O que nos diz o 1º Benfica da época?
O Benfica arrancou a temporada 2017/2018 em Aveiro na Supertaça frente ao Vitória SC. E arrancou da melhor maneira, regressando à Luz com o primeiro título da temporada. Com 2-1 ao intervalo e mais um golo na segunda parte, os encarnados mostraram argumentos ofensivos para levar de vencidos os vitorianos. Mas nem tudo foi bom. Aqui analisamos o bom e o mau da primeira aparição do tetracampeão nacional.
O carrossel ofensivo
Depois de uma pré-época atribulada, o Benfica apresentou em Aveiro o que será a sua maior força para esta época. O conhecido carrossel, com triangulações rápidas, toques habilidosos e incursões pela área adversária, apareceu já no primeiro jogo e deu frutos. Com Pizzi no comando, Jonas em exelente forma e Seferovic a entrar bem no esquema, a primeira parte dos encarnados (com foco nos primeiros 10 minutos) foi demolidora.
Se já na época passada o ataque tinha sido o setor mais forte na Luz, este ano não será diferente. Com Grimaldo e um André Almeida atrevido, as laterais encaixaram no carrossel e de lá surgiram grande parte do perigo do Benfica.
A construção foi variada e eficaz: com Pizzi ao lado dos centrais, com Fejsa a pegar no jogo, com Jonas a baixar para o lado do transmontano. A primeira meia hora espelhou o que qualquer adepto espera do Benfica nesta nova época. Espelhou um futebol perfumado, com golos e asfixia do adversário.
A grande limitação nesta grande força encarnada está na resistência dos seus intervenientes. Pizzi e Jonas apareceram com menos velocidade e capacidade de construção na segunda parte da partida. Com isso o carrossel abrandou e a capacidade ofensiva do Benfica extinguiu-se. Rui Vitória terá que encontrar soluções a estes dois mágicos para que não se perca a intensidade que eles trazem ao jogo.

A pressão e a verticalidade
Rui Vitória apresentou hoje um início sufocante, com uma pressão à saída de bola do Vitória forte e eficaz. Pressionando em bloco (não deixando os dois avançados sozinhos na frente), o Benfica ganhou inúmeras bolas no seu meio-campo ofensivo. E daí surgiram inúmeros lances de perigo. Seferovic mostrou-se solidário nesta pressão e, enquanto houve frescura para tal, Jonas formou com o suíço uma dupla agressiva e bem coordenada.
Tal como no carrossel, os problemas da pressão apareceram com o decorrer do jogo. Uma pressão tão elevada exige muito do quarteto ofensivo que, na segunda parte, baixou com a equipa e permitiu à equipa de Pedro Martins construiu com mais critério e, claro, mais perigo. Cabe a Rui Vitória não permitir esta quebra, refrescando o 11 e gerindo a intensidade ao longo dos 90 minutos para que esta arma não se torne numa fraqueza.
O técnico ribatejano apostou também num futebol mais vertical que se mostrou, também ele, eficaz. Apesar de Seferovic não ter ganho a maioria das bolas aéreas com os centrais vitorianos, a segunda bola foi, na sua generalidade, ganha pelos encarnados. Jonas, Salvio, Cervi e Pizzi vindos de trás fizeram desta verticalidade uma forma de chegar à entrada da área do Vitória e, assim, dar asas ao carrossel já falado.

O problema “Salvio”
Apesar da força ofensiva do Benfica, a ala direita foi muito inconsequente. Apenas com Pizzi ou Jonas a descair para este lado surgiram oportunidades do lado de Salvio. O argentino parece ter a titularidade assegurada desde a época transacta e a Supertaça não foi exeção. Golos falhados na cara do guarda-redes adversário, lances inconsequentes e uma enorme dependência de ressaltos fazem de Salvio um jogador “a menos” na ofensiva encarnada.
Mesmo a incorporação nas triangulações que já vimos noutros tempos desapareceu. Sem Nelson Semedo para “forçar” o ataque pelo seu lado, Salvio perdeu a pouca preponderância que tinha na ofensiva do Benfica. Tornou-se ainda mais evidente a necessidade de apostar noutro extremo, que possa trazer soluções à fadiga de Jonas.
Aos 65 minutos de jogo Rui Vitória substituiu Salvio por Filipe Augusto e levou Pizzi para ala direita. Porém, esta alteração pretendia dar mais “músculo” ao meio campo e não alterar o processo ofensivo. Apesar disso pode estar aqui uma solução que Rui Vitória explorará (nas suas faladas “mudanças táticas). Apostar mais em Pizzi na ala e num médio capaz de construir com o “comandante” resolveria, facilmente, este “problema”.

Quem tem Fejsa tem… Fejsa
Se o ataque do Benfica apresentou altos e baixos (na primeira e segunda parte, respetivamente), a defesa apresentou apenas baixos. O Vitória não causou, durante os primeiros 60 minutos, muito perigo à baliza de Bruno Varela e, com a pressão ofensiva a destruir a construção adversária, tudo parecia controlado pela dupla Luisão – Jardel. Porém, quando faltou a pressão apareceram as limitações defensivas evidenciadas na pré-época: desconcentrações recorrentes e displicência no ataque à bola.
O lance do golo vitoriano é exemplo perfeito dos problemas na manobra defensiva de Rui Vitória. Desconcentração no acompanhamento do lance por parte Bruno Varela e displicência de Luisão aquando do cruzamento para o golo. Mas vários foram os lances que, não tendo dado golo, fizeram tremer a retaguarda encarnada e mais não foram pelo papel crucial de Ljubomir Fejsa. O sérvio continua a ser o “bombeiro” de serviço e “pau para toda a obra”. Secou o meio campo adversário, dobrou André Almeida e Grimaldo e ajudou a dupla de centrais.
Neste primeiro Benfica da época, a defesa encarnada foi Fejsa contra o mundo. Rui Vitória e a estrutura encarnada têm que mudar isso, reforçando o setor mais fragilizado com as vendas deste verão.

O que o 1º Benfica desta época mostrou foi uma capacidade ofensiva fortíssima e limitações defensivas berrantes. Mostrou fluidez no seu futebol mas pouca capacidade de o manter durante 90 minutos. Mostrou armas e fragilidades que, no caminho para o penta, devem ser resolvidas.
A supertaça foi apenas o início de uma longa época mas há problemas por resolver e, sobretudo, mais títulos para ganhar.