Jorge Sousa e o “peixe que morre pela boca”

Fair PlayAgosto 22, 20176min0
Um caso estranho no futebol português que promete levantar várias questões à arbitragem, Liga, Federação e Clubes em Portugal. Jorge Sousa, que futuro?

Nova polémica instalada no futebol português, com o árbitro internacional Jorge Sousa metido ao “barulho”. Que consequências vai sofrer o juiz de jogo, após a reacção menos “normal” no Sporting CP “B”- Real SC da 3ª ronda da Liga Ledman Pro? E quais os problemas e soluções que a Comissão de arbitragem e a Liga pode apresentar? Uma situação extraordinária ou algo que poderá ser mais recorrente nos campeonatos de futebol em Portugal? Questões para reflectir depois do insólito acontecimento.


Pela boca morre o peixe. Que é como quem diz… quem fala demais, acaba por expor-se demasiado e arcar com as consequências dessa acção. Mas antes de mais, caríssimo leitor, com a sua devida licença: no mundo do futebol, quem é que nunca soltou uns “palavrões”? Quase toda a gente. Num desporto onde as emoções estão à flor da pele, o descontrolo emocional acontece, “ligado” ao calor do jogo.

Ponto prévio: Jorge Sousa agiu mal, sim e poderá até ser castigado pelo sucedido, mas não será caso para “crucificar” o referido árbitro.

Jorge Sousa acabou por deixar-se levar pelas emoções no encontro entre o Real Sport Club e o Sporting B, do passado fim-de-semana. Realmente, Jorge Sousa dirigiu-se de forma agressiva a Stojkovic e por azar, as câmaras da SportTV acabaram por captar o momento, de modo bem audível, que até já mereceram reacção por parte do Sporting.

“A Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD repudia as palavras usadas pelo árbitro Jorge Sousa (…) Este tipo de linguagem não deve ser usada no futebol, ainda para mais por quem tem a responsabilidade de fazer cumprir e respeitar as leis do jogo, não contribuindo de forma alguma para a credibilização e dignificação do desporto mundial e do futebol português em particular. Estas palavras assumem gravidade ainda maior por terem sido proferidas por um árbitro de referência do futebol português, com uma vasta experiência, e que tem a categoria de internacional por ser titular de insígnias da FIFA, razões que lhe exigem contenção e atenção redobradas”, referiu o clube em comunicado.

De facto, não foi um episódio bonito de se ver, mas a situação não deve ser levada ao extremo a fim de “crucificar” um dos árbitros mais cotados em Portugal, por um descontrolo emocional que entende-se quando se fala em futebol. Esclareça-se que muitos árbitros sentem o jogo como os jogadores e podem muito bem proferir palavras menos próprias. A diferença é que neste caso, foi perceptível a todos as palavras do árbitro, com o caso a ganhar mediatismo e a gerar polémica, pois na memória recente do futebol português, nunca vislumbrou-se semelhante episódio.

Palavras de Jorge Sousa estão a dar que falar. (Foto: Fernando Ferreira)

Os árbitros estão sujeitos a grande pressão e sentem-na, não vale a pena mentir sobre esse facto. Mas, o que se pode dizer, no mínimo, é que estas palavras captadas pela transmissão da SportTV, só irão agravar a crise da arbitragem em Portugal. De facto, a abordagem mais “rude” de Jorge Sousa, revelou a falta de autoridade dos árbitros em Portugal. Numa tentativa de impor-se, o árbitro “galgou” os limites do bom senso e ética profissional que lhe é exigida, colocando-se numa frágil posição.

Afinal, se Jorge Sousa tivesse o domínio do jogo e o respeito dos jogadores, não seria necessário a utilização das rudes palavras. Este episódio pode enfraquecer ainda mais a credibilidade da arbitragem, sendo mais um motivo de “chacota” que machuca ainda mais a classe, que como se sabe, sempre foi um dos “sacos de pancada” do futebol português.

Outra coisa é o que o guarda-redes leonino deverá ter dito ou feito para desencadear uma reação abrupta de Jorge Sousa, que é retratado por colegas e ex-colegas como uma pessoa calma e ponderada. Deve sim existir uma investigação séria e transparente, para perceber o que realmente se passou e originou a situação.

Telefonema é mesmo verdade?

Mais a frio, no conforto do seu lar, Jorge Sousa apercebeu-se entretanto de tudo o que se falava (altura em que o comunicado oficial dos leões já tinha sido emitido), tendo tomado a iniciativa de contactar Luís Martins, técnico principal do Sporting B, informação avançada pelo jornal digital “O Observador”. Segundo a publicação, na conversa, o árbitro internacional terá abordado o lance em causa (e não só), tentando justificar o porquê de tal atitude mas sem pedir desculpas.

A história não foi para já confirmada. Em caso positivo, a situação não assentará bem a Jorge Sousa, uma vez que dirigir-se não oficialmente a um treinador pode levantar ainda mais questões em relação ao seu profissionalismo e seriedade. Em caso negativo, questiona-se o porquê da campanha para ainda tentar descredibilizar o juiz de jogo.

Reflexão de estado de espírito?

Este episódio pode ainda ser a simples reflexão do estado anímico de Jorge Sousa. Ao que parece, o árbitro poderá estar um pouco em baixo. Seja por problemas pessoais, ou mesmo profissionais – alguns árbitros estão descontentes com a liga – Jorge Sousa poderá ter “explodido” emocionalmente. Outro facto, é a possível falta de padrões de segurança para proteger a classe, bem como a preparação mental dos árbitros para encarar os jogos, que pode estar a falhar.

Que consequências?

Para já, fala-se numa possível suspensão de Jorge Sousa, que pode chegar aos cinco jogos. Depois de ter analisado o caso, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol entende haver motivos para castigo, baseando-se no artigo 198 do Regulamento Disciplinar, que diz que os “árbitros que se dirijam de forma menos correta e educada” podem ser punidos de um a cinco jogos de suspensão.

O caso será agora analisado pela Comissão de Instrutores da Liga, que vai determinar se há ou não motivo para a abertura de um sumaríssimo, que pode levar ao castigo do árbitro português.

Resumindo, ai está a mais recente polémica do futebol português e a época ainda agora começou. É caso para dizer: não percam os próximos capítulos, porque nós também não…


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