Do “luxo” ao “pobre”, assim vão as exibições do Benfica

Fair PlayOutubro 13, 20196min0

Do “luxo” ao “pobre”, assim vão as exibições do Benfica

Fair PlayOutubro 13, 20196min0
O Benfica de Lage passou de "luxo" a "pobre"? Ou esta fase é apenas isso, uma fase? João Ribeiro explora as debilidades deste Benfica e da preponderância da saída de João Félix!

Artigo escrito por João Ribeiro

Uma história que tem tudo para dar certo, mas…

Foi há menos de um ano que Luís Filipe Vieira e a sua estrutura tomaram a decisão de despedir o técnico benfiquista Rui Vitória e ascender o técnico Bruno Lage, que até ao momento comandava a equipa B das águias, para a equipa principal do futebol sénior, inicialmente como treinador interino.

Bruno Lage inicia a sua caminhada no dia 6 janeiro de 2018 com uma vitória categórica frente ao Rio Ave de Daniel Ramos. 4-2 foi o resultado, com golos de Seferovic e do menino de ouro João Félix.

Com exibições de alto gabarito de uma equipa que parecia desacreditada e com o verdadeiro toque de midas de João Félix, o Benfica joga como já não se via desde os tempos de Jorge Jesus. Bruno Lage e o Benfica vencem e convencem os adeptos e a direção do clube, passando mesmo Lage de treinador “part time” a “full time”.

Conseguindo com mérito, uma recuperação quase “milagrosa” para o seu rival na luta pelo título FC Porto de 7 pontos e que por consequência levou a equipa da luz a festejar o titulo de campeão nacional no Marquês de Pombal.

Uma dupla de sonho da época passada do Benfica (Foto: Correio da Manhã)

O que mudou de uma época para a outra?

A saída de João Félix

O menino de ouro é lançado às feras por Rui Vitória, mas com tempo de jogo muito intermitente e com dinâmicas dentro do jogo que não favoreciam a classe de João Félix. Não sendo na verdadeira ascensão da palavra uma verdadeira aposta do técnico no jogador.

É com Bruno Lage que a aposta é mais vincada e desde cedo a simbiose com a equipa é instantânea, sendo João Félix o barómetro da equipa, o jogador desequilibrador, a referência que os colegas procuravam para resolver e dar brilho a uma jogada, que com a sua classe inquestionável fez mesmo esquecer o “mágico” Jonas, que até á época era apenas o melhor jogador e marcador do plantel, ídolo nas hostes benfiquistas.

Esta época não há João Félix, que assuma o jogo, meta “gelo” quando necessário, que resolva partidas que parecem difíceis de desbloquear. Em suma, alguém que faça a equipa jogar e com isso os seus colegas se agigantarem também e sentirem que com um jogador tão diferenciado entrem logo a vencer antes mesmo de o jogo começar, pressionando mais alto, sem medo de descorar a defesa, sedentos de terem a bola em seu poder, confiantes que qualquer aproximação à área adversária, as chances de haver perigo são muitas.

126M€ deixaram o Benfica sem qualidade? (Foto: O Globo)

Bem se sabe que não é apenas um jogador que faz uma equipa, mas um fora de série mexe e muito com as dinâmicas de uma equipa e como ele fazia mexer aquele carrossel quase imparável que era o Benfica 2018/2019. Um atleta destes faz a diferença em qualquer equipa, quem não gostaria de o ter?

Quem se lembra do Benfica antes, durante e pós Félix?

É certo que ninguém consegue dizer que não a 126.000.000€, mas em termos desportivos a equipa fica muito mais pobre e isso está a refletir-se no atual momento do Benfica, porque na minha opinião quem tem Félix está muito mais perto de vencer e convencer.

Sem Félix, 4-4-2 ou 4-3-3?

Muito se tem falado na imprensa qual o melhor sistema tático que Bruno Lage deveria adotar e que vai de encontro às características dos seus jogadores e sem Félix pois claro.

Indiferente se joga com um ou dois avançados, o que é preocupante atualmente são as dinâmicas que a equipa não apresenta. Um Benfica sem ideias na fase de construção de jogo, jogadores estáticos sem oferecerem boas linhas de passe, poucos movimentos de rutura na defesa adversária de modo a criarem desequilíbrios, muito jogo direto e consequentemente perda da bola, poucos passes verticais e muitos passes laterais o que mastiga muito o jogo ofensivo. Grande número de passes errados, muitos deles a curta distância e fundamentalmente muita falta de confiança nele próprio e no colega.

Em termos defensivos, pouca agressividade na pressão pela procura da bola, quando é feita é de forma lenta e de forma individual ao invés de ser realizada em bloco, por consequência as linhas defensivas, médias e atacantes estão sempre muito distantes o que permite transições ofensivas perigosas ao adversário.

Como podemos analisar, existem muitas debilidades quer de cariz ofensivo como defensivo que tem de ser trabalhadas.

Será que a rotatividade sistemática do onze inicial feita por Bruno Lage é benéfica para a equipa?

 A Gestão do Plantel

Nesta presente época Bruno Lage tem-nos presenteado com várias mudanças de jogadores no onze do plantel em vários jogos, reforçando a ideia que faz parte de uma “gestão do plantel” que tem de ser feita. Ok, até aqui percebe-se que pontualmente se troque um ou outro jogador, devido a lesão, castigo ou baixo rendimento. Mas o que se tem visto são muitas mudanças e imprevisíveis em jogos de caráter fundamental para o clube, coisa que não se via o ano passado com o mesmo técnico.

Será algo novo e recorrente a que estamos a assistir por parte do Mister ou será apenas pontual?

É uma questão que só poderemos ter resposta mais lá para a frente no decorrer da temporada, mas que na minha opinião não é a melhor forma da equipa criar dinâmicas e automatismos.

Bruno Lage terá que se reinventar para manter o sucesso do Benfica (Foto: SL Benfica)

Esta rotatividade aumenta a desconfiança entre os próprios jogadores, porque um dia estão no onze e no outro na bancada, será que é a melhor forma de gerir os jogadores?

Quanto a mim não me parece, os melhores têm de jogar sempre, mesmo que por vezes condicionados, é na dor também que se distingue os bons dos grandes jogadores e é para isso que existe um departamento clínico superespecializado na recuperação física dos atletas.

Análise Final

Numa análise global, estes são os pontos fundamentais para que este ano o Benfica tenha exibições muito cinzentas a nível interno e que na Liga dos Campeões não tenha qualquer ponto conquistado.

Falta muito trabalho de campo e redefinir melhor as estratégias para atacar todas as competições em que está inserido, mas que ainda está a tempo de o fazer.

Será que vamos continuar a ver este Benfica de Lage a curto/médio prazo ou um Benfica de outrora?


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