“Cromos” Técnicos especiais: Beckenbauer, Bilardo e Artur Jorge

Pedro PereiraAgosto 30, 20196min0

“Cromos” Técnicos especiais: Beckenbauer, Bilardo e Artur Jorge

Pedro PereiraAgosto 30, 20196min0
Três treinadores que merecem a menção honrosa de constar na Caderneta dos Cromos com o português Artur Jorge a constar nesta lista! Descobre o porquê e as suas histórias!!

O GÉNIO DE BECKENBAUR COM UM TOQUE DE DESTINO… DE OLAF!

Em 1990, a Alemanha venceu a Inglaterra por penaltis em jogo de meia final do Campeonato do Mundo. Durante os 90 minutos, as duas equipas não fizeram mais do que um 1-1 com golos de Brehme e Lineker. No prolongamento, regista-se o amarelo ao querido Gascoigne que o atirava assim para as bancadas da final caso a Inglaterra passasse este embate com a Alemanha Ocidental. Gazza levou o amarelo aos 99 minutos e jogou com as lágrimas a caírem-lhe do rosto até ao final dos 120 minutos. Seguiam-se os penaltis. Bobby Robson, seleccionador inglês, decidiu não colocar o craque inglês a bater os primeiros 5 penaltis por achar que ele não estava suficientemente estável para um momento de tamanha importância. Já do outro lado, Beckenbauer, treinador alemão, decidiu os 5 batedores de penaltis e mais: decidiu para onde eles iriam chutar.

Dirigiu-se a cada um dos seus batedores de penaltis e disse-lhes se iriam chutar para a esquerda, direita ou centro. Ou conhecia em detalhe o veterano Peter Shildon ou quis tirar a pressão dos ombros dos seus jogadores. Ou as duas 😉 a verdade é que Beckenbauer sabia exactamente o que fazer caso a ‘lotaria” de penalties surgisse. Beckenbauer disse uma vez que se tivesse que marcar um penalty às três da manhã e tivesse que chamar alguém, chamaria Olaf Thon porque tinha a certeza que Olaf diria “ok, vou agora” e não falharia. Foi o que aconteceu.

Olaf Thon foi o quarto e último marcador de penalty da Alemanha naquela noite e permitiu aos germânicos seguirem para a final que se disputaria em Roma contra a Argentina. A Alemanha acabaria por vencer os argentinos que chegaram à final da competição com 5 golos apenas, a equipa finalista com menos golos marcados na história dos Campeonatos do Mundo.

ARTUR JORGE E UMA SENSIBILIDADE DIFERENTE …

Prova disso é o seu vasto currículo como treinador. Uma das grandes experiências da sua carreira como treinador foi quando assumiu o comando da Seleção de Portugal. Artur Jorge passou pela seleção no ano de 1990 e tinha a missão de se qualificar para o Campeonato Europeu de 1992. Nesse Road to Euro, enfrentou a poderosa Holanda, campeã europeia em título, daquelas equipas que metia medo só de ler o line up. Van Breukelen, guarda redes do PSV de má memória para o Benfica, Frank de Boer a comandar a defesa, e um ataque de fazer tremer as pernas com Bergkamp, Ruud Gullit, Marco Van Basten eram alguns dos nomes desta equipa. Do lado de Portugal, Silvino Louro na baliza, Veloso e João Pinto para não deixar ninguém passar frio, Oceano Cruz estranhamente na defesa Vítor Paneira, Águas e Jorge Cadete na frente.

Com um Estádio das Antas carregado de água oferecia pelo São Pedro, os tugas tinham que encher o peito de ar, fechar os olhos e seguir para a guerra. Astuto e conhecedor dos meandros do jogo, Artur Jorge tinha a sua estratégia bem delineada. Sem bola de cristal mas com poderes de adivinho, Artur Jorge deu aos seus jogadores antes do jogo um Raio X daquilo que se passaria,

“Vamos sofrer que estes gajos são fortes, são os campeões da Europa e podem ser campeões do mundo porque esta equipa é a melhor do mundo”,

O Veloso (1m78cm) e o Oceano jogam a centrais (1m75cm) a marcar três cromos altíssimos (tranquilamente mais 25 cm que os seus marcadores) e poderosos fisicamente. Ele sabia que, para ganhar, havia que sofrer.

E sofrer com os jogadores com o perfil certo para sofrer contra aqueles jogadores holandeses. “Vamos sofrer, vamos ter uma ou duas oportunidades e as oportunidades vão ser criadas aqui pelo lado direito, com o Rui Águas a aparecer e a cabecear. Se fizermos golos nessas oportunidades, ganhamos o jogo”. Portugal ganhou 1-0 com golo de Rui Águas de cabeça a cruzamento de Vítor Paneira do lado direito.

CARLOS BILLARDO, O HOMEM ANTI-ERRO

Jogador, treinador, médico. Um homem que nasceu, cresceu, formou-se e viveu o jogo na sua plenitude. “A única coisa que importa é ganhar”, dizia ele. No início da sua carreira, era recorrente Billardo obrigar os seus defesas a levar alfinetes para perturbar os marcadores diretos.

Tinha pouco cuidado com o adversário, via o jogo com uma guerra. É o autor intelectual da máxima “o fair play é uma tetra”. Centro campista de muita qualidade, venceu 3 Copa Libertadores e um campeonato internacional contra o Manchester United pelos Estudiantes de la Plata. Como treinador venceu o Campeonato do Mundo pela Argentina em 1986. Mas já lá vamos. Era um perfeccionista, um trabalhador, um obcecado. Como médico, só chumbou a farmacologia.

Dizia que “no domingo que não leio, fico para trás”. Mas em 1976 deixou a medicina de lado. Queria os 365 dias da sua vida destinados ao futebol. A obsessão e perfeccionismo continuaram. Do adversário queria saber tudo: o que comiam antes do jogo, situação matrimonial, o que os irritava no dia dia. Era um louco que não via limites desde que o resultado fosse a vitoria. No jogo da Argentina contra Inglaterra de 86, as camisolas foram feitas por ele. Dias antes reparou que as estampas (número, patrocínio e bandas) eram muito pesadas. Decidiu comprar tecido mais leve para substituir o material e pediu as costureiras do hotel para realizar a obra.

Os números das camisolas foram lantejoulas que ele encontrou no hotel. Para o México levou jogadores que a maioria dos argentinos não compreendiam como estavam lá. Implementou um revolucionário 3-5-2. Antes do campeonato, os media já o crucificavam. Diziam que o louco tinha assinado o seu próprio atestado de loucura. No dia 29 de Junho, foi campeão do Mundo. Fez história e calou tudo e todos.

Venceu por 3-2 a poderosa Alemanha. Mas não ficou com a medalha de campeão. Porquê? No meio dos festejos, com a equipa em êxtase, estava Bilardo no canto do balneário irritadíssimo. Quando questionado sobre o seu mau estar, ele responde: “C******, como é que sofremos dois golos de canto?”. Para Bilardo, o erro não faz parte do seu dicionário.

A ciência de Bilardo (Foto: 442)

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