“Cromos” à Argentina: Navarro Montoya e Carlos Bossio

Pedro PereiraJaneiro 13, 20204min0

“Cromos” à Argentina: Navarro Montoya e Carlos Bossio

Pedro PereiraJaneiro 13, 20204min0
Um quase acabava no Barcelona de Cruyff enquanto outro foi o primeiro a estabelecer um feito histórico no campeonato argentino. Duas histórias de Navarro Montoya e Carlos Bossio no Fair Play

Dois guarda-redes que tiveram momentos inesquecíveis no futebol argentino e que agora são relembrados pela Caderneta dos Cromos… Carlos Bossio e Navarro Montoya (vale a pena pesquisarem um pouco sobre este guardião)!

NAVARRO MONTOYA E UMA CARREIRA QUE PODIA TER SIDO DIFERENTE

Navarro Montoya está na vitrine dos inconfundíveis. Melhor: daqueles que fizeram de tudo para não se confundir com os outros. Foi dos primeiros a jogar fora da sombra da trave, por isso chegava tão rapidamente para fazer a mancha. Jogava bem com os pés. E claro, a irreverência na vestimenta dentro de campo (reparem na camisola de jogo neste cromo que está na foto de destaque). Chamativo, irreverente, anormativo. Como eu gosto.

Quando lhe perguntam porque é que nunca chegou a um grande clube, ele responde categoricamente “joguei nove anos no Boca. O Boca é a universidade do futebol.” Infelizmente, nunca jogou uma competição internacional de relevo e, diz ele, que talvez por isso nunca tenha sido considerado o melhor guarda redes do mundo. Nasceu em Medellin e no início da sua carreira representou a Colômbia o que o impossibilitou de representar a Argentina, país que ele pediu à FIFA para representar em competições internacionais mas que só em 1998 foi deferido, altura em que Montoya já tinha 32 anos e não estava no seu auge e, por isso, não justificava convocação. Montoya tem o título de portero com mais minutos sem sofrer golos pelo Boca Juniors para a Liga Argentina, 672 para ser mais preciso.

Conta ele em entrevista que esteve muito perto de reforçar o Barcelona de Cruyff. Seduzido por terras espanholas, aventura-se por lá em 1997, assinando pelo Extremadura. Em Espanha jogou ainda no Mérida e no Tenerife. Desceu de divisão nos três clubes. Acabaria por se reformar em 2009, representando o Tacuarembó.

CARLOS BOSSIO E UMA CABEÇADA HISTÓRICA

Em 1996, Bossio jogava pelos Estudiantes de la Plata. Num jogo a contar para o Campeonato argentino, os Estudiantes tentavam reverter uma série de maus resultados, enfrentando o Racing Club. Até aos 89 minutos de jogo, o Racing vencia por 1-0. Com um livre na esquerda e o jogo a terminar, Bossio decidiu subir à área do Racing. As bancadas entusiasmaram-se até porque normalmente é uma decisão imprevisível, por impulso. E quem é que não gosta de imprevisibilidade num jogo? Só o treinador é que pode não gostar. Não no caso do treinador Daniel Cordoba, o treinador dos Estudiantes. E esta jogada estava poeticamente definida, como tão bem nos ensinam os nossos amigos sul americanos.

Dois dias antes daquele jogo (antes, repito), o professor Cordoba foi convidado a dar uma entrevista ao jornal argentino El Grafico e disse o seguinte: “Todos devem ter a ilusion de fazer golo, até o guarda redes. Nós começamos a jogar futebol para quê? Para cortar bolas e chutar a bola para longe? Não! Nós começamos a jogar porque queremos fazer golo. E eu tenho que trabalhar para isso: para garantir que o golo da equipa seja de todos. O jogador que triunfa é o que se emociona. Depois há que transmitir a emoção para todos. Aí está o nosso triunfo.” O jornalista rebate e diz que o guarda redes não pode estar sempre a pensar em fazer golo. Córdoba não se desmancha:

“é verdade, mas tem uma variável a mais. Ou acham mesmo que o guarda redes é o tolo do filme? Não. Ele tem que ter a ilusão de marcar um golo. O treinador tem de os convencer que eles podem ter que, em algum momento, cabecear ou marcar um livre. Eu digo isso ao Bossio e nós treinamos isso. Cabeceamentos, remates de longe, livres. É necessário oferecer-lhe a possibilidade de ser o grande protagonista. Nesse estado de golo, ele esquece-se do dinheiro, do rival e até mesmo das pessoas. Mas para alcançar essa convicção, tens de trabalhar.”

Prolepse. Bossio na área do Racing. Bola metida no centro da área e Bossio faz o golo do empate. O primeiro golo de cabeça de um guarda redes na história do campeonato argentino. Fez-se história naquele momento. Mas a filosofia do professor Cordoba…. essa meus amigos, é o ouro desta história.


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