Males que vêm por bem
Atribulado, nem sempre convincente, mas eficaz – assim tem sido o início de época dos encarnados. O Benfica segue embalado pelos bons resultados ao passo que as enchentes de adeptos se demonstram também determinantes para empurrar a equipa rumo às vitórias. De Rui Vitória, chega um novo leque de apostas para colmatar as ausências e, como sempre, há surpresas boas e outras que tardam a encher o olho.
Sem Renato Sanches e Gaitán no plantel, aliado a uma praga de lesões que afetou vários titulares, o técnico encarnado viu-se obrigado a encontrar soluções, algumas internas, outras adquiridas no mercado. Das más experiências salta à vista as apostas no miolo, na tentativa de garantir um suplente à altura do preponderante médio defensivo Fejsa. Samaris continua a deixar muito a desejar, está longe de conseguir “lavrar o terreno” que o sérvio lavra sempre que joga, para além de que o grego acumula imensos passes errados quando chamado ao onze. Da América do Sul chegou Celis, desviado da rota do Braga, passou de incógnita a fracasso nos poucos momentos que se apresentou em campo. Demasiado impetuoso, agressivo, arrisca o drible em zona proibida. Culminou o mau início de temporada sendo o responsável por conceder, de forma imprudente, o livre que deu no golo do empate do Besiktas para a Liga dos Campeões, já ao cair do pano. O que mais deixa frustrados os adeptos é o facto de Rui Vitória ter inscrito Celis na liga milionária, em detrimento de Danilo Barbosa, que chegou do Valência com rótulo de craque.
Ainda assim, há muito mais e melhor para contar acerca das novidades do experimentado onze encarnado. Desde reforços do mercado internacional a novas caras da formação do Seixal, certo é que as águias possuem já vários atletas para potenciar e continuar a encher os cofres da Luz.
O pequeno adepto à solta em campo
Sangue novo, bem encarnado, talento e muita mestria, a fazer lembrar o mito encarnado Rui Costa. A classe passa-lhe dos relvados para os pavilhões da Luz, onde é adepto assíduo das modalidades, numa mostra da sua dedicação ao clube, na representação máxima daquilo que é um adepto conseguir chegar ao sonho de vestir o “manto sagrado”. André Horta não dececionou, deu o grande salto para o tricampeão nacional e desde logo agarrou a titularidade. O novo diamante em bruto do Seixal traz características distintas de Renato Sanches, mas ninguém se pode queixar de falta de intensidade. A envergadura está longe de ser a mesma, mas a entrega está lá, há qualidade acrescentada no capítulo defensivo e ainda no passe, para além de um tão ou mais delicioso drible, que já lhe valeu um belo golo de estreia. Dono e senhor do lugar, o nº 8 encarnado saltou diretamente para o colo dos adeptos, de onde saíra Renato Sanches.

A reafirmação da surpresa
Veloz, “na raça”, tecnicista e o verdadeiro pulmão que se exige a um lateral. Quem não esqueceu Maxi depois do aparecimento de Nelson Semedo na temporada passada? Foi a grande surpresa do início da época transata, tendo até o reconhecimento de Diego Simeone antes do embate onde os encarnados viriam a bater os “colchoneros”, em pleno Vicente Calderón. Semedo volta a impressionar, principalmente pela qualidade a atacar e pela intensidade que impõe em cada partida. Resta-lhe corrigir algum posicionamento defensivo e não se excitar demasiado na fase de construção ofensiva. As combinações entre toques curtos e a capacidade de dar profundidade do português fazem com que neste momento seja André Almeida a ter que se esforçar para recuperar o lugar. Não restam dúvidas de que, melhorando algumas das suas debilidades, o lateral é mais um dos ativos que mais dinheiro pode fazer entrar nos cofres encarnados.

O resgate certeiro à La Masia
Da fornada de ’95, de onde o produto transpira sempre qualidade, Grimaldo foi o escolhido da “cantera blaugrana” para colmatar uma lacuna que ia sendo remendada por Eliseu. O Benfica já “namorava” o menino espanhol há algum tempo. Ele, por sua vez, sentiu que lhe faltaria espaço no plantel principal do Barcelona e aceitou o convite do Benfica para ter mais possibilidades de potenciar o seu talento. Paciente, teve uma primeira época na sombra de Eliseu, dono e senhor do lugar, apesar das deficiências defensivas que lhe eram reconhecidas. Sempre que foi chamado respondeu à altura, aguardou serenamente a sua oportunidade e não a deixou fugir quando Eliseu perdeu a pré-época devido a férias, após a conquista do campeonato europeu por Portugal. Grimaldo é um exemplo perfeito da insistência que é aplicada na formação catalã a nível tático. Toque curto, “toca e vai”, cria desequilíbrios com tabelas entre colegas e ainda demonstra rasgos individuais capazes de desmontar a defesa contrária, à medida que delicia os adeptos. Peca essencialmente por algum desacerto defensivo, para além de alguns momentos em que arrisca demais na saída para o ataque, à semelhança do novo colega da ala contrária. Incontestável é o talento do espanhol, tem confirmado as expectativas e é já cobiçado por grandes emblemas europeus, como é o caso do Manchester City de Guardiola.

O melhor Tango é tocado com “la zurda”
Trata-se de “só” mais um pé esquerdo (“la zurda”, como dizem os argentinos) a prometer fazer muitos estragos, proveniente da terra do Tango – Argentina. O Benfica parece estar a acertar em cheio na sucessão de extremos esquerdos e neste caso trata-se mesmo da maior esperança formada no Rosario Central, desde o ex-benfiquista Ángel Di Maria. A um ritmo frenético, com um drible curtíssimo e impressionantes rasgos individuais, chegou e logo fez a diferença frente ao Sporting de Braga na Supertaça. A sua aposta por parte de Rui Vitória tem sido intermitente, mas o argentino vai respondendo da melhor maneira sempre que é chamado e até foi o primeiro a marcar pelos encarnados na presente edição da Liga dos Campeões, quando fora adaptado a jogar na frente ao lado de Gonçalo Guedes. Extremos não faltam no plantel encarnado, mas Cervi tratou de corresponder e depressa, justificando que é uma mais-valia a manter e evoluir no futuro.

São estes os diamantes que mais reluzem, neste momento, a Rui Vitória. Contudo, espera-se o aparecimento de outros jogadores que o técnico procura evoluir, como é o caso de Zivkovic, Danilo Barbosa e os já conhecidos André Carrillo e Rafa. Assim que terminada a onda de lesões no plantel encarnado, serão mais do que boas as dores de cabeça do treinador encarnado, que continua a surpreender pelos resultados positivos e potencialização de ativos no plantel.