Rui da Cruz (Parte II): o olhar de quem sabe de futsal

Rafael RaimundoMaio 10, 201821min0
Depois de na 1ª parte da entrevista ter sido abordado o tema da conquista de Portugal na Europa, pedimos, nesta 2ª parte, a Rui da Cruz que olhasse para o panorama do futsal nacional, sem esquecer questões que transcendem a fronteira portuguesa.

Em Portugal cada vez mais há jogadores federados. Há mais clubes e escolas empenhadas na formação das nossas crianças.

Hoje em dia uma criança de quatro ou cinco anos já diz ao pai que quer ir praticar futsal. Isto foi um pouco o inverter da pirâmide: os jogadores que passaram aos treinadores, os alunos que passaram aos professores e agora os filhos que passam aos pais.

Isto gera uma dinâmica como de uma bola de neve, sempre a aumentar, a crescer, portanto, há que sustentar tudo isto. O futsal em Portugal precisa de uma identidade. Tem sido um parente pobre face ao que fez e ao que conquistou recentemente.
Não estamos a dar o devido valor ao que custou, demorou e tanto trabalho deu para conquistar.

O futsal pode vir a assumir-se como modalidade independente do futebol no sentido em que deixa de ser vista como segunda opção (a praticar)?

RC: Na nossa realidade já o é. Não há nenhum jogador de futebol nas atuais seleções, o mesmo se passa em termos de treinadores. O que acontece – e é aí a minha grande critica – é que o futsal deveria tirar dividendos do futebol. Veja-se o caso do jogador Neymar. Antes de ser jogador de futebol (onde se tornou profissional) jogou futsal no Santos e as transferências que ele fez para o Barcelona e para o PSG uma percentagem rever para quem o formou. A questão é: quem é que lhe deu a formação? Foi o futsal ou o futebol?

Se esse dinheiro revertesse para o futsal iria ser algo brutal e a modalidade ia disparar.
E não é só o caso do Neymar. Lembro-me também do Robinho e do Ronaldinho Gaúcho.
Agora olhando para a realidade portuguesa acho que os jogadores de futsal são cada vez mais bem preparados e podem depois ganhar aptidão para o futebol. Depois depende daquilo que os seus pais, tutores ou empresários aconselharem.

Falou de empresários…

RC: Sim, hoje em dia já existe muito trabalho de “scouting” (não só nos clubes), onde há os agentes ou empresários que acompanham desde muito cedo, alguns ainda desde a sua fase de formação. Já são uma realidade, já existem alguns (Espanha, Itália e Brasil) e em Portugal não será diferente, a realidade é essa. Creio que isso faz parte do crescimento e desenvolvimento em que estamos. Ainda não são muitos, mas já começa a haver alguma preocupação nesse acompanhamento porque também é verdade que os números que o futsal envolve ainda não são significativos. Pode, no entanto, é haver alguém que numa perspetiva de ver o que vai acontecer daqui a uns tempos estar já a preparar-se e estruturar-se para garantir ter os melhores jogadores.

Estamos a falar de que clubes?

RC: Diria o Sporting, que desde há muito tempo tem feito um excelente trabalho de prospeção e de scouting na formação. Depois o Benfica também se tem preparado e também começou a fazer muito bem esse trabalho, são duas realidades diferentes dos demais (tem a hegemonia do Futsal em Portugal)

Dos clubes representativos ao nível do nosso campeonato nacional temos por exemplo com mais praticantes e inscritos, o Leões de Porto Salvo, a Quinta dos Lombos, o U. Pinheirense, a AD Modicus, o CF Belenenses, com muitas equipas e praticantes, uma AR do Freixieiro (no passado) e que coloca nesta seleção recém campeã da europa o Márcio e o Tiago Brito fruto da sua formação. O Ricardinho que joga agora no Fundão, o André Gomes que está no Rio Ave também por lá passaram. Portanto durante algum tempo estes jogadores do Freixieiro “beberam” muita (in)formação. Felizmente, à época o Joaquim Brito (irmão do presidente do Freixieiro e treinador da equipa na altura) teve a preocupação de se aconselhar e teve o Mestre Zego a trabalhar com ele em “part-time”, antes também no Miramar do enorme José Manuel Leite. O Zego trouxe muita e útil informação, muita preparação e outra cultura tática para o jogo: o chamado 4:0 ofensivo, dinâmico e da pressão constante na quadra toda. Todos estes conhecimentos, foram trazidos pelo grande mestre Zego que é, para mim, o grande guru do futsal mundial.

O que é que mudou desde o inicio do milénio?

RC: Mudou muita coisa. Em termos táticos temos treinadores mais conservadores, ainda que já não existam muitos. Depois há treinadores que apostam muito na capacidade física dos atletas. Antigamente havia jogadores que jogavam 38 ou 40 minutos. No tempo do “Pedro Costa”, que o posso dar como exemplo, porque o acompanhei e por isso sei, nos primeiros anos ainda júnior e a ir à equipa sénior, ele passou jogos inteiros que não jogava ou onde apenas jogava um ou dos minutos.
Depois houve uma determinada altura em que houve troca e partilha de informação. Os russos lembro-me que foram os primeiros a fazer trocas de cinco em cinco minutos e com quartetos. Depois isso passou para o futsal espanhol, brasileiro e português, com a devida adaptação.
Houve também a revolução tática do jogo. Diziam que o 3:1 do pivot ia acabar e nunca vai acabar porque é um tipo de jogo fantástico.
Depois há o 4:0, defesa mista, defesa individual. Os brasileiros fazem muito mais defesa individual, dão primazia ao jogador de rutura, de técnica. Não é tão tático e têm uma mentalidade competitiva muito própria. Qualquer jogador brasileiro entra no jogo para ganhar, têm isso no seu ADN. Em Portugal também aprendemos com isso. Aprendemos com a cultura tática dos espanhóis, com o registo físico e competitivo dos russos…
Agora nós portugueses fazemos coisas boas, partilhamos pouco, mas isso é porque também somos um país mais pequeno e mais conservador nesse aspeto.
É verdade que os espanhóis estão com muita curiosidade e a tentar vir perceber o que é que nós andamos a fazer.

Fotografia: Rui da Cruz
Em que ponto está o mercado português?

RC: O nosso mercado de emprego, diria, para treinadores não é muito apetecível. Apenas para jogadores está aberto e até já esteve mais. Cada vez mais vamos valorizar mais o jogador português porque, lá está, a formação vai dar resultados.

Podemos ver que na seleção a grande maioria dos jogadores teve formação no futsal.

RC: Sim e isso também foi uma política assumida pela FPF, na pessoa do presidente Fernando Gomes, pelo Jorge Braz e até pelo Ricardinho e pelo João Matos, os capitães. Não queriam ter jogadores com dupla nacionalidade e, neste caso, brasileiros.
O resultado está à vista, sem por em causa todos aqueles que até podiam fazer parte como no passado outros fizeram.

Tocou aqui numa questão importante: a dupla nacionalidade. O que pensa dos países, como a Rússia, Cazaquistão e outros, que o fazem?

RC: Posso não estar de acordo, ma se as leis assim o permitem. Depois vai da filosofia, da cultura e dos objetivos que cada federação quer para a modalidade.

E isso não afeta o futsal?

RC: Acho que isso faz parte da própria evolução do futsal. Como havia dito, em Portugal o futsal tem cerca de 20 anos. Em termos de UEFA e FIFA também não tem muitas anos. Só agora a realidade no feminino vai passar a ser oficial com os campeonatos da Europa e depois talvez os mundiais. Ou seja, tudo isto faz parte da própria evolução.
Mas agora repare-se por exemplo no trabalho que o Ricardo Sobral, mais conhecido por “Cacau”, fez no Cazaquistão. Ele agora vai deixar um legado a outro brasileiro, Kaka, que estava na Rússia. Mas quantos jogadores naturais do Cazaquistão ele deixa na equipa? Tem muitos mais, e com a qualidade que também não tinham. O campeonato não é competitivo, resume-se a uma grande equipa (recheada de jogadores brasileiros com qualidade) e depois num nível inferior mais duas equipas diria, mas foi um processo de alguns anos até consolidar e a aparecerem os resultados.
Quem diz o Cazaquistão diz o Azerbaijão que está num nível inferior, a copiar o modelo do Cazaquistão. Depois temos a Rússia que durante muito tempo teve jogadores naturalizados, mas aí não basta “pagar”. Tinham de ter a cultura do país, como aprender a língua, viver lá há alguns anos, tinham que estar ligados sentimentalmente, casar ou ter família. Agora mais recentemente temos o caso da Roménia. É mau que assim seja, mas se calhar também não gostávamos de ver goleadas de 20-0. Assim a modalidade não ia crescer e não ia ser tão espetacular.
Cada país tem as suas regras e a sua cultura, portanto enquanto for permitido tudo bem.

Ainda assim deve haver mais restrição?

RC: Naturalmente isso vai acontecer. Agora na UEFA Futsal Cup tivemos 56 clubes a representar 52 países (foi o maior número atingido), portanto vai haver cada vez mais clubes, mais países a praticar.
A França, por exemplo, do nada conseguiu o apuramento para o europeu (eliminou a Croácia) e foi até mediática a ponto de empatar no jogo inaugural frente à Espanha. Se calhar tem muitos jogadores naturalizados (numa outra realidade), mas não nos apercebemos porque não são brasileiros.

Se é bom? Por um lado, é, por outro não tanto, mas faz parte da evolução e se as leis o permitem a que tal aconteça…

De que forma as novas propostas para alterações de regras podem influenciar o jogo?

RC: Por mais que modifiquem nunca vai tirar a essência da modalidade porque vai ser sempre competitiva, intensa e imprevisível. Os treinadores vão adaptar-se quer se queira quer não. As coisas evoluem e as pessoas têm de estar preparadas para isso.
Este jogo são 800 metros quadrados, 40×20, 20 minutos cada parte. É de uma intensidade brutal. Os próprios adeptos estão ativos quando estão a ver um jogo de futsal.

E a questão das reposições laterais com as mãos?

RC: Sou apologista de que deveria ser com o pé. No futsal mundial apenas me lembro de ter sido marcado com a mão em Espanha.
É verdade que dá muitos mais golos, que uma vez lançada com as mãos a bola fica seguramente mais perto da baliza contrária, no entanto, cria mais contacto entre os jogadores que pode ser visto como falta. Em termos de integração física dos jogadores também é mais violento.
Esta proposta não concordo. Não me choca, mas não gosto. No futebol é diferente, se pudessem ser marcados com o pé também ia haver uma revolução e nunca pensei nisso…
Acho que o futsal não vai ganhar essa competitividade por isso. Os próprios lances de remates de “volley” perdem a espetacularidade se marcados com a mão. Com o pé a bola descreve uma parábola perfeita, faz um arco-íris, algo absolutamente belo.

E as restantes propostas?

RC: As outras também não me chocam porque há sempre uma adaptação, uma evolução, e estas alterações não são coisas significativas ou profundas que possam ser “gritantes”.
Penso que não é assim uma transformação como a estão ou querem pintar.

Olhando agora para a Liga Sport Zone. Quem parte como favorito à conquista?

RC: Respondia da mesma forma do que respondi no inicio da temporada: é o Sporting.
O grande opositor será o Benfica. O Braga este ano não está tão forte e o Paulo Tavares sabe disso. O Braga é a equipa mais jovem deste campeonato. Não tive acesso a esses dados, mas foi garantidamente das equipas mais jovens a jogar na fase principal e da Ronda de Elite da UEFA Futsal Cup. O Mister Paulo está a trabalhar um projeto muito interessante, diria que “Muito Bom”.

Também é verdade que jogadores nucleares do ano passado acabaram por sair…

RC: Exato. Por isso quem parte como favorito é o Sporting. Nos últimos dez anos é a equipa leonina que tem a hegemonia do futsal nacional.

A chegada do Fernandinho ao Benfica vai equilibrar a luta?

RC: O Benfica ganhou esse equilíbrio com o decorrer da época. Agora que Fernandinho veio para ajudar veio. E muito. Para mim, pode tornar-se até, a par de outros, e caso o Benfica consiga chegar à final e vencê-la, o jogador chave deste Benfica e desta liga. É um jogador muito experiente, muito competitivo. É um goleador e um jogador que aparece quando é preciso. Nas decisões não se esconde. É o jogador mais competitivo na 1ª linha defensiva do Benfica e não é por acaso que o Benfica venceu o Sporting na final da Taça da Liga e o Fernandinho foi dos que jogou mais minutos e inclusive marcou.

Estaria o Benfica demasiado dependente de Robinho e da sua capacidade individual?

RC: O Joel veio revolucionar o seu jogo daquilo que tinha nos anos anteriores para este ano. Se me disserem que ele tem jogo de pivot tem. São falsos pivots, o 3:1 do Benfica é com o pivot em banda, na ala. O Deives, o Raúl Campos, o Fernandinho. Ou seja, o Benfica é uma equipa muito dinâmica, de pressão ofensiva, com quartetos intensos e bem definidos, e que se tem estado a preparar muito bem.
Agora é pena que apenas Sporting e Benfica consigam estar no topo.

No futuro perspetiva-se alguma equipa capaz de entrar nesta luta?

RC: É difícil, mas creio que há equipas que acreditam nessa possibilidade e têm que o fazer.

Que equipas?

RC: O Fundão, que quer ter uma equipa profissional. O Braga, que já conseguiu no ano passado ir à UEFA Futsal Cup sendo vice-campeão da Liga Sport Zone. O Braga tem uma estrutura sólida e com ideias, objetivos e filosofias. Tem até a particularidade de formar jogadores na componente educativa.

A ligação à Universidade do Minho…

RC: Exatamente. Formam engenheiros, arquitetos.
É uma realidade diferente do Benfica e Sporting porque cá o Fair Play financeiro não existe, nem vai existir.
Faz parte da nossa identidade. Por exemplo, a identidade espanhola é completamente diferente, os adeptos são do clube da cidade. Enquanto em Portugal (por exemplo) um adepto do Modicus provavelmente é também adepto de outra equipa, ou identifica-se com os ditos clubes grandes de expressão nacional, casos como são o Sporting e o Benfica, em Espanha um adepto do Jaén é apenas do Jaén e não do Barcelona ou do Inter Movistar. Em Espanha, os adeptos identificam-se com a sua cidade.

Como foi vivida a saída de Rivillos e Bateria do Inter Movistar para o Barcelona?

RC: Apesar de o Inter Movistar ser o clube mais titulado a nível europeu, o Inter não é um clube de camisola e aí não é comparativo de Sporting e Benfica, mas são dois colossos em Espanha e eu acho que quem troca o Inter pelo Barcelona é apenas por um motivo: financeiro.

Houve até uma situação de o treinador do Inter Movistar não o colocar a jogar na final frente ao Barcelona porque já era pública a sua saída.

RC: Talvez o Jesús Velasco (treinador do Inter Movistar) tenha achado que Rivillos não estava preparado psicologicamente. Vou dizer que a decisão foi acertada porque o Inter ganhou, mas diria o contrário caso não tivesse ganho. Ter um jogador como Rivillos e não o colocar a jogar é penalizador para qualquer equipa.

Qual é a grande diferença entre comentar futsal espanhol e futsal português?

RC: Diferente em tudo, e em nada, pois o “jogo” é o mesmo. Penso que se traduz acima de tudo, e reconheço que ainda estão á nossa frente em muitos aspetos, mas nós estamos a encurtar rapidamente essa distância. Diferente realidade económica, mentalidades diferentes, logo filosofias diferentes. Existem mais equipas, estruturalmente estão também organizados de uma outra forma, por terem mais clubes profissionais. Duas ligas competitivas, onde as equipas de topo como Barcelona e El Pozo tem equipas B a competir na liga secundária. Dá-me muita satisfação e prazer estar a comentar a LNFS na Bola TV (comentamos no estúdio) pela terceira época consecutiva, a melhor liga do mundo quanto a isso penso que existe unanimidade. A liga Sport Zone a qual comento na TVI pela segunda época (sempre presencial no pavilhão), é para mim um enorme desafio, o melhor que eu podia ambicionar, fazer o que faço enquanto adepto, e apaixonado pela modalidade é com um enorme empenho e orgulho que o faço, luto a cada dia para que se consiga acrescentar sempre algo mais.
Comentar em estúdio não é a mesma coisa que comentar ao vivo no pavilhão por mais que se queira dizer que é…
Por norma, tenho uma característica muito própria que é tentar sempre passar a mensagem não só às pessoas que já acompanham a modalidade, que são muitas, mas também aos novos adeptos. Os adeptos e nomeadamente as crianças, que nunca tiveram nenhuma abordagem sobre futsal, que vejam ali um input qualquer que as atraia. Não só pelas palavras técnicas, adjetivos ou descrições que possa utilizar.
Tento sempre evitar utilizar linguagem demasiado técnica para que as pessoas entendam o que se diz de uma forma percetível para todos, não seja aborrecido e exaustivo. Para que quem esteja a fazer um zapping ou caia de paraquedas, veja uma pista completamente azul, uma bola diferente e com alto contraste. Depois tento que aquilo que emito se “oiça”, seja agradável, atrativo, no complemento de todo este conjunto de ações que decorrem a uma velocidade impressionante num curto espaço – a quadra.
Eu não tenho formação técnica e, portanto, nunca poderia ser demasiado técnico. Explico o jogo, as jogadas, as fases do jogo e as componentes. Tento puxar o positivo para o jogo, para os agentes, que são os jogadores, treinadores e árbitros.
Tento utilizar adjetivos que imponho na minha linguagem e que começam a ser usuais, o que me deixa muito grato. Tenho casos de crianças que dizem que se tornaram adeptas do futsal por me ouvir. Houve até um fim de semana que alguém me disse que era um ícone do futsal porque sempre que me ouvia identificava a minha voz com o futsal. Se há coisa mais gratificante que temos é isso. Isso é brutal e acaba por me dar ânimo e incentivo para ser cada vez mais competente.
Cada vez acreditar mais e tentar ser mais profissional e rigoroso comigo.
Mas gosto também do Pedro Catita que é mais estatístico e rigoroso nesse aspeto, diferenciando-se. Em Espanha procuram captar novos estratos ao nível da idade. Tenta-se que tanto uma criança como um adulto percebam a linguagem do futsal.

Fotografia: Rui da Cruz
Como é que se prepara um jogo?

RC: “Bebo” muita informação. Estou a acompanhar o futsal há algum tempo. Já colaborei com revistas, com sites, fiz blogs, tenho páginas, grupos nas redes sociais.
Os jogos – tenho liga portuguesa na TVI24 e liga espanhola na A Bola TV – tento sempre estar a par de como estão as equipas, os jogadores, como foi a jornada anterior, a classificação, quem são os goleadores, se há lesionados, castigados, antevisões, declarações. Diga-se que neste aspeto os espanhóis batem nos por larga margem, temos que dar mais e crescer em termos de comunicação para quem esteja interessado em acompanhar a modalidade e queira por alguma razão ter a informação. Aqui uma crítica com cariz construtivo para a FPF que devia já ter uma melhor plataforma digital com mais e melhor informação.
Depois tento saber também curiosidades, detalhes como se algum jogador faz anos, como foi ou tem sido o seu percurso. Na véspera, tenho sempre isto tudo muito presente.
Depois no geral é acompanhar, partilhar muita informação com a realidade espanhola, brasileira, italiana, da argentina e mais recentemente com a francesa, estar atento. O meu “reconhecimento” enquanto alguém que se emociona ao falar de futsal até vem mais de fora (estrangeiro), uma vez que muitas pessoas me identificam como alguém que está por dentro do futsal e me consideram uma mais-valia como uma boa fonte de informação.

Antes de terminar, gostaríamos de lhe pedir que recuasse na sua memória e nos contasse um momento de fair play que o tenha marcado.

RC: Com as crianças esses momentos acontecem bastantes vezes e são sempre bonitos, acima de tudo, muito importantes porque é nesses momentos que as crianças ganham essa característica que depois fica retida para o resto da vida desportiva e social. E nesse aspeto, ainda mais importante são os formadores, os técnicos, os professores, os treinadores e todos aqueles que trabalham com as crianças. No futsal e não só.
Sei que há muitos lances em que uma decisão errada do árbitro origina um golo e de imediato muitos treinadores reconhecem esse mesmo erro e dizem aos seus formandos/jogadores para oferecerem, ou seja deixam a outra equipa fazer um golo no imediato.

Agora de um “momento específico” e do qual me recordo num jogo dos playoff da LNFS entre o Peñiscola e o Inter Movistar, em que o jovem Josiko teve um gesto de enorme desportivismo e do que é o fair play. Um jogador do Inter Movistar fica lesionado e já não recupera ficando no solo (Ricardinho) após uma interceção defensiva na sua meia quadra. Essa situação deu origem a uma rápida transição para a sua equipa que não teve resultado prático, depois nova interceção e novo contra-ataque para o Peñiscola que numa situação de superioridade de 2×0, em que a equipa ficava numa situação favorável e em vantagem, coloca a bola fora para que o adversário fosse imediatamente assistido. Isto foi muito valorizado porque o fizeram de uma forma espontânea e imediata, recordo que os árbitros o podem e devem fazer sempre que seja posta em causa a integridade física de um jogador. Um jovem jogador, com um gesto que caiu muito bem e foi de pronto aplaudido e cumprimentado por todos. Teve mesmo uma grande repercussão nas redes sociais na altura.

Revê aqui a 1ª parte da entrevista.


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