Nuno Gramaxo. “No Sport vivemos com o rugby e não vivemos do rugby”

Francisco IsaacDezembro 29, 20179min0

Nuno Gramaxo. “No Sport vivemos com o rugby e não vivemos do rugby”

Francisco IsaacDezembro 29, 20179min0
Entrevista com o grande "construtor" do Sport Rugby: Nuno Gramaxo. Os sonhos, objectivos e estórias do histórico líder do clube do Porto
Nuno, a tua “obra” no Sport Rugby está terminada ou ainda tens muito mais para dar?

O Sport Rugby tem crescido com uma enorme maturidade, apesar de só ter 5 anos. Penso que ainda posso e devo contribuir, com a minha “vontade” e experiência, para ajudar o clube a se consolidar, e se possível, expandir-se. Todos trabalham em prol do clube, sempre com uma excelente atitude!!!

Como explicas o Sport? É um clube diferente da cidade do Porto?

O Sport Rugby é um departamento do Sport Club do Porto, clube histórico da cidade, com mais de 114 anos de existência. O reativar da modalidade num clube, que é um dos maiores da cidade, é por si sós, uma garantia de sucesso. Juntamente com a Deolinda, capitã da equipa feminina do Ismai, e depois de uma passagem pelo Boavista, fundamos o Sport Rugby.

Penso que este Clube é  efetivamente diferente, porque é acima de tudo um clube de pais, preocupados com a formação dos seus filhos. Começamos por idealizar um projeto, depois de desafiados pelo José Syder, antigo praticante e diretor da EDP Gás, a levar o rugby a todas as turmas do quarto ano das escolas básicas da cidade, apresentando o rugby como uma escola de valores, e convidando os alunos a treinarem gratuitamente no clube. Ao fim de dois anos, e com muito trabalho feito, atingimos os 100 atletas.  A partir daí, foi sempre a crescer. É um clube em que procuramos, “viver com o rugby e não, viver do rugby”.

A forma pedagógica e a paixão que sentes pelo rugby é notória… como começou? Jogaste, e se sim aonde?

Comecei aos 10 anos, por influência da família. Os meus irmãos mais velhos jogavam, e com toda a naturalidade estava no campo a treinar com eles, apesar de não haver escalões para a minha idade. Assistia aos seus jogos e ao torneio das cinco nações na RTP2, ficando deliciado com a forma como Cordeiro do Vale os relatava, aumentando significativamente a minha paixão por este desporto.

 Devido a uma ação promocional de divulgação do Rugby junto dos mais novos efetuada pela DGD (Direção geral dos Desportos), integrei uma equipa de mini-rugby – Núcleo de Rugby das Pasteleira, treinada pelo Carlos Varela e depois pelo meu irmão Manel que foi a base de lançamento da futura equipa de juniores do CDUP. Aí tive a sorte de ser treinado por dois excelentes treinadores, que não posso deixar de mencionar, pela forma pedagógica e apaixonante com que exerciam a sua função.

Muito obrigado Afonso Araújo e Professor Pina de Morais, serão sempre recordados com um enorme apreço e respeito. A partir daí, foi fácil continuar apaixonado por este desporto, pelo que a minha opção de me tornar professor de Educação Física foi natural.

Deixei de jogar aos 27 anos, tendo passado a ser treinador e formador, de atletas e futuros professores de educação física, a quem posso e devo, transmitir a minha paixão por este fantástico desporto.

Tens algum episódio que marcou a tua vida como rugbista? E como treinador há algum momento que nos queiras contar?

Como rugbista destaco o fantástico espírito que existia na equipa de Juniores do Cdup, que foi vice-campeâ nacional e a participação com a equipa sénior na final da taça de Portugal em 1981. O Facto de ser professor de Educação Física, permitiu-me apresentar o rugby a milhares de alunos. Como consequência disso surgiu a equipa feminina do Ismai – Instituto Universitário da Maia, onde leciono rugby, há mais de 20 anos.

Como treinador, destaco a criação da equipa feminina do Ismai, que criou as bases para a futura equipa do Sport Rugby, onde diversas atletas se destacaram no rugby feminino nacional. Sempre obtivemos resultados de destaque no Rugby Sevens nacional, mas queria realçar o Beach Rugby onde fomos Vice-campeões europeus em 2015 e alcançamos mais dois terceiros lugares em 2014 e 2016 , representando com muita dignidade  a cidade do Porto e Portugal.

Foste um treinador bem-sucedido pelo Sport Feminino… achas que a modalidade em Portugal devia fazer mais pelo rugby feminino? E em caso positivo, que ideias darias?

Estou muito preocupado, pela forma como o Rugby feminino está a ser dirigido no nosso país. Cada vez existem menos atletas femininos e o número de equipas femininas decresceu significativamente. Para evitar uma queda ainda maior, devíamos voltar a apostar no Sevens, promovendo a formação de equipas junto de todos os clubes, incidindo essa aposta na formação de equipas nos escalões de formação.

O Sport começou agora a dar passos decisivos e de afirmação dentro do Porto? Quais são os vossos objectivos para os próximos anos?

O nosso principal objetivo é manter a qualidade e possibilitar que o rugby seja praticado por mais jovens, levando-os a apaixonarem-se por este desporto.

Gostas mais de formar jogadores, treiná-los ou dirigir o clube? E porquê?

Gosto mais de ser formador/treinador, porque gosto imenso de estar em contato direto com os alunos/atletas. Alem disso, a direção do clube está repartida por pessoas com uma enorme credibilidade  e que  estão a fazer um excelente trabalho. 

Nuno Gramaxo com a equipa Universitária do Porto (Foto: Arquivo do Próprio)
O Beach Rugby do Porto foi organizado, em larga medida, pelo Sport Rugby certo? Achas que é uma das melhores formas de chegar ao grande público?

Falar do Beach Rugby não é fácil… faz em 2018, 25  anos que o Beach rugby fez a sua estreia mundial no Porto. Tive a sorte de ter criado o Beach Rugby 5X5 com o Rico Rocha e a Vera Roquette, num projeto que idealizamos para as animações das praias do Porto.

 É um jogo “espetacular” que deve ser apoiado por todos, não só pelo impacto mundial que apresenta atualmente, mas também porque é uma maneira de mostrarmos o rugby, levando-o a milhares de pessoas. Este ano o nosso torneio “Porto Beach Rugby Trophy”, vai fazer parte do Circuito Europeu de Beach Rugby, como torneio experimental. Queremos comemorar as bodas de prata do Beach Rugby, realizando um torneio que tenha um forte impacto, não só nacional como internacional.

Olhando para o rugby português, achas que há uma divisão entre Norte e Sul? Ou estamos unidos e a começar a caminhar para fazer um futuro em conjunto?

A grande divisão está no numero de equipas e na qualidade do jogo. Como somos poucos, torna-se muito difícil competir com as grandes equipas de Lisboa, especialmente quando o potencial económico dos clubes é deveras significativo. Uma maior aproximação dos clubes do Sul aos clubes do Norte seria excelente.

São muito poucas as equipas do Sul que se deslocam aos torneios realizados no norte. É importante que as equipas do Sul se procurem aproximar dos clubes do Norte, para melhorarmos a nossa qualidade.

O rugby merece outros “palcos” na tua opinião? E como podíamos difundir melhor a modalidade?

Temos que levar o Rugby às escolas, junto dos escalões mais novos. A FPR tem apostado no 2º e 3º ciclo mas a aposta está no 1º ciclo, dos 6 aos 10 anos. É aqui que devemos apostar na promoção e divulgação do Rugby.

Fizeste ou tens feito algum trabalho de difusão junto das escolas? Achas um bom método para “espalhar a palavra”?

Se o Sport Rugby existe é porque elaboramos um projeto denominado “Valorizar os Valores” promovendo a prática do Rugby nas escolas, junto do 4º ano. Juntamente com a Deolinda, idealizamos um projeto com o objetivo promover o espirito desportivo e o fair play, numa sociedade em que os valores estão em constante alteração, onde a ética desportiva e a tolerância são preteridas pela “ vitória a todo o custo”.

Quisemos a chamar a atenção dos jovens para a importância dos valores no desporto, no sentido de adquirirem uma atitude desportiva na qual o respeito, o fair play, o espírito de equipa e o “aceitar as diferenças” estejam sempre presentes. Simultaneamente, apresentávamos o Rugby como uma modalidade apetecível, apaixonante e única.

Apresentamos um vídeo idealizado por nós, que apelava à participação dos alunos, estabelecendo-se um diálogo excelente, com a duração de aproximadamente uma hora. Seguidamente tínhamos uma sessão prática de Tag Rugby, que encantava todos os alunos. No final do ano realizávamos uma festa no campo do Sport Rugby e também em Braga, com o apoio da CM do Porto e da C.M. de Braga, onde estiveram presentes mais de 800 alunos, em 2016, último ano em que se realizou o projeto.

Tivemos um apoio financeiro da EDP Gás, pelo que nos deslocamos a todas as escolas do Porto e Braga, promovendo os valores e o Rugby. Ao permitirmos que os atletas conhecessem o rugby, e o pudessem praticar de forma gratuita junto do Sport Rugby, lotamos a capacidade de receber atletas no final do segundo ano do projeto.

Umas perguntas mais rápidas: jogadora mais dedicada de sempre do Sport?

Deolinda – Daniela Correia

Melhor jogadora em Portugal? E placadora?

Deolinda. Grande visão de jogo, eximia placadora, excelente chutadora e uma entrega total ao jogo.

Pessoa mais emblemática do rugby português?

João Paulo Bessa. O pai do Rugby moderno nacional e padrinho do Sport Club do Porto!

Queres deixar umas palavras para o público, comunidade do rugby e o pessoal do Sport Rugby?

O lema do nosso clube diz tudo:  O RUGBY é uma escola de preparação para a vida !!!  Queremos que os nossos atletas se entreguem a este jogo, com uma enorme alegria e um forte espírito de conquista. Não precisam de ser os melhores, mas precisam de se esforçar para serem melhores, não só em campo como no dia a dia. 

Nuno Gramaxo com os sub-10 do Sport (Foto: Sport Rugby)

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