Rescisões no Sporting CP: que caminhos, que soluções?

José DuarteJulho 14, 20185min0

Rescisões no Sporting CP: que caminhos, que soluções?

José DuarteJulho 14, 20185min0
O que representa o entendimento com William Carvalho, Rui Patricio e Bruno Fernandes para o Sporting CP? É um bom sinal para o clube de Alvalade?

Atendendo à particularidade do momento da vida do Sporting e até do ineditismo do caso que levou ao processo de rescisão, a noticia do “regresso” de Bruno Fernandes é uma oportunidade para reflectir sobre qual o procedimento adequado por parte do clube no sentido de melhor defender os seus interesses face ao numeroso lote de jogadores que apresentaram pedidos de rescisão por justa causa.

De todas as actuações a considerar a pior de todas seria não fazer nada e deixar cair para a litigância todos os processos.  É que se é verdade que o Sporting pode obter a totalidade de decisões favoráveis em última instância, o contrário também o é, pelo que a tentativa de resolução pela negociação visaria a redução do risco de perder de uma parte substancial dos pilares da sua equipa da época transacta.

Ao que parece, tem sido essa a actuação adoptada e já produziu um bom resultado como este de recuperar aquele que acaba de ser considerado o melhor jogador da época transacta.

Neste momento o Sporting é como que um jogador de poker e a possibilidade de fazer recuar um ou mais jogadores equivaleria ao virar de uma carta favorável entre várias outras que por ora estão no escuro e não se sabe quem favorecerão. Concorreria para a ideia de que as condições que levaram à rescisão foram excepcionais e estariam afastadas em definitivo.

É isso que o regresso de Bruno Fernandes poderá representar e que significaria uma nova postura e novas abordagens pelos clubes que se venham a interessar pelos jogadores que decidiram rescindir.

Como é evidente os casos não são todos iguais. Não é por acaso que os jogadores de mais baixo salário, como Podence e Rafael Leão, tendem a ser os mais que mais rapidamente se definirão e à revelia de qualquer negociação. Os seus futuros clubes também fazem contas e devem ter entendido que o risco compensava face a uma penalização futura.

A excepção foi até agora Rui Patrício, que se precipitou quer quanto ao timing, quer quanto ao clube escolhido. Mas será também, a par de William e Bas Dost, dos jogadores com mais possibilidade de ver uma decisão final que o favoreça.

Há que ter presente que o Sporting não tem uma posição negocial confortável. Para todos os efeitos os jogadores deixaram de ser seus, o que obriga o clube a sujeitar-se à concorrência aberta de clubes com outros argumentos financeiros. Depois há também que levar em linha de conta que, talvez à excepção precisamente de Bruno Fernandes, nenhum jogador se valorizou especialmente. E mesmo este acabou por passar pelo palco do Mundial praticamente sob anonimato, à semelhança de Patrício, William, Coates e Acuña.

Vejamos: são jogadores interessantes a custo zero, mas nenhum clube se aproximará dos valores que, em circunstâncias normais, estariam dispostos a oferecer e que poderiam andar perto das cláusulas de rescisão. A semelhança com o jogar no escuro do poker aplica-se aqui também e a ambas as partes: ao Sporting, que joga com a possibilidade de ganhar e ser ressarcido de verbas importantes.

Mas sabe também que cada decisão desfavorável significará não apenas ficar sem um importante activo, mas também sem uma verba significativa, que terá que destinar a uma indemnização. Os clubes que venham a contratar os jogadores também conhecem as regras e as respectivas consequências.

Daí que os negócios ideais ou mesmo de negócios que se perspectivam ainda há pouco tempo são pouco mais que quimeras.

Acordos como o que celebramos com Bruno Fernandes, revertendo a rescisão, são os ideais porque, além de “reaver” um jogador importante restabelece a possibilidade de  negociar no futuro numa posição de conforto e autoridade, sem estar sujeito a pressões ou ao espectro de uma decisão desfavorável e tudo o que ela acarretaria.

O que é dito no parágrafo acima é válido em qualquer circunstância. Isto é, mesmo que o anterior CD estivesse ainda em funções. Foi isso que Carlos Vieira reconheceu de forma implícita na entrevista que deu ao DN, nem sequer negando a existência de negociações. Naturalmente poucos acreditarão que com aquele executivo houvesse retrocesso nas rescisões por razões óbvias.

Há outro factor de monta a concorrer para a negociação mesmo que de jogadores que não queiram regressar. O modelo de governação que tem estado em vigor na SAD nos últimos anos obriga à venda de regular de activos para o equilíbrio das contas.

Como é reconhecido na mesma entrevista por Carlos Vieira. Tal assentimento nem era necessário por ser uma evidência em todos os clubes e que a reconhecida falta de liquidez confirmava.

A necessidade imperiosa de obter receitas nestas circunstâncias também não é propriamente uma ajuda. Algo que se pode constatar na venda agora confirmada de William Carvalho.

Sem se tratar de um negócio declaradamente ruinoso também não é particularmente entusiasmante. É o negócio de ocasião para as três partes envolvidas. Porque também para o jogador é o clube possível e não nenhum daqueles que se esperava ainda há pouco tempo.

Essa é a conclusão inevitável deste tenebroso processo, cuja verdade total está ainda longe de ser conhecida: ninguém ganhou, todos perderam. Se ao menos a lição fosse aprendida, não se teria perdido tudo do muito que ficou pelo caminho para todos os intervenientes directos e indirectos.

O que representa a ida de William para o Bétis com anuência do Sporting CP? (Foto: Bétis Twitter)

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