A (aparente?) assintonia entre DGS e Proença

Guilherme CatarinoSetembro 14, 20204min0

A (aparente?) assintonia entre DGS e Proença

Guilherme CatarinoSetembro 14, 20204min0
Está instalada uma possível "guerra" de leitura de protocolos que podem comprometer o acordo entre a Liga de Clubes e a Direcção-Geral de Saúde, que em nada ajuda o desporto português. Os problemas e reflexões apresentados por Guilherme Catarino

Para espanto de muita gente, o encontro entre o Feirense e o Desportivo de Chaves a contar para a primeira jornada da Segunda Liga 2020/21 foi cancelado à última da hora, em pleno relvado, e com todos os intervenientes, em campo e na bancada, organizados e prontos a dar o pontapé de saída num regresso ansiado há muito.

Numa decisão conhecida pelas 20h24 – 24 minutos após a hora prevista para o início da partida – a Liga Portugal decidiu-se pela não realização da partida, após indicação das autoridades médicas da existência de quatro casos positivos no plantel do Desp. Chaves.

Sinteticamente, e para auxílio dos leitores menos atentos, o organismo que rege o futebol profissional português – a Liga Portugal – obriga os clubes a fazerem exames ao novo coronavírus 48 horas antes do jogo pelo que, como consequência, os quatro elementos dos transmontanos infetados teriam de ser imediatamente colocados em isolamento pelo clube. Pelo comunicado emitido pelo Desportivo de Chaves, assim o foram, tendo sido o jogo, na mesma, porém adiado, num ato caracterizado pelo delegado de saúde da Unidade de Saúde Pública (USP) do Alto Tâmega e Barroso, Gustavo Martins-Coelho, como “de defesa da saúde pública”, apesar de respeitadas as devidas normas especialmente decretadas para este período pandémico particular.

Não devem lados para esta história. Por razões várias, mas particularmente obséquias. Falamos de uma pandemia, que, como o seu significado grego indica, é “de todo o povo”, e onde consequentemente, deve regir o ditado popular “todo o cuidado é pouco”. Contudo, apesar de ter sido tomado (aparentemente) todo esse cuidado, da parte do clube flaviense, as autoridades optaram pela não realização do jogo. Mas qual será o desfecho desta novela? Será adiado, suspenso ou haverá alguma equipa penalizada com perda de pontos? Uma coisa é certa: colocou todo o futebol profissional em Portugal em alerta e, supra, em risco, tendo mesmo lançado uma série de troca de comunicados entre a Liga de Clubes e as instituições de saúde nacionais, com Sónia Carneiro (diretora da Liga) a referir,

“Não podemos ter uma decisão no concelho do Porto, uma distinta no concelho de Lisboa, outra em Viseu e outra em Chaves. O futebol profissional é um todo e o que queremos é a aplicação daquilo que já está na norma. A norma 36 da DGS que foi publicada em julho diz expressamente que a identificação de caso positivo não torna obrigatório o isolamento coletivo da equipa. Foi com base neste pressuposto que fizemos o nosso plano e definimos a estratégia de testagem. O futebol profissional deu aqui um exemplo, no ano passado, e está a dar agora: nós estamos a testar todos os elementos dos plantéis, antes do início da competição. Temos aqui um plano de testes precisamente para conseguirmos controlar qualquer tipo de surto. Aparecem dois, três casos positivos, isolamos e conseguimos controlar qualquer tipo de contágio que possa existir dentro daquela equipa.”

O Académico de Viseu vs Académica de Coimbra acabou adiado – estranha, mas igualmente – pela presença e não aparente preocupação de casos positivos nos viseenses, e para a semana o jogo entre Gil Vicente e Sporting (pelo menos…) não se deverá realizar pela infecção de mais de uma dezena de jogadores da equipa principal gilista.

A verdade é que não é a primeira vez, desde o início da atualidade pandémica, que as autoridades médicas aparecem com elevado grau de exigência perante os clubes de futebol. Repito, pela importância da situação, que a uma preocupação global deve corresponder proporcional tratamento preventivo, nunca negarei tal dado. Porém a cultura desportiva é necessária e fulcral, como sabemos, no nosso país, e havendo lugar a eventos políticos – tanto comícios como a tão questionada Festa do Avante organizada pelo PCP – ou até de outros setores culturais – touradas – porque não ir “simpatizando” um pouco mais com o futebol?

O líder máximo da Liga Portugal e conhecido ex-árbitro profissional Pedro Proença tem exaltado por tal equidade, ao correlacionar o futebol e as atividades equivalentes, em diversos espetros como a presença de público nas bancadas, a realização habitual das partidas profissionais, ou a continuação dos campeonatos amadores, e consequentes escalões jovens. Tratar-se-á de uma mera convicção, é certo, porém com elevado grau, na nossa opinião, de racionalidade e materialização. Apesar disso, tais convicções aparentam ser (em certa medida) desvanecidas de importância pela porta-voz da saúde pública portuguesa, Graça Freitas, que vai, contudo, garantindo aos portugueses que o regresso à normalidade do futebol português está a ser analisado e ponderado…

Portugal necessita do seu desporto-rei em ação, e das devidas entidades – desportivas e sanitárias – na máxima força e, acima de tudo, em sintonia, para que o regresso da modalidade ocorra da melhor e mais eficiente maneira possível.


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