Despedir Peseiro: necessidade imperiosa ou erro estratégico?

José DuarteNovembro 2, 20184min0

Despedir Peseiro: necessidade imperiosa ou erro estratégico?

José DuarteNovembro 2, 20184min0
Má ou boa decisão de Frederico Varandas? Quais serão as consequências de ter despedido Peseiro? Uma leitura à falta de timing da direcção leonina

Comecemos pelo principio: a escolha de José Peseiro para treinador do Sporting foi um rotundo erro. Não tanto pelas suas capacidades como treinador, mas pela ausência de tolerância a que estaria condenado pelo seu historial, particularmente o que ficou escrito na época 2004/05.

A aura de azarado desaconselharia sempre a sua contratação num clube onde a história das últimas décadas está marcada também pelo falta de sorte nos momentos de decisão. Tanto assim é que a rotura nesta mais recente ligação é potenciada por algo que nenhum treinador consegue evitar: os erros individuais. Não fora as falhas clamorosas de André Pinto e não estaríamos agora envolvidos em mais uma crise.

Mas se não fosse agora é muito provável que a crise se estabeleceria mais adiante noutra derrapagem qualquer. Ao contrário das expectativas criadas só por milagre este seria o ano do Sporting.

Os milagres por vezes acontecem, mas para isso é preciso um trabalho competente que manifestamente não foi feito desde o início da época e isso é cada vez mais perceptível à medida que esta avança.

Preparação deficiente, plantel construído às prestações e cheio de fragilidades. Juntar a tudo isto uma comunicação “pateta alegre”, que apontou ao título numa conjuntura altamente desfavorável, só serviu para confundir criar expectativas que nem em momentos de maior estabilidade foram cumpridas.

Todos os ingredientes para uma passagem meteórica de Peseiro estavam na panela, a cedência à pressão dos adeptos fez o resto. A decisão de Frederico Varandas parece ter muito mais a ver com a submissão a essa pressão do que sustentada na racionalidade.

Um estádio vazio e ainda assim cheio de lenços brancos, uma derrota com quase uma segunda equipa de um Estoril de divisão secundária precipitaram a decisão.

Decisão que já se tinha percebido por declarações recentes que já estava tomada. Quer por não ser este um treinador escolhido pela actual direcção quer sobretudo pela paupérrima qualidade das exibições. Não se sabia era o timing em que ocorreria. Um grande sinal de falta de empatia é o facto de não haver aparições publicas de presidente e treinador registadas em imagens.

Ora este timing escolhido (?) tem todos os ingredientes de tragédia à espera de acontecer. Talvez o único treinador que aplacasse a impaciência e irracionalidade da turba fosse Leonardo Jardim. Mas o técnico madeirense tornou-se num peixe demasiado grande para as redes do futebol nacional.

Ao passo que o Sporting, é precisamente a antítese de um clube atractivo para qualquer treinador, excepto, claro está, para os Vercauterens desta vida. Todos eles conhecem o passado recente e as dificuldades que enfrentarão.

Até ao jogo com o GD Chaves o Sporting tem jogos de quatro em quatro dias com Santa Clara fora, 4/11, FC Arsenal fora, 8/11, GD Chaves casa, 11/11. Não há nenhum treinador do mundo que seja capaz de alterar o que quer que seja numa equipa que revela tantas insuficiências colectivas.

Quando surgir algum espaço para treinar e tentar introduzir alterações entre 11/11 e 25/11, o Sporting poderá estar ainda mais longe dos seus rivais do que Peseiro nos deixou.

Frederico Varandas precisará muito mais do que de sabedoria na escolha do novo técnico. Apesar do futebol sofrível de Peseiro, o que será lembrado daqui em diante é que foi despedido a dois pontos da liderança.

Inclusivé por aqueles que pediam a cabeça do treinador desde a data do anúncio da escolha de Sousa Cintra. E por aqueles que, por razões consabidas, contestam o actual presidente desde a comunicação da sua candidatura. Já o culpavam da presença do treinador, culpavam-no de não o despedir vão culpá-lo de o ter feito, bem como da escolha do seu substituto.

Para se compreender inteiramente esta decisão de Frederico Varandas neste timing – que equivale a deitar fora uma espécie de seguro de vida – tem que se perceber o efeito da pressão dos adeptos sobre os órgãos sociais, em particular numa direcção à procura de afirmação num dos piores contextos internos de que tenho memória.


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