Vasco Ribeiro, “Temos tudo para projectar Portugal para o topo”
No “reino” da Tapada, mora uma nova geração de jogadores de qualidade. Vasco Ribeiro, centro da Selecção Nacional, chegou aos Sevens World Series com apenas 17/18 anos. Como, quais foram os sacrifícios e qual é a sua vontade diária de trabalhar? Uma entrevista do Fair Play
: Vasco Ribeiro, um dos atletas mais jovens de sempre a marcar presença nos World Series… o que é sentiste na altura quando foste chamado aos treinos pela primeira vez?
VR: Antes de mais muito obrigado. A primeira vez que fui chamado para os treinos de sevens foi no fim de época de 2014/15, depois do Junior World Trophy. Foi uma grande alegria, pois iria ter hipótese de treinar com todos aqueles jogadores que, desde pequeno, admiro e vejo jogar na televisão contra os melhores do mundo.
: Como foi o teu processo de crescimento até este ponto? Houve alguém importante na tua aprendizagem?
VR: Comecei a jogar na Agronomia, nos sub-8, onde aprendi o que era o rugby e ganhei o gosto ao desporto. Com o passar do tempo, fui sendo integrado nas selecções regionais e depois nacionais.
Fui tendo hipótese de ser testado contra os melhores, a nível nacional e internacional, e não há dúvida que é contra os melhores que se aprende e a jogar num nível superior que se evolui.
Grande parte do meu desenvolvimento deve-se a todos os treinadores que tive na Agronomia e na Selecção, (felizmente foram muitos), cada um à sua maneira, tiveram um papel muito importante. Acho que todas as pessoas que conheci no rugby me ajudaram, de certo modo, e todas as amizades que criei foram importantíssimas.
Não posso deixar de referir que, muito devo aos meus pais que estão sempre a apoiar-me e não deixam que me falte nada.

: Fazes parte de uma geração que está a tentar “revolucionar” a AIS Agronomia. Como tem sido a nova temporada?
VR: Tem sido muito boa! Começámos bem a ganhar logo uma taça ao campeão Direito. Temos uma equipa jovem mas, ao mesmo tempo, liderada por uma geração mais velha que dá muita maturidade à equipa. Estamos motivados, com bom espírito e todos queremos que, este, seja um ano especial!
: O que é que te fez ir para o rugby?
VR: Quem me fez ir para o rugby foi o meu tio Caetano, que era treinador na Agronomia, e fez com que os meus pais me inscrevessem, para experimentar. Até porque o meu primo também já treinava lá. Depois nunca mais saí.
: A Agronomia é a tua “segunda família”, correcto? Há algo de especial nos “ares” da Tapada?
VR: Sim, a Agronomia é o meu clube do coração. Desde os 7 anos que jogo lá e é onde me sinto bem! A tapada é, de facto, um espaço especial de que muito nos orgulhamos! É como uma segunda casa, onde criei grandes amizades e tenho pessoas de que gosto muito!
: Estiveste envolvido em vários torneios da Associação Rugby do Sul, correcto? Achas importante o trabalho da ARS para o rugby português?
VR: Certo. Acho que é muito importante e falo por experiência própria. É o primeiro contacto com as selecções regionais, com jogadores de outros clubes e onde se começa a criar um compromisso com o rugby. É importante para desenvolver as bases desde novos.
: Dos torneios de sub-12/14 passaste para as selecções regionais e depois nacionais. Nas tuas diversas representações por Portugal, qual é a tua memória mais antiga?
VR: É o meu primeiro jogo oficial por Portugal, nos sub-18. Foi no campeonato de europa elite contra Inglaterra. Foi uma boa experiência, o meu primeiro contacto numa competição destas, com grandes Selecções. Deu para ver que eles estão noutra realidade, já altamente profissionais desde cedo e muitos deles agora a jogar nos principais clubes da Premiership.
: Estiveste no Campeonato do Mundo “B” de sub-20 e marcaste presença em outros torneios. Sentiste uma grande diferença entre equipas como as Fiji ou Geórgia para Portugal?
VR: Não senti uma grande diferença. A maior diferença era a parte física. Acho que estávamos bem preparados e fizemos bons jogos. Penso que respeitámos demais essas selecções mas acabámos por perder esses jogos em pequenos erros, que se pagam caro a este nível. Não tenho dúvida que nos podemos bater com qualquer equipa do Campeonato do Mundo “B” sub-20.
: Na tua estreia pela Selecção de XV conseguiste logo um ensaio… qual foi a tua reacção quando te apercebeste desse feito?
VR: É um grande orgulho! Desde sempre que sonho jogar por Portugal e se já é especial a estreia pela Selecção de XV, com um ensaio ainda mais fica.
: Tens o objectivo de sair para fora de Portugal? Para que país ou Hemisfério é que gostavas de tentar ir?
VR: Gostava muito. Neste momento, como já “perdi” um ano, a nível académico, ao estar no circuito mundial, agora estou concentrado em acabar o curso e ainda não pensei muito nesse assunto, para ser sincero. Mas, sem dúvida, gostava de experimentar ir para fora, Nova Zelândia seria o melhor.

: Costumas acompanhar rugby internacional? Há algum clube/jogador que capte a tua atenção?
VR: Gosto de ver rugby, gosto especialmente de ver os All Blacks jogar. Neste momento, o jogador que mais me capta a atenção é o Beauden Barrett (All Black).
: Como centro és mais virado para a placagem e recuperação de bola ou és mais vocacionado para o ataque?
VR: Gosto de pensar em mim como um meio-termo, gosto tanto de atacar como de defender. Mas talvez seja mais virado para a placagem.
: Lembras-te de alguma placagem que tenhas feito? E sofrido?
VR: Uma pessoa nunca se esquece duma boa placagem que tenha feito. Lembro-me, no Paris Sevens, de ter feito uma boa placagem contra a Rússia. Já conhecia o jogador e consegui antever o que ia fazer.
: O rugby português tem “pernas para andar” ou sentes alguma estagnação?
VR: Claro que tem! Temos muita qualidade a nível técnico e bons treinadores com grande capacidade de “pensar” o jogo. Temos tido bons resultados nas camadas jovens falta dar o salto para os seniores.
: O que é que a comunidade do rugby português pode fazer mais e melhor em prol da modalidade?
VR: Pode continuar a investir na divulgação da modalidade, mostrar aos mais novos os valores do rugby para atrair cada vez mais jogadores.
: Em termos de parcerias, achas que há uma ausência de ligação entre o Mundo Universitário, e dos estudos, com o rugby de alto rendimento?
VR: Acho que sim. Não é fácil conciliar o rugby com os estudos, é preciso fazer muitos sacrifícios. Acho que podia haver um maior apoio em arranjar facilidades aos jogadores.

: Foi complicado conciliares o World Series, o Campeonato, treinos, Alto Rendimento e Estudos?
VR: Foi, sem dúvida. Para além de termos treinos bi-diários ao longo da semana, estávamos muito tempo fora. Basicamente estávamos três semanas cá, duas fora e assim sucessivamente. Não indo às aulas torna difícil ter de estudar tudo sozinho.
: Achas que Portugal vai voltar a estar num Mundial?
VR: Se não achasse não valia a pena estarmos todos a treinar. É difícil, sem dúvida, mas com umas boas bases temos tudo para projectar Portugal para o topo.
: Quais é que são as nossas melhores qualidades e aonde podemos ganhar aos nossos adversários directos?
VR: Somos diferentes, conseguimos atingir níveis iguais com menos recursos mas com uma vontade e confiança enormes.
: Quais são os teus objectivos para 2017?
VR: A nível de clube ganhar, ganhar mais um título por Agronomia. A nível de Selecção XV e 7´s agarrar todas as oportunidades que tiver e a subida de divisão e apuramento para o mundial, respectivamente.
: Deixa uma mensagem para os apoiantes, colegas e amigos da Agronomia e do rugby português.
VR: Para os meus amigos de Agronomia apenas que é um orgulho e prazer enorme jogar com eles. Para comunidade do rugby em geral espero que continuem a apoiar e dar o vosso contributo, pois é muito importante.
Vasco Ribeiro é, aos 19 anos, titular na AIS Agronomia e na Selecção Nacional. Um centro com qualidade, o seu foco e força de vontade para trabalhar todos os dias demonstram que a sua geração é o tónico que Portugal precisa para dar o salto.
