O inexplicável desinvestimento nos observadores em Portugal

João NegreiraAgosto 19, 20184min0

O inexplicável desinvestimento nos observadores em Portugal

João NegreiraAgosto 19, 20184min0
Os clubes portugueses teimam em não investir em observadores/olheiros, preferindo agentes que lhes conduzam um bom plano a curto prazo, mas, muitas vezes, mau, a longo prazo. Analisemos a realidade de Portugal neste tema.

A realidade em Portugal, em relação ao scouting é paradigmática. O quão atrasados estamos em relação a outros países é preocupante e a solução que utilizamos para substituir os olheiros, é ainda pior.

Atraso de um Campeão Europeu…

Na Liga NOS, um campeonato que pauta pela projeção de jogadores jovens para outras ligas, de maior quilate, conseguimos contar pelos dedos de uma mão, os clubes que têm um departamento de scouting fixo, empenhado e com relação quase direta à equipa principal. Contudo, é importante referir que ainda são poucos, os clubes que os têm, e a quantidade de olheiros que têm.

Naturalmente, estamos a falar do SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e SC Braga. As águias e os dragões são talvez os casos de maior sucesso neste tema, desde Witsel, Markovic e Matic a James Rodríguez, Hulk e Falcao.

O que importa exaltar é que excluindo estes 4 clubes, todos os outros ainda não compreenderam os benefícios de ter um departamento de scouting. E os “4 grandes” também não escapam porque com a sua dimensão, estão muito atrás de outros clubes europeus e ao nível de muitos clubes de divisões secundárias desses países.

José Boto, ex-chief scout do SL Benfica (está agora a trabalhar com Paulo Fonseca no Shaktar Donetsk) deu uma entrevista ao Expresso, onde explica muito bem esta situação. O olheiro português refere que:

Portugal é talvez o único país da Europa que tem alguma importância no futebol e em que há equipas que estão na 1ª divisão e não têm gabinetes de scouting.

A realidade é triste, mas é mesmo assim. Portugal, um país onde o futebol é considerado o desporto-rei, que é campeão europeu (séniores e sub-19), que tem os melhores treinadores do mundo, que se diz ter uma cultura futebolística acima da média (erradamente, diga-se de passagem), despreza a observação de jogadores.

Os clubes portugueses ainda não foram capazes de perceber as vantagens que é ter um departamento de observação de jogadores. A saber: poupam muito dinheiro, já que as contratações, na sua maioria, são acertadas; e a equipa vai beneficiar com essas contratações, pois será um jogador com as características que o treinador pediu.

Quanto aos ditos “clubes grandes” já estão mais avançados – pior seria se assim não fosse – mas muito longe de equipas europeias. Os orçamentos estão, também, muito longe, mas, a cultura do scouting ainda não está inteiramente aplicada e as soluções ainda passam pelas que os clubes de menor dimensão utilizam.

Na mesma entrevista, José Boto compara a realidade do Benfica com a do Manchester United:

Se te disser que o Manchester tem 40 e tal scouts e o Benfica tem quatro ou cinco, acho que dá para perceber que há uma diferença muito grande.

(Fonte: Expresso)

A (pior) solução possível

A grande questão passa também pela solução que os clubes portugueses utilizam. Isto é, se não têm um departamento de scouting, como lhes chegam os jogadores? A resposta é simples e rápida: agentes.

A grande maioria das transferências dos clubes portugueses são efetuadas através dos agentes que mantém uma boa relação com o clube. O empresário apresenta uns vídeos com o best of do jogador e está feito. Estranho não é? Exato, mas é a verdade.

Como resposta, muitos clubes referem que ter um departamento de scouting é muito dispendioso e não trará muitos êxitos, mas como já referido acima, é uma falácia.

Em Portugal, ao invés de uma observação completa e intrínseca a um jogador (ou mais), as influências, as amizades e o dinheiro rápido falam mais alto.

Somos alimentados por jogadores que chegam porque o seu empresário necessitava de o colocar em algum lado e o clube (neste caso, português) cai no engodo – conscientemente ou não.

Digamos que dá jeito a alguns clubes portugueses manter essas relações com esses agentes. Mas será que é assim que devemos viver o futebol? Será que é assim que um país campeão europeu quer estar no futebol? É esta, a realidade que queremos passar lá para fora?

Quanto ao assunto do scouting, Portugal é um país pobre e atrasado e essa realidade tem que mudar. Não só porque, como comprovado em outros países, o scouting é a melhor solução, mas também porque a imagem que passamos lá para fora, não nos favorece de nenhuma maneira.


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