A história e a consequência do polêmico Paulistão 2018

Rafael RibeiroAbril 14, 20187min0

A história e a consequência do polêmico Paulistão 2018

Rafael RibeiroAbril 14, 20187min0
A final do Campeonato Paulista de 2018 relembrou a histórica decisão entre Corinthians e Palmeiras em 1999. Com polêmicas a serem esclarecidas, que consequências o campeonato trará para os times?

Palmeiras e Corinthians fizeram, depois de 19 anos, outra final de um Campeonato Paulista. Com exibições regulares durante o período classificatório, ambos tiveram as maiores pontuações nos 12 jogos que decidiam os playoffs. O Palmeiras com um elenco ainda mais recheado do que no ano anterior, apostando que o título paulista seria o pontapé obrigatório para esta época. Já o Corinthians, mantendo sua espinha dorsal de 2017, sofreu com saídas pontuais sem reposição. Ainda assim, os times reviveriam uma final tumultuada de 1999, mas não se previa que esta de 2018 também traria um embate controverso para esta grande rivalidade.

A campanha alviverde

Com vitória nas primeiras seis partidas da competição, e invicto até a oitava rodada, o time viria a perder pela primeira vez para o próprio Corinthians, por 2×0 fora de casa, com ascensões de importantes jogadores do elenco. Jaílson firmou sua titularidade como guarda-redes da equipe, Lucas Lima deu corpo ao meio campo e apoio a Dudu, e Borja despontava com gols após um fraco ano de 2017.

Mas se engana quem acha que este primeiro confronto já não teve polêmicas. Com um pênalti marcado após 10 segundos do choque (de maneira duvidosa) de Jaílson sobre Renê Júnior, sobraram reclamações dos palmeirenses: “Aqui não tem como jogar. Na dúvida é Corinthians” disse Dudu, sendo complementado por Jaílson: “Passaram a mão de novo na gente aqui”.

No jogo seguinte, mais uma derrota, dessa vez para o São Caetano, e mesmo com um time repleto de reservas, o alerta foi ligado. Foi o suficiente para novas boas apresentações. A fase quartas de final marcou o domínio do time no campeonato: 3 a 0 contra o Novorizontino fora de casa no jogo de ida, e 5 a 0 em casa na volta. A semifinal foi mais acirrada, em clássico contra o Santos, e após uma vitória tranquilizadora fora de casa por 1 a 0, o time foi batido no Allianz Parque por 2 a 1, o que levou o jogo aos pênaltis. Mas o Santos não soube aproveitar as cobranças, e com mais segurança, o Palmeiras estava em mais uma final.

Palmeiras passa fácil pelo Novorizontino nas Quartas de Final (Foto: Djalma Vassao/Gazeta Press)

A caminhada corinthiana

Estreando com derrota para a Ponte Preta, o Corinthians acreditava que poderia ser regular mantendo a maioria do elenco campeão brasileiro em 2017. Com as negociações de Guilherme Arana para o Sevilla e de Jô para o Nagoya Grampus (JAP), o time acreditava que reforços pontuais manteriam a qualidade geral da equipe. Porém, a falta de um centroavante a altura de Jô expôs a principal dificuldade de Carille no início do ano.

O técnico deu chance ao reserva Kazim, e até mesmo a contratação Júnior Dutra, porém ambos sem sucesso, fizeram o técnico quebrar a cabeça, e montar um sistema independente de uma referência no ataque. Romero, Emerson Sheik e até mesmo o veterano Danilo surgiram como “falso 9” em um esquema 4-2-4 que voltava a fazer efeito.

Nas quartas de final, um primeiro susto ao ser dominado na derrota por 3 a 2 para o Bragantino. Mas estes 2 gols mesmo em uma partida fraca do time alvinegro, deram vantagem para o jogo de volta ser decidido na Arena Corinthians. Vitória convincente por 2 a 0 e classificação para enfrentar o São Paulo. No confronto mais equilibrado das finais, derrota fora de casa por 1 a 0, e depois uma vitória conquistada nos últimos minutos (também por 1 a 0) após enfrentar uma grande retranca do rival paulista. Notava-se uma falta de poder ofensivo no Corinthians, compensada pelo volume dos meias e laterais e a disciplina tática característica de Carille. Nos pênaltis, embalado pelo gol no final, o time corintiano passou para a final tentar o bicampeonato.

Rodriguinho, nos minutos finais, comemora gol sobre o São Paulo na semifinal (Foto: Luis Moura/Gazeta Press)

Mais uma final polêmica

A final de 99 contou com muitos ingredientes que fazem parte da história do confronto. No jogo de ida, o Palmeiras mandaria a campo os reservas, já que três dias depois, enfrentaria o Deportivo Cali pela final da Libertadores.

O resultado foi uma derrota por 3 a 0, que foi acalmada pela conquista do título continental. Com os olhos novamente voltados ao Paulista, o jogo de volta foi a chance do Corinthians acabar com a alegria palmeirense. Com o jogo dinâmico e um 2 a 1 no placar para o Palmeiras, Edílson empatou a partida, aos 28 do segundo tempo, dando praticamente o título ao Corinthians. Foi aí que a provocação de Edílson marcou a polêmica da partida. Ao fazer embaixadinhas e malabarismos com a bola, Júnior e Paulo Nunes partiram para uma briga generalizada e a partida não foi nem reiniciada. Corinthians campeão.

Em 2018, um novo capítulo foi adicionado a esta rivalidade. No primeiro jogo, o clima já se mostrou tenso quando, nos acréscimos do primeiro tempo, uma discussão entre Borja e Henrique gerou tumulto. A briga continuou na lateral de campo e acabou com Felipe Melo e Clayson expulsos. Resumo da partida: além dos expulsos, 10 cartões amarelos, 49 faltas e um bom resultado ao Palmeiras, 1 a 0 fora de casa.

Mas não houve refresco na partida decisiva. Logo no começo da partida, Rodriguinho fez o primeiro e empatou o resultado acumulado. A polêmica dessa vez, veio em uma revisão acertada da arbitragem: um pênalti dado ao Palmeiras foi revisto, e o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza voltou atrás na decisão, dando apenas escanteio ao time alviverde.

O problema é que a decisão foi dada após enorme paralisação, já que o 4º árbitro, por suposta falha na comunicação de rádio da arbitragem, foi até o juiz informando que não houve falta: “Pegou primeiro a bola, mas a decisão é sua”.

Depois de muito tumulto por parte de ambos os times, e uma clara falta de confiança na marcação, o juiz deu ouvidos ao assistente e voltou atrás. Foi o suficiente para gerar um enorme incômodo na partida, que foi para os pênaltis. Na decisão, enquanto Fagner errou uma cobrança para o Corinthians, Dudu e Lucas Lima pararam em Cássio. Corinthians campeão.

O arbitro Marcelo Aparecido voltou atrás em marcação de pênalti para o Palmeiras (Foto: Newton Menezes/Futura Press/Folhapress)

A consequência

Dentro de campo, ficou claro que, mesmo com um elenco recheado, o Palmeiras ainda mostra deficiências. Principalmente na defesa, os centrais não passam a confiança e a qualidade do restante do elenco. Se as laterais foram resolvidas com boas contratações (Marcos Rocha na direita e Diogo Barbosa na esquerda), Antônio Carlos e Thiago Martins ainda não mostraram boa performance.

Mesmo com Borja artilheiro do paulista, atacantes como William “Bigode” e Deyverson também precisam mostrar mais serviço, já que somente Keno tem mostrado bom futebol. Já pelo lado corintiano, o título paulista pode ter mascarado a falta de um centroavante  de ofício, ou pelo menos de mais chegada ofensiva. Rodriguinho e a recente contratação ex-Vasco Mateus Vital, são as notícias boas ao torcedor alvinegro, além da sólida defesa comandada por Cássio, Fagner e Balbuena. Apesar de ambos serem candidatos ao título nacional este ano, parecem que precisarão acertar detalhes para confirmarem seus favoritismos.

Fora de campo, a situação ainda não se resolveu. O Palmeiras noticiou rompimento com a Federação Paulista de Futebol, exigiu mudanças no campeonato (como a aplicação do VAR e a gravação da comunicação entre árbitros), publicou vídeo mostrando uma suposta interferência externa da comissão de arbitragem para interferir na marcação de pênalti, exigindo assim a anulação da partida, e ainda ameaçou jogar com time júnior na edição 2019.

Resta saber o que a Federação fará para resolver o imbróglio, que está longe de um término satisfatório.


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