca do grupo que iria levar consigo para a Rússia, de forma a lutar pelo caneco Mundial. Para os mais distraídos, a lista poderá ser encontrada abaixo:

  • Guarda-redes: Rui Patrício, Anthony Lopes e Beto;
  • Defesas: Cédric, Ricardo Pereira, Pepe, Bruno Alves, José Fonte, Rúben Dias, Raphael Guerreiro e Mário Rui;
  • Médios: William Carvalho, João Moutinho, Manuel Fernandes, Adrien Silva, Bruno Fernandes e João Mário;
  • Avançados: Bernardo Silva, Gelson Martins, Cristiano Ronaldo, Quaresma, Gonçalo Guedes e André Silva.

A convocatória não deixa de surgir com algumas surpresas, como a não-convocatória de André Gomes, Nélson Semedo, João Cancelo e Nani, no entanto parece assumir-se como um grupo sólido e equilibrado, dentro das opções à disposição do Selecionador Nacional. Mas o que podemos esperar de Portugal neste Campeonato do Mundo?

O Trajeto

A vitória no Campeonato da Europa de 2016 trazia responsabilidade acrescida à Seleção das Quinas que, como underdog, queria provar que a sua vitória não era fruto de um acaso ou de sorte. Urgia contrariar o fado de Seleções como a Dinamarca e a Grécia que, após conquistarem o Europeu, falharam a qualificação para o Campeonato do Mundo seguinte.

O grupo de Qualificação era fácil e os jogadores portugueses tinham a obrigação de garantir uma qualificação sem grandes percalços. Contudo, o primeiro jogo, contra a segunda favorita à vitória no grupo, trouxe uma derrota por 2-0 na Suíça, algo que veio abalar a confiança num modelo de jogo previsível e limitado.

E a grande mudança que esse fatídico jogo trouxe passou, essencialmente, pela entrada de André Silva para o 11 da Seleção, trazendo um verdadeiro herdeiro de Pauleta e colmatando a falta de um ponta-de-lança eficaz em Portugal. Éder e Nani começaram a perder terreno e não é de espantar a sua não convocatória para o Mundial.

O pragmatismo tem sido o mote de Fernando Santos (Fonte: Sapo Desporto)

A entrada de André Silva mudou o paradigma da Seleção de um 4x4x2 sem referência fixa de ataque para um 4x4x2 quase 4x3x3, com André Silva a fazer o papel de Benzema no Real Madrid, abrindo espaços, arrastando defesas e abrindo espaços para que Ronaldo pudesse aparecer para as segundas bolas e finalizar como ele tão bem sabe fazer. O resultado? Vitórias nos 9 jogos seguintes, 32 golos marcados com Ronaldo a ser o autor de 15 desses golos, e uma verdadeira cavalgada rumo à Rússia. Os 4 golos sofridos poderão ser algo enganadores

A Filosofia

A abordagem tática de Fernando Santos não é novidade para ninguém. Já desde os seus tempos de treinador de clubes, que o Engenheiro prima pelo seu pragmatismo, segurança e procura de um resultado final que sirva os seus propósitos. “Resultadista” é um epíteto que caracteriza perfeitamente o Selecionador Nacional, com tudo o que de bom e de mau daí possa advir.

A grande surpresa da convocatória de Fernando Santos parte da não inclusão de André Gomes e da não convocatória de um 6 de raíz, que possa servir como um trinco puro. Desde que Fernando Santos assumiu o comando da Seleção Nacional que pareceu claro que a utilização de um 6 criador de jogo se prendia com a grande versatilidade de William Carvalho, mais do que uma questão ideológica. Assim, parece que o Engenheiro irá operar uma alteração na sua filosofia, fruto também da ausência de Danilo Pereira, optando por ter jogadores como Adrien a funcionar como um 6 criador de jogo. Não se percebe, no entanto, a não-convocatória de Rúben Neves.

Adicionalmente, João Mário passa a ser o único médio-centro que tem a capacidade de servir como médio-interior direito ou esquerdo no 4x4x2 que Fernando Santos desenhou, algo que André Gomes e Renato Sanches foram capazes de fazer no passado Europeu. As ausências de ambos são mais que justificadas, no entanto seria de esperar (ou não, devido a falta de soluções) a convocatória de jogadores com um perfil mais ofensivo e criativo para complementar o meio campo e conferir segurança defensiva.

O mais preocupante em termos da Filosofia Tática de Fernando Santos parte de um centro da defesa francamente debilitado. Tanto Bruno Alves como José Fonte estão para lá do seu melhor e apresentam-se como centrais bastante lentos. Isto obrigará, com certeza, a equipa a jogar com uma linha defensiva mais recuada e, até, a abusar ainda mais no contra-ataque, visto que o ataque posicional de sucesso pressupõe uma envolvência coletiva que se estenda para todo o campo. Olhando para o centro da defesa portuguesa, parece adivinhar-se a criação de um fosso entre a defesa e o ataque, com uma defesa muito subida e André Silva e Cristiano Ronaldo isolados na frente à procura de fazer uma pressão pouco “digna” e a captar bolas em duelos com os defensores opositores.

O seu papel será de suma importância para o sucesso das Quinas (Fonte: Lusa)

Que ninguém espere futebol total da Seleção Nacional nem jogos apaixonantes. Como sempre, o futebol será calculado, será de segurança e 1 ponto será sempre melhor que 0. O sucesso do futebol da Seleção passará pela capacidade de colmatar a falta de velocidade no centro da defesa e de ligar convenientemente as 3 áreas do campo, sendo que William e o 8 de serviço terão um papel importantíssimo na forma como esta ligação se irá processar.

O 11 Provável

O 11 Provável da Seleção

Não será de esperar uma grande mudança tática na forma como Fernando Santos aborda os jogos. O seu grupo e as suas ideias estão definidas e os jogadores encontram-se perfeitamente enquadrados nas mesmas. Assim, o 11 mais provável da seleção encontra-se acima, tendo em conta a qualidade dos jogadores à disposição e a lógica da utilização dos mesmos durante a fase de Qualificação.

Rui Patrício parece ser uma escolha indubitável. O guarda-redes do Sporting CP é um dos esteios da Seleção e, aos 30 anos, está no topo da sua carreira. Anthony Lopes tem uma enorme qualidade mas ainda não está no patamar de Patrício e Beto servirá apenas para fazer balneário. Cédric tem uma tarefa difícil com Ricardo Pereira como concorrência, no entanto o defesa direito do Southampton transcende-se ao serviço da Seleção das Quinas e apresenta-se sempre com a solução mais credível, de um ponto de vista defensivo. Pepe é apenas e só o melhor central português em atividade e, apesar da sua saída do Real Madrid para o Besiktas e uma época algo inconstante, a sua qualidade é mais que suficiente para assegurar um eixo da defesa coeso. José Fonte, por sua vez, aparece aqui como a maior dúvida. Uma época pobre e exibições confrangedoras ao serviço da Seleção Nacional nos últimos tempo fazem duvidar da capacidade de Fonte se manter ao mais alto nível. Contudo, o mesmo pode ser dito de Bruno Alves, com um acréscimo de idade e de declínio de valências físicas, e Rúben Dias é ainda muito novo e “tenrinho” para assumir indubitavelmente o centro da defesa. Fechando o quinteto defensivo, estará Guerreiro. O defesa esquerdo do Dortmund tem sido assolado por lesões, mas as suas valências ofensivas e a sua enorme qualidade colocam-no à frente de Mário Rui, restando apenas a dúvida acerca do seu estado físico que pode influenciar a escolha de Fernando Santos.

Um enorme central… Já terá passado o seu melhor? (Fonte: Lusa)

A dupla central do meio-campo será constituída por William Carvalho, o único 6 declarado convocado por Fernando Santos, e João Moutinho, o médio box-to-box preferido do Engenheiro. A dúvida poderá passar entre Adrien ou Moutinho, mas o segundo fez uma época muito mais bem conseguida que Adrien, tendo sido mais vezes opção no seu clube e na própria Seleção. A simbiose entre Adrien e William poderá ser muito mais benéfica para a Seleção e Moutinho parece claudicar nos momentos cruciais, pelo que será interessante ver o jogo de poder entre ambos na luta pelo lugar no 11 inicial. Nas alas, é expectável a escolha de João Mário e Bernardo Silva. A aparente disposição caótica no nosso 11 previsto parte das movimentações e características dos jogadores que o Engenheiro costuma escolher. João Mário tem jogado sempre pela esquerda, funcionando como um falso extremo que procura zonas interiores, ora buscando criar superioridade numérica no centro, ora procurando abrir espaços na ala para as subidas de Guerreiro e para as deambulações de Ronaldo. Do lado direito, será possível esperar a inclusão de Bernardo Silva. Por um lado, porque se trata de um jogador com uma enorme qualidade, por outro, porque Quaresma funciona muito melhor partindo do banco de suplentes. A verdade é que o papel que Bernardo deve assumir, de desequilíbrio na direita, é um papel ao qual se encontra habituado, no entanto as suas exibições na Seleção Nacional parecem ficar sempre aquém da sua verdadeira capacidade (tema já discutido pelo Fair Play aqui). Será interessante verificar se Bernardo será capaz de dar o salto qualitativo que é esperado dele e melhorar o ataque de Portugal.

Uma boa época, mas não estará Moutinho a viver das suas glórias do passado na Seleção? (Fonte: Sapo Desporto)

O ataque de Portugal terá Cristiano Ronaldo a servir um papel de falso extremo e de falso ponta-de-lança. Cristiano rende sempre mais quando lhe é conferida liberdade em campo e a chegada de André Silva veio permitir a Ronaldo fazer o que tão bem faz no Real Madrid e que contribui largamente para a sua veia goleadora. Por sua vez, André Silva, apesar da fraca época ao serviço do AC Milan, é um excelente ponta-de-lança a jogar de costas e de frente para a baliza, sendo dono de um excelente jogo de pés e de cabeça, aliado a uma enorme raça e inteligência de jogo. Ao contrário de anos passados, parece ser o ataque de Portugal o ponto forte da Seleção.

O Aviso à Navegação

Desengane-se quem espera de Portugal um futebol apaixonante ou uma campanha imaculada da Seleção. O Europeu de 2016 foi atípico e Portugal conseguiu singrar após inúmeros percalços e alguns adversários não tão difíceis, algo que não é expectável neste Mundial. Portugal é um outsider e teremos de encarar sempre a competição como a oportunidade de fazer um brilharete, não deixando que os sucessos de passado nos toldem a realidade. Podemos sonhar, mas, infelizmente, pouco.


2 comments

  • João Valente

    Maio 19, 2018 at 5:23 pm

    O 11 de Portugal aqui apresentado parece-me bem, mas pergunto: se o William Carvalho se lesiona (até porque não parece estar nas melhores condições, ou a 100, ou sequer a 90 %), ou se levar 2 amarelos em jogos seguidos, quem irá fazer a sua posição de “trinco” à frente dos DCs? O Adrian? O Moutinho?

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  • João Valente

    Maio 19, 2018 at 5:12 pm

    Obrigado pela análise. É bom que haja espaço para massa crítica que fale da Seleção e das opções ou das alternativas. Acho triste que após a convocatória não tenha havido quase um único artigo na imprensa de análise “a sério” sobre as escolhas dos jogadores e a adequação a um sistema de jogo que potencie as nossas possibilidades no Mundial. É só ir-se ao site do Guardian para ver 7 ou 8 artigos de fundo de análise que sucederam as escolhas do selecionador Gareth Southgate.

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