O Campeonato Brasileiro de Futebol: o “Brasileirão”

Virgílio NetoAbril 15, 20185min0
Começou hoje um dos melhores campeonatos do Mundo... o Brasileirão! Mas o que há para sabor sobre o Campeonato Brasileiro de Futebol?

Um salto no tempo em algumas décadas para contar um pouco da história do principal campeonato de clubes de futebol do Brasil: o Campeonato Brasileiro, popularmente conhecido como “Brasileirão”. Já tratado em artigos anteriores, os primeiros campeonatos organizados foram estaduais. Tanto é que o “Paulistão” e o “Carioca” (respectivamente campeonatos dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro) têm mais de 110 anos. O do Rio Grande do Sul completou, neste ano de 2018, sua centésima edição.

Na década de 1930 houve torneios de selecções estaduais e era comum o duelo entre combinados regionais. Em 1933, a primeira edição do “Rio-São Paulo”, torneio de clubes que acabou por tornar-se referência nos anos 1950 e fomentador de um campeonato nacional.

Em 1958, durante congresso da Confederação Sul-Americana de Futebol, instituiu-se a Taça Libertadores da América (certame continental de clubes) a partir de 1960, cujos participantes seriam os campeões de cada país em 1959. Na altura, o Brasil era o único que não tinha uma competição nacional. São muitos factores que explicam tal situação até então: as grandes distâncias, a ausência de infra-estrutura de transportes e o alto custo da aviação comercial, por exemplo.

Esforços feitos e em 1959 é instituída a “Taça Brasil”, jogada em uma zona regional na primeira fase, cujos classificados se enfrentavam em fases mais avançadas. Não havia, de facto, um carácter mais nacional no torneio.

Em 1967, com o país já a viver sob um regime político de excepção, sob um discurso nacionalista e de integração, é criado o torneio “Roberto Gomes Pedrosa”, em homenagem a um antigo guarda-redes do São Paulo Futebol Clube e ex-Presidente da Federação Paulista de Futebol. Havia equipas de todo o país, tinha os melhores futebolistas e grandes estádios.

SC Internacional, campeão brasileiro de 1979

Em 1971, muda-se o nome do torneio para “Campeonato Nacional de Clubes”. Anos depois, para “Copa Brasil”. Simultaneamente o governo federal promovia a construção de dezenas de estádios pelo país a fim de conquistar apoio político regional.

Com isso, um crescente “inchaço” de equipas no campeonato: a edição de 1979 chegou a ter 96 participantes. Não, não está errado o que foi escrito. Quase uma centena de clubes! Obviamente o formato da disputa variava ano a ano. Acontecia da seguinte maneira: em 5 meses jogava-se o campeonato estadual. Nos outros 5 ou 6 meses disputava-se o nacional.

CR Flamengo x Fluminense FC, o “Fla-Flu”, um grande clássico do Brasil

A partir do início dos anos 1980, com a extinção da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e criação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), há uma reorganização do “Brasileirão”, que culminou no surgimento, para a época de 1987, do “Clube dos 13” (os treze principais do Brasil), que organizou uma liga chamada “Copa União” (a marca de açúcar “União” era a patrocinadora).

No entanto, por vaidades de dirigentes, mas sobretudo pela polémica em conhecer o campeão de 1987 (tema para outro artigo), a proposta da liga não durou muito e terminou com os clubes a perderem força para organizá-la. Ao mesmo tempo, na CBF era eleito Ricardo Teixeira, desconhecido no meio do futebol do Brasil, mas genro de João Havelange (naqueles tempos ainda estava na presidência da FIFA).

Publicidade da “Copa União”de 1987

Com Teixeira à frente – com o respaldo de Havelange e das principais federações estaduais do Brasil -, o “Brasileirão” foi adquirindo, aos poucos, mudanças na organização e no formato da disputa. Em 2003, pela primeira vez, foi jogado no sistema de pontos corridos, que é o formato actual. Ao longo dos últimos quinze anos percebe-se mais organização e compromisso dos dirigentes com os campeonatos nacionais de clubes. Muito diferente de outrora. 

Com tudo isso, parece difícil entender a organização do futebol do Brasil. Sem justificativas, mas são diversos os interesses das equipas e das realidades por que passam. Conciliar estes interesses é tarefa bem difícil, mas actualmente o “Brasileirão” dura aproximadamente 8 meses e consegue conciliar o calendário com os torneios estaduais (em princípio sem prejudicá-los).

É um campeonato de sucesso e bastante aguardado pelos adeptos de todo o Brasil. Está repleto de grandes clubes do país. Não é risco dizer que todos são grandes. Uns têm uma projeção mais nacional do que outros. Mas há clássicos em todas as jornadas e um campeão tem a obrigação de vencê-los todos. A competitividade é bem alta.

Neste ano está em sua 62ª edição. Pode não ser uma competição tão conhecida internacionalmente, como as ligas inglesa, alemã, espanhola, francesa e portuguesa. No entanto, o adepto brasileiro não está preocupado com isso. O “Brasileirão” é cheio de boas histórias e emoções, bem distintas em relação a outras partes do mundo. E é isso que o torna “exótico”. Sempre no bom sentido, claro. Bom “Brasileirão” a todos!


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