À Procura do Legado de Pedroto

Francisco da SilvaDezembro 14, 20194min0

À Procura do Legado de Pedroto

Francisco da SilvaDezembro 14, 20194min0
Sérgio Conceição tem procurado colar o seu discurso ao praticado noutros tempos por José Maria Pedroto, contudo, as exibições cinzentas e os resultados preocupantes parecem distanciar cada vez mais o atual timoneiro da exigente massa associativa azul e branca.

O legado de José Maria Pedroto é um dos maiores tesouros do futebol azul e branco, como tal, não surpreende que a via mais objetiva de algum técnico conquistar a nação portista seja aproximar o seu discurso ao do lendário “Zé do Boné”. Nos momentos mais delicados e difíceis de Sérgio Conceição ao leme do emblema da Invicta, é comum ouvir-se algumas citações do conimbricense que podem muito bem ser coladas ao outrora timoneiro do FC Porto, José Maria Pedroto.

O homem que revolucionou o clube na década de 70 costumava afirmar nas vitórias mais difíceis arrancadas a ferros e sem qualquer nota artística que “quem quer ópera vai ao S. Carlos”. Já Sérgio Conceição adotou um adagio parecido para justificar exibições menos conseguidas, porém recorrendo a produtos vinícolas de qualidades bem distintas e argumentando que “alguns dias pratica-se um futebol champanhe, outros um vinho tinto da tasca, que não deixa de ser saboroso”. Infelizmente para os adeptos azuis e brancos mais exigentes e habituados à hegemonia portista, o futebol praticado recentemente pelos homens de Sérgio Conceição está longe de sequer justificar o rótulo de “vinho tinto da tasca”, assemelhando-se mais a uma péssima colheita de vinho doméstica que temos vergonha até de dar a provar aos amigos mais próximos.

José Maria Pedroto, à direita, com Jorge Nuno Pinto da Costa, à esquerda | Fonte: Acácio Franco

Outra das grandes demandas de José Maria Pedroto era a dualidade entre Porto e Lisboa, nomeadamente, a parcialidade dos meios de comunicação e das inúmeras equipas de arbitragem que alegadamente afetavam a performance e os resultados do emblema azul e branco. Ficaram célebres expressões como “temos de lutar contra os roubos de igreja no Estádio da Luz”, “um campeonato ganho pelo FC Porto vale por dois ou mais dos clubes de Lisboa” ou “é tempo de acabar com a centralização de todos os poderes em Lisboa”. Polémico, corrosivo, sem medo de entrar em batalhas acérrimas com a comunicação social, José Maria Pedroto utilizava os seus dotes de oratória e retórica para cativar e unir a massa adepta portista, protegendo ao mesmo tempo os seus pupilos. Desde de que chegou ao Reino do Dragão, Sérgio Conceição tem tentado criar à sua volta uma impenetrável muralha capaz de suster as críticas e proteger os seus jogadores do ambiente hostil, exemplo disso é a recente citação “sei que agora nas redes sociais vou ser insultado, estou a cagar para isso”. As referências à arbitragem têm também sido uma constante do atual técnico azul e branco, especialmente quando os resultados não correspondem às expectativas e à exigência do FC Porto. Os principais culpados pelo estrondoso descarrilamento na temporada 2018/2019 e pela paupérrima performance em 2019/2020 encontram-se seguramente dentro do Olival, contudo, nem por isso Sérgio Conceição se tem inibido de lançar constantemente farpas à arbitragem. Mais recentemente o técnico portista afirmou mesmo que a luta pelo título “vai ser a três, quatro equipas, com as de arbitragem também”.

As palavras e os gestos de Sérgio Conceição são indubitavelmente de alguém que sente e ama o clube como poucos. Contudo, os últimos 12 meses foram de pura desilusão no Reino do Dragão fruto de um campeonato perdido após ter vários pontos de avanço sobre o maior rival, de duas finais que dramaticamente penderam para o Sporting CP, de uma eliminação vergonhosa e precoce na pré-eliminatória da Liga dos Campeões e, por último mas não menos importante, de um desempenho discreto, inconsistente e preocupante no presente campeonato. Quiçá não faltará aos comandados do atual técnico portista o designado “estofo de campeão” que outrora José Maria Pedroto defendeu que a sua equipa tinha ao ponto de declarar que “o Benfica desse tempo podia ser forte mas não era suficientemente forte para ganhar ao FC Porto”.


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