Seis Nações 2018 – O fim da linha para a Itália ou o início de algo novo?

Francisco IsaacJaneiro 21, 20188min0
Mais uma análise a um dos participantes das Seis Nações...desta vez à destemida selecção transalpina. É este o fim da linha para a Itália?

Itália… completam-se 18 anos desde a entrada dos transalpinos na alta roda do rugby Europeu, que iniciou-se no virar do século. Os Azzurri enfrentam uma situação muito delicada, problemática e que poderá pôr em xeque a sua manutenção nas Seis Nações. Muito se fala da Geórgia, que muitos argumentam que é altura de colocá-los na Tier1 nem que seja durante um ano de forma a dar oportunidade a um país que tem evoluído.

Mas isto significa retirar a Itália deste círculo fechado (engana-se o leitor que pensa que a World Rugby tem uma palavra a dizer sobre quem participa, modelos ou outros assuntos, pois não tem, por mais que Pichot tente), algo que não deverá acontecer… para já.

Mas os italianos ainda são uma selecção para se apostar? Ou já perderam o “comboio” e caminham para um top mundial inferior… será que Fiji, Geórgia, Samoa são superiores? Ou isto é uma fase de mudança e de encontrar uma nova direcção não só em termos de resultados, mas de forma de jogar e de esquema de jogo?

Façamos uma análise à actualidade da selecção italiana, desde os seus pontos-forte, os homens decisivos e os novos princípios de jogo.

A FILOSOFIA O’SHEAIANA E O RECOMEÇO PARA A ITÁLIA?

Quem é Conor O’Shea? É um treinador irlandês que em 2017 pôs em prática uma solução defensiva que irritou e confundiu a Inglaterra durante largos períodos de tempo. O desespero foi contagiante, com James Haskell a questionar o juiz de jogo “O que é que podemos fazer para contrariar?”… Eddie Jones achou engraçada a estratégia de O’Shea e falou tanto do assunto que passado uns 7 meses a regra do ruck foi alterada, para que estratégias como aquela nunca mais surgissem.

Mas O’Shea demonstrou nesse encontro criatividade, criando um cenário caótico e anárquico que trouxe problemas para um top-contender mundial. Mas há algo mais? Olhando para o registo de 2017, os italianos somaram uma série de derrotas durante tanto os internacionais de Verão e Inverno, registando-se uma boa vitória contra as Fiji apenas.

Em 11 jogos no ano transacto, os italianos só conquistaram uma vitória algo no mínimo complicado para os transalpinos e O’Shea. Contudo, os resultados podem ter ficado aquém, mas já houve melhorias significativas em alguns pontos do jogo italiano: breakdown mais esclarecedor com uma disputa aguerrida e bem trabalhada; desenvolvimento de fases e manutenção das mesmas por maiores períodos de tempo; e comunicação entre avançados e 3/4’s está dois níveis acima do que estava em 2015 por exemplo.

O grande desafio de O’Shea é conseguir construir um grupo sólido, motivado e sem grandes mexidas nos próximos anos, é a única forma de garantir que as bases do trabalho sejam inabaláveis e resistentes ao choque de derrotas ou erros de jogo. Isto é possível?

As mudanças no rugby italiano em termos de franquias e liga estão a favorecer um novo período mais positivo que O’Shea deve colher bons “frutos” não nesta época mas em 2019 em ano de mundial.

De qualquer forma, a Itália deverá apresentar outra qualidade nos jogos das Seis Nações e há alguns jogadores a tomar cuidado com.

IL CAPITANO DELLA SQUADRA… SERGIO PARISSE

É o líder perfeito que quase todos gostariam de ter na equipa, um autêntico “mamarracho” no caminho daqueles que tentam ultrapassa-lo. O internacional italiano (nascido na Argentina) já tem 129 internacionalizações na “mala” e deve estar a apontar para as 140 até ao final da carreira. De espantar que o nº8 tem 34 anos e bem pode ir mais além, algo que pode ser positivo (e, também, negativo) para o futuro da Selecção italiana.

Parisse tem aquela chama que faz falta em campo, é um lutador minucioso, intenso, que se entrega por completo ao jogo e à sua equipa. A comunicação, liderança e poderio físico são três armas que o 3ª linha mete em prática em todos os jogos, notando-se especialmente nos momentos a “doer” ou nos jogos mais especiais, como contra a França.

O que há mais para revelar do jogo do 8? Excelência individual. Muitas vezes Parisse sobressai-se aos olhos do público, porque a sua dimensão é total e, também, porque há uma diferença qualitativa grande em relação aos seus colegas. Tanto sabe quebrar a linha e tirar um defesa da frente, como sabe pontapear a oval e persegui-la em velocidade máxima. A nível táctico é um dos melhores jogadores a nível europeu nesse sentido, irrepreensível e exigente.

Contudo, há algumas questões… faltam mais jogadores como Parisse na selecção e a longevidade do capitão pode ser um problema quando chegar o momento do seu abandono. Faltam referências sólidas aos italianos, de forma a dar outra magnitude não só ao seu jogo, mas também ao seu estado mental enquanto equipa.

Sergio Parisse no 1º ensaio contra a França

CAÇAR COM CANNA E COM UM TOQUE (DE) GORI

O par de médios pode alterar por completo um jogo correcto? Seja Aaron Smith-Beauden Barrett, Ginea-Foley, Murray-Sexton, há que existir não só uma harmonia mas uma sintonia para conseguir sair a jogar em alta velocidade. A Itália tem uma dupla de extrema qualidade e que só precisa de tempo (mais um ano) para meter o jogo dos transalpinos a andar para a frente.

Edoardo Gori-Carlo Canna é a dupla a respeitar e a tomar em atenção! Canna tem um jogo ao pé de alto nível, não ficando muito atrás dos grandes nomes a nível europeu já que nas Seis Nações 2017 transformou 6 dos 7 pontapés dispostos (a Itália teve um dos piores rácios de ensaios dos últimos 8 anos), colocando bastante pressão através do jogo ao pé. No jogo com a Inglaterra, o abertura do Zebre, bombeou a bola de forma que Mike Brown ou Jonny May tivessem grandes dificuldades em não só capta-la mas de também escapar em condições.

Falta talvez arriscar mais com a bola nas mãos e de entrar na linha de vantagem… algo que Edoardo Gori faz bastante bem. O formação do Benetton é um jogador excitante, enérgico e irritante ao bom gosto da melhor “escola de formações” a nível mundial. Agressivo na placagem e autoritário, Gori é um bom comandante (e porque não ser ele um dos futuros líderes dos transalpinos?)  e dá outra cor ao ataque italiano.

A dupla pode ser um dos segredos para a mudança de realidades desta Itália de O’Shea… mas há surpresas nesta selecção?

ÓPERA DE SARTO E SINFONIA DE PADOVANI

Por fim, escolhemos dois nomes que têm de ser os representantes de uma nova era para o futuro do rugby italiano… Leonardo Sarto e Edoardo Padovani. Estes dois são nomes de “pratos principais” para a selecção italiana. Se Leonardo Sarto, dos Glasgow Warriors, falhou a prova em 2017 devido a uma luxação no ombro, já Padovani foi sempre titular com um toque de genialidade em alguns momentos dos jogos de 2017.

Mas vamos a Sarto primeiro… super veloz e com uma explosão bombástica, o ponta consegue encontrar frechas na defesa para tentar seguir imparável até à linha de ensaio. É um jogador completamente diferente, que precisa só de um pouco de sorte para chegar a patamares mais altos. Em 34 internacionalizações pela Itália, o ponta está a dois ensaios de atingir a meta dos dez e as Seis Nações em 2018 podem ser o melhor evento para tal.

Padovani, atleta do RC Toulon, é um jogador multifacetado, que tanto sabe jogar ao pé, como virar e atacar a linha, arriscando num rasgo individual que pode dar outros contornos ao jogo italiano.

Acelera como ninguém, tem noção das exigências de jogar no três de trás e consegue dar outra qualidade ao jogo atacante italiano a partir da posição de 15. Falta-lhe só ter um ataque mais consistente, criativo e arriscado.

A PREVISÃO DO FAIR PLAY

A Itália vai ter dois jogos especiais em casa, um a começar contra a Inglaterra e o outro a acabar, a Escócia. Ou seja, a Itália pode criar já problemas no início da competição a ao bicampeão das Seis Nações. Mas, pelo meio vão à Irlanda (10 de Fevereiro), França (Giuseppe Garibaldi Cup a 23 de Feveiro) e terminam as viagens como uma ida até ao País de Gales (11 de Março).

A Itália deverá terminar em último do grupo, mas com um rácio de ensaios marcados e sofrido mais positivo em comparação com a temporada passada. O jogo com a França poderá ser a melhor oportunidade para obter uma vitória.

MVP DA ITÁLIA: Sergio Parisse (Stade Français)
MELHOR AVANÇADO: Sergio Parisse (Stade Français)
MELHOR 3/4’S: Edoardo Padovani (RC Toulon)
SURPRESA: Giovanni Licata (Fiamme Oro)
XV TITULAR (PROVÁVEL): Andrea Lovotti, Luca Bigi, Simone Ferrarri, Marco Fuser, George Biagi, Giovanni Licata, Braam Steyn, Sergio Parisse, Edoardo Gori, Carlo Canna, Leonardo Sarto, Luke Mclean, Tommaso Benvenuti, Giovanbattista Venditti e Edoardo Padovani

O Melhor jogo da Itália nas Seis Nações 2017


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