95 dias depois, a “La Liga” voltou

Bruno DiasJunho 17, 20206min0

95 dias depois, a “La Liga” voltou

Bruno DiasJunho 17, 20206min0
Por fim, o regresso. A "La Liga" voltou e, com ela, voltaram os artistas, os grandes golos, as jogadas exuberantes. Esta é a análise de uma jornada tão aguardada.

Foram mais de 3 meses sem futebol pelos relvados de Espanha. Demasiado tempo, se nos perguntarem a nós. A “La Liga” já fazia falta no quotidiano de muitos adeptos espalhados por todo o mundo. Curiosamente, uma das primeiras notícias que surgiu sobre o seu regresso funcionou como uma espécie de “compensação”: as jornadas restantes da principal competição espanhola serão disputadas num regime ultra-intenso de jogos, com um calendário de apenas 5 semanas para a conclusão do campeonato.

No geral, o regresso foi feito com um ritmo mais baixo (natural, tendo em conta a situação excepcional com que clubes e jogadores se depararam na preparação física das suas temporadas), o que obviamente teve repercussões nas exibições das equipas. É também natural que, em consequência desse factor, poucas conclusões definitivas se possam retirar destes 10 jogos e da análise daquilo que se desenrolou nos mesmos. Porém, foi possível evidenciar que a questão física agudizou falhas colectivas já existentes em alguns conjuntos, e revelou limitações individuais noutras formações, quer ao nível da gestão do plantel, quer ao nível do próprio estilo de jogo apresentado.

Nada disto invalidou, no entanto, que os pontos de interesse tenham surgido em catadupa.

 

Regresso quente: o “dérbi” de Sevilha

O primeiro jogo da “segunda parte” da competição trouxe-nos um sempre intenso dérbi de Sevilha. No entanto, a intensidade e o equilíbrio ficaram-se pelo papel pois, em campo, o Sevilha foi indiscutivelmente superior, sendo que o 2-0 final representa, acima de tudo, a facilidade com que a equipa de Julen Lopetegui conseguiu conquistar os 3 pontos.

Durante 90 minutos, e num jogo nem sempre bem disputado em termos técnicos, os “rojiblancos” foram criando sucessivas oportunidades de golo (maioritariamente através de Lucas Ocampos, incisivo no 1×1 e com facilidade de remate) e a chegada à vantagem foi-se tornando quase numa inevitabilidade. O Bétis praticamente não levou real perigo à baliza guardada por Tomas Vaclik, tendo apenas ameaçado algo de diferente aquando das entradas de Diego Lainez e sobretudo do veterano Joaquín, que aos 38 anos ainda continua a ser um elemento diferenciado para este patamar competitivo.

Óliver Torres foi orquestrando a circulação de bola da equipa da casa, enquanto Fernando e Diego Carlos se afirmaram como figuras intransponíveis no capítulo defensivo. Nas laterais, Jesús Navas e Sergio Reguilón apresentaram consistência, sendo que a exibição do lateral-esquerdo acabou por atenuar o parco rendimento de Munir, que jogou a partir do flanco esquerdo do ataque mas pouca influência teve no jogo sevilhista. Do lado contrário, Guido Rodríguez e Carles Aleñá foram tentando assumir a construção dos “verdiblancos”, mas esbarraram na falta de dinâmicas colectivas do conjunto às ordens de Rubi, que transforma a posse da equipa em algo estéril e inofensivo. Para o plantel que possui, o Bétis poderia (e deveria) demonstrar um nível de jogo bem mais elevado.

(Foto: metropoles.com)

O suspeito do costume

O FC Barcelona regressou à competição em Maiorca, no terreno de uma equipa que teve em principal evidência um nome bem conhecido dos “blaugrana“: Takefusa Kubo. O criativo japonês, emprestado pelo Real Madrid e com um passado na formação “culé”, foi titular nos maiorquinos e demonstrou-se irreverente e agitador, tendo sido o principal dínamo da sua equipa no plano ofensivo.

No entanto, Kubo e companhia foram incapazes de travar algo que é quase uma verdade inquestionável: quando há Lionel Messi em campo, a probabilidade do Barça vencer o jogo aumenta exponencialmente. 1 golo (de pé direito), duas assistências e mais uma exibição com contornos “messiânicos” levaram a uma vitória fácil (0-4) por parte dos comandados de Quique Setién. O argentino demonstrou que continua a ser o principal diferenciador do campeonato, e as suas combinações com Jordi Alba (belíssimo jogo no corredor esquerdo) foram criando inúmeros lances prometedores e de elevado potencial. Na frente, Martin Braithwaite estreou-se a marcar pelo clube e provou que pode ter utilidade, pela diversidade de dinâmicas e de movimentos sem bola que oferece ao colectivo.

Em sentido oposto, temos Antoine Griezmann, que continua a parecer um “corpo estranho” no 11, raramente se envolvendo na manobra ofensiva. Acima de tudo, o francês terá de se reinventar e voltar a adaptar a um estilo de jogo baseado na posse e num ideal pensado para um ataque organizado e posicional, por oposição ao jogo mais directo e vertical que experienciou durante vários anos, no Atlético Madrid de Diego Simeone. Até ao momento, revela-se como uma aposta falhada do Barça.

(Foto: oglobo.globo.com)

“Novas” caras, mas velhos sinais

A jogar no seu centro de treinos até final da temporada, por conta das obras de remodelação do Santiago Bernabéu, o Real Madrid teve uma forte entrada frente ao Eibar, colocando-se rapidamente em vantagem através de um golo de Toni Kroos e chegando ao intervalo com um confortável 3-0 no marcador, com Sergio Ramos (que está agora a apenas um golo de se tornar o defesa mais goleador na história da “La Liga”) e Marcelo a dilatarem o resultado.

No entanto, o destaque individual do jogo foi o regresso de Eden Hazard à equipa. O belga – contratação milionária dos “merengues” no Verão passado – demonstrou alguns pormenores de qualidade, mas é por demais notória a falta de preparação física que apresenta, mais ainda para um jogador que sempre viveu das suas estonteantes mudanças de velocidade e da velocidade de execução em espaços curtos. A qualidade está lá, mas Hazard tem um longo caminho a percorrer para voltar ao nível que apresentou no Chelsea, por exemplo.

O 3-0 ao intervalo era seguro. Tão seguro que o Real decidiu descansar à sombra desse resultado. O Eibar cresceu na segunda parte, tomou conta do jogo, reduziu a diferença no marcador e poderia mesmo ter “apertado” a equipa treinada por Zinedine Zidane nos momentos finais, com outra eficácia na finalização. 3 meses depois, o Real Madrid demonstra manter algumas das falhas que se arrastam já desde os primeiros jogos da actual temporada.

(Foto: newsakmi.com)

 

A amostra da primeira jornada foi bastante positiva e, com todas as restantes jornadas a serem jogadas no espaço de 5 semanas, prevê-se um final de época escaldante na “La Liga” com as lutas pelo título, lugares europeus e manutenção claramente ainda em aberto. Está de volta o melhor futebol em Espanha.


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