Até aonde podem ir Daniel Ramos e CS Marítimo?

Francisco IsaacSetembro 5, 20178min1

Até aonde podem ir Daniel Ramos e CS Marítimo?

Francisco IsaacSetembro 5, 20178min1
Um ano sem derrotas em casa, o apuramento para a Liga Europa e uma equipa que mete respeito na Liga NOS... o SC Marítimo de Daniel Ramos e as razões do seu sucesso nos verde-rubros

Marítimo e Daniel Ramos são, neste momento, um dos “casamentos” perfeitos da Liga NOS. A equipa madeirense, a única no escalão máximo do futebol português, está há quase um ano sem perder no seu reduto para o campeonato e muito se deve ao trabalho e estratégia implementada por Daniel Ramos. 

Mas até aonde pode ir este Marítimo e porque é que devemos olhá-lo com valor e cuidado? Fique a conhecer o “Caldeirão” mágico de Ramos neste artigo


Daniel António Lopes Ramos é uma das novas “coqueluches” confirmadas do futebol português, um treinador que tirou o CS Marítimo  do penúltimo lugar e meteu-o no caminho da Europa. Uma pequena “revolução” despoletada nos Barreiros (que coincidiu com a estreia da nova bancada do estádio dos “Leões” da Madeira) que tem impressionado o futebol português. Mas o que realmente “fez” Daniel Ramos e porque é que devemos reflectir um pouco sobre o treinador nascido em Vila do Conde e, que até à chegada ao Marítimo só tinha andado por clubes dos escalões secundários?

DANIEL RAMOS E O “CALDEIRÃO” MÁGICO

Comecemos pelo fim, ou seja, pela sua estadia no CS Marítimo. Daniel Ramos chegou a 22 de Setembro de 2016, após Carlos Pereira ter demitido Paulo César Gusmão ao fim de 5 jogos (quatro derrotas e uma vitória). Os madeirenses estavam numa situação conturbada, com um plantel duvidoso e aparentemente sem rumo. Todavia, a chegada de Daniel Ramos alterou por completo o “destino” do Marítimo, que saiu dos últimos lugares, terminando em 6º da Liga NOS.

Mais incrível é o facto da equipa dos Barreiros nunca ter consentido qualquer derrota em casa durante uma época inteira quando está em véspera de fazer um ano da chegada de Daniel Ramos ao Funchal. Isto significa que nunca perdeu um jogo em casa para a Liga NOS desde a sua chegada. Em 18 jogos dentro de portas, Ramos somou uma única derrota, para a Taça CTT frente ao SC Braga (0-1), contando 12 vitórias e 5 empates, isto quando falamos em 2016-2017.

Já em 2017-2018, o “cenário” continua o mesmo… o Estádio dos Barreiros está inviolável, com quatro vitórias em cinco jogos e um único empate (frente ao Dinamo de Kiev, num encontro que a “turma” de Daniel Ramos merecia a vitória). Por isso, factor “jogar em casa” foi uma das vantagens que veio com a assinatura de contrato de Ramos. Mas o que há-de tão especial no futebol do Marítimo em casa? Em três adjectivos: organizado, dinâmico e directo.

O jogo com o Dínamo de Kiev é um dos bons exemplos para avaliar essas três componentes. Vamos focar-nos em três jogadores que “encheram” o campo e materializaram bem esses adjectivos: Zainadine Júnior, Erdem Sen e Ricardo Valente.

TRÊS CHAVES PARA O SUCESSO

Comecemos por Zaindine Júnior: o antigo central do CD Nacional, tem reinado com “força” no eixo defensivo do Marítimo desde que chegou em Janeiro de 2017 (provindo do TJ Teda, da China), acrescentando experiência, leitura defensiva e frescura física aos verdes-rubros da Madeira. Para além disso, Zaindine é um atleta que sabe sair com a bola controlada da defesa, relançando bem a equipa para o contra-ataque arriscando a sua presença em zonas mais altas do terreno.

No meio-campo “habita” uma das surpresas da temporada anterior, Erdem Sen. O trinco/médio-centro turco chegou a interessar a alguns clubes de maior dimensão (a imprensa portuguesa chegou a noticiar o interesse do Sporting CP) e não é para menos, já que Sen é um recuperador de bola esplendoroso, um “tampão” de qualidade, apresentando frieza e um excelente tempo de reacção, que já criou graves dificuldades a alguns adversários de renome: SL Benfica, FC Porto, SC Braga ou Vitória de Guimarães.

Sen é um jogador que facilmente cativa o “adepto comum” a seguir o Marítimo, pois a forma como se entrega ao jogo, desdobrando bem o contra-ataque dos madeirenses, sendo uma espécie de pêndulo que faz o jogo ofensivo ganhar outras tonalidades. O que isto significa? Que Sen não se fica por ser um puro “destruidor” de jogo do adversário, procura ser uma “chama” no ataque dos verde-rubros, de se envolver afincadamente nos processos de ataque, atingindo uma importância séria na equipa madeirense.

E Ricardo Valente? Bem, poderá ser algo cedo para dizermos que Valente é uma unidade essencial no Marítimo, mas dificilmente poderíamos optar por outro que não o extremo formado no FC Porto. Valente, com 26 anos, chegou aos Leões da Madeira no verão de 2017 após três anos de ligação com o Vitória SC, onde chegou a ser uma das figuras em 2014/2015 (16 jogos / 8 golos), sem que  tivesse sido anunciado um valor de transferência.

O extremo tem “radicalizado” a esquerda do ataque, com uma série de fugas, escapes e detalhes técnicos, que conseguem meter o Estádio dos Barreiros em alvoroço. No jogo com o Dínamo de Kiev, Valente foi a “figura” dos madeirenses arrancando três cartões amarelos aos ucranianos, para além de ter “armado” três boas situações de golo que nem Everton, Pinho ou Éber Bessa conseguiram desviar para dentro da baliza.

A forma como consegue desfazer-se dos seus adversários directos é uma das suas várias qualidades, sendo que para o tipo de jogo que Daniel Ramos procura é o ideal. A saída de Xavier para o Paços de Ferreira levantou algumas dúvidas, mas Valente tem ocupado bem o lugar com dois golos e uma assistência em sete jogos. Será da obrigação do treinador do Marítimo voltar a meter Valente ao nível que esteve no Vitória de Guimarães, sendo que, se o conseguir, esperam-se só bons tempos para os verdes-rubros.

Erdem Sen (Foto: Lusa)

QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO?

Obviamente que o plantel do SC Marítimo não se fica por três nomes, muito pelo contrário. Há Charles, Pablo (boa descoberta no Paysandu do Brasil), Luís Martins (o lateral formado no SL Benfica está à procura de relançar a sua carreira em Portugal), Piqueti, Gamboa, Éber Bessa ou Bebeto. A grande dúvida prende-se com a função de ponta-de-lança, que está a cargo de Everton, Lundberg ou Pinho, sem que nenhum apresente qualidades acima da média, pelo menos no que se tem observado neste início de temporada.

Possivelmente, a solução de Ramos está em Amido Baldé, o avançado que chegou a ter uma boa temporada ao serviço do Celtic há umas temporadas atrás. Porém, o avançado da Guiné-Bissau apresenta níveis psicológicos abaixo dos necessários para singrar na frente de ataque de uma equipa que luta pelos primeiros oito lugares da Liga NOS.

O futebol de Daniel Ramos não depende de um máximo goleador, já que é no equilíbrio táctico e na eficiência defensiva que a equipa tira os seus maiores proveitos. Só como nota, os madeirenses foram o 3º pior ataque do top-10 da Liga NOS em 2016/2017, com 34 golos marcados (só à frente de Boavista e Feirense)… mas, foram a 3ª melhor defesa desse mesmo top com 32 golos sofridos. É uma forma de “sobreviver” ao campeonato português e de conseguir atingir bons lugares na tabela.

A GRANDE QUESTÃO: O ATAQUE SERÁ FOCO OU FRAQUEZA?

Todavia, a ausência de golos e de um futebol ofensivo mais “cheio”, continua a ser uma questão perene no futebol de Daniel Ramos. É fruto da carência de activos que consigam meter a bola dentro da baliza, ou, é um problema inerente ao próprio treinador?

A escola de alguns dos últimos treinadores portugueses passa, um pouco, por essas questões: trabalho e execução perfeita na defesa em detrimento de procurar delinear estratégias de ataque mais “arriscadas”. Vítor Pereira, Paulo Fonseca, Paulo Bento, Pepa, José Couceiro são alguns dos nomes que vêm à cabeça quando pensamos nesse tipo de trabalho e estratégia.

A grande questão que se apresenta: conseguirá Ramos repetir a façanha da temporada passada? É uma questão difícil de responder, apesar do bom início de época (em nove jogos, seis vitórias, um empate e duas derrota) onde os sólidos números na defesa são garantia que a lógica e estratégia são os mesmos que levaram os verde-rubros até ao playoff da Liga Europa.

O “caldeirão”, alcunha dada ao Estádio dos Barreiros, vai continuar a ser um autêntico forte da equipa madeirense, apresentando-se como um dos campos mais campos mais difíceis de toda a liga portuguesa, só mesmo atrás do dos três grandes e Rio Ave.

Voltará Ramos a impressionar os adeptos portugueses? E voltará o marítimo a tirar pontos aos três grandes como aconteceu na temporada anterior (nenhuma derrota em casa)? O ataque passará a ser uma preocupação ou é pela super-defesa que passará a estratégia de Ramos? Para o bem da Liga NOS, esperemos que sim.

União (Foto: Lusa)

One comment

  • Pedro Camacho

    Setembro 5, 2017 at 8:53 pm

    Errata: CS Marítimo (Club Sport Marítimo).
    De resto, muito boa análise (só não percebi porque fica atrás.do Rio Ave)! Parabéns pelo texto.

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