José D’Alte. “A Agronomia recebeu-me bem e fez de mim jogador.”

Francisco IsaacNovembro 12, 201710min0

José D’Alte. “A Agronomia recebeu-me bem e fez de mim jogador.”

Francisco IsaacNovembro 12, 201710min0
Jogador do Cisneros, o antigo 3ª linha da Agronomia falou com o Fair Play sobre como veio parar ao rugby. Entrevista em exclusivo com José D'Alte
José D’Alte, longo caminho que fizeste na tua carreira como jogador de rugby: Técnico, São Miguel, Agronomia e, agora, Cisneros de Madrid. Recordas-te dos teus primeiros tempos com a oval? Com que sentimento é que olhas para trás?

JA. Na verdade, o caminho podia ser mais longo, tive um interregno de alguns anos durante os quais me dediquei a outras coisas que nesse momento me pareceram prioritárias, desta forma, talvez me arrependa sim desse tempo que estive sem jogar. No Liceu que frequentei o Técnico era o clube que tinha o monopólio de jogadores, lembro-me perfeitamente dos meus primeiros treinos e que foi um grande amigo meu (Luis Madaleno) que me deu a conhecer esta modalidade, foi um grande impulsionador.

O São Miguel aparece num momento, ao qual dei o nome acima de “interregno” quando uns amigos do meu irmão me convidaram para ir treinar a um tal clube que estava a voltar à modalidade, a minha estadia não foi longa, mas a verdade é que conheci uma forma diferente de viver o rugby, tem valor essa malta.

Agronomia e tenho que referir o nome de João Paiva, um dos muitos internacionais do clube, que durante as brincadeiras do rugby universitário me raptou para este clube, sem perceber bem como já estava a treinar com eles. Este clube recebeu-me muito bem e fez de mim “jogador” (ou algo que se assemelhe). Alguns foram os treinadores que tive, cada um com a sua filosofia cada um com coisas diferentes para ensinar, mas penso que consegui reter o mais possível de todos.

Dos teus amigos e colegas que jogaram contigo desde o início, ainda jogas com ou contra alguns? O que é lhes dizes quando entras em campo para os defrontar?

JA. Ainda jogo contra alguns (Técnico pois estão na mesma divisão que nós) mas não há qualquer tipo de ritual pré-partido ou algo que lhes diga. A verdade é que os jogos entre Agronomia e Técnico têm sido difíceis, durante alguns anos ganhávamos em casa e perdíamos fora,  jogar nas olaias nunca é fácil.

Passaste de primeira-linha, para segunda e agora estás-te a afirmar como terceira. O que é que tiveste que fazer de trabalho extra para conseguires adaptar-te a cada nova posição? É como 7 ou 8 que te sentes melhor?

JA. Nos últimos anos fui perdendo peso, ou melhor, o meu corpo sofreu algumas alterações, essas foram aproveitadas pelos nossos treinadores na altura (João Moura /Nuno Damasceno) que viu em mim algo mais do que um primeira linha. Foi importante por que na verdade agora sim estou a viver o rugby, ou seja, sem dúvida que é entre a segunda e terceira que sinto que consigo dar o melhor de mim, ou como diz o Fanã (Fernando Almeida) “ser a melhor versão de mim” (risos).

Bom eu prefiro 8 sem duvida, tenho noção que o meu ponto forte é o ataque e tento sempre aproveitar o melhor disso.

O que é que dirias ao teu primeiro treinador de rugby? E já agora quem foi?

JA. O meu primeiro treinador foi mais do que isso, chama-se Traciano Tarroso e acompanhou-nos muito, vivia com a Mãe de um amigo nosso, que jogava também (Sebastião Zinho), e nós passávamos os dias em casa dele. Eu diria que essa família fez também parte da nossa educação.

Fizeste parte de uma geração que estava a revolucionar a AIS Agronomia… o que há-de tão especial naquela geração de Vasco Ribeiro e Manuel Cardoso Pinto e a tua? Achas possível que venham a ser campeões nacionais no futuro próximo?

JA. Não tenho qualquer dúvida que vamos conseguir esse titulo, como dizes e bem, estamos neste momento a jogar com jogadores muito novos e com muita qualidade, aliás sou capaz de dizer que temos os melhores jogadores das suas idades, são vários, Vasco Ribeiro, Manuel Cardoso Pinto, António Cortes, João Moreira, José Leal da Costa (Tostas) e o seu irmão José Leal da Costa (Torradas), Gonçalo Prazeres, João Lima, Fernando Almeida e sem dúvida aquele que pensava que iria terminar a carreira este ano mas que de repente vai ser mais uma vez internacional Gustavo Duarte (risos). Agronomia tem um futuro de sucesso assegurado, não há qualquer duvida!!!

O teu primeiro jogo pela Agronomia quando se deu? Tens alguma recordação desse dia? E tens noção qual foi o teu melhor jogo até hoje?

JA. O meu primeiro jogo por Agronomia foi no Estádio Universitário contra o CDUL, já passaram alguns anos talvez 6, mas lembro-me que estava a chover imenso e que entrei para talonador.

Não tenho noção de qual foi o meu melhor jogo, mas sem dúvida que há um jogo que me vou recordar durante muitos anos, a supertaça do ano passado, a nossa vitoria frente a um Direito que durante muitos anos foi difícil de bater, uma vitória que mudou a nossa mentalidade como jogadores, uma vitória que nos fez gostar de ganhar de novo. Este jogo, para mim, foi o ponto chave para esta “nova” Agronomia”.

No espaço de um ano tudo te aconteceu… titular indiscutível nos “agrónomos”, selecionado e internacional pela Selecção, final da Divisão de Honra, Conquista da Taça de Portugal e transferência para Espanha. Como explicas este processo todo? E que sacrifícios tiveste de fazer para atingir este patamar?

JA. A titularidade no meu clube é algo que tenho tentado conquistar durante os últimos anos, sem dúvida que esta maré de bons resultados e de bons jogos pelo meu clube e com a grande ajuda de um grande treinador que temos (Pico) foi possível chegar às minhas primeiras convocatórias par a seleção. É sempre importante agradecer ao selecionador (Martim Aguiar) pela oportunidade que me deu.

A minha vinda provisória para os Cisneros aparece como uma “necessidade”, vim estudar um mestrado para Madrid, e esta equipa mostrou-se interessada em receber-me. Estou a gostar muito da experiencia.

Agrónomo de coração (Foto: João Peleteiro Fotografia)
Queres regressar à selecção portuguesa? O que tens de fazer mais para voltar a fazer parte dos Lobos?

JA. Claro que sim, ser internacional é algo que alguém que vive a modalidade como nós tem que querer alcançar, só assim fazem sentido todos os compromissos que fazemos ao longo do ano. Neste momento estou a conseguir trabalhar a minha forma física em Madrid, penso que era um ponto negativo que tinha.

Que diferenças notas entre Portugal e Espanha no espaço de um mês? O amadorismo profissionalizado é um caminho ideal para Portugal ou há alguns elementos que podemos usar

JA. Bom, já lá vão 3 meses, há um ponto muito importante que não podemos nunca esquecer, Espanha tem muitas vezes mais jogadores que Portugal, isto traduz-se em muito mais dinheiro que se traduz em mais qualidade operacional, é simples.

Sem dúvida que há muitas coisas que podíamos “copiar” da federação espanhola, mas a verdade é que há mesmo muito dinheiro aqui.

Não tenho dúvidas que as equipas de topo portuguesas se batem contra as equipas de topo espanholas, eles são fisicamente mais fortes, mas eu creio que em Portugal há mais qualidade técnica.

Pretendes ficar em Espanha mais que uma temporada? Quais são os teus objectivos a nível pessoal e profissional neste momento?

JA. É uma questão muito difícil, nem sei bem o que te responder. A verdade é que o meu objetivo é voltar para o meu país e consequentemente para o meu clube, mas nunca sabemos o que nos espera, ou seja, não sei se recebo uma boa proposta profissional aqui em Madrid ou até mesmo se não recebo nenhuma em Portugal (espero receber, empregadores se me estiverem a ouvir que não se esqueçam de mim, risos!).

Achas o jogador português inferior ao espanhol, ou estamos no bom caminho para nos equipararmos com os “nossos” vizinhos?

JA. Como referi acima, para mim o jogador espanhol é caracterizado pelo seu físico e vontade de o trabalhar e o português pela técnica e intensidade no que faz dentro de campo.

Tens saudades do tempo em que eras jogador do São Miguel? Algum episódio em especial?

JA. Não tenho saudades porque vou estando com eles, o meu irmão converteu-se do futebol ao rugby e joga no São Miguel neste momento, esse fator fez com que me aproximasse mais da equipa num contexto lúdico, claro!!

Que conselhos podes dar a jogadores jovens que estão a entrar no patamar de sénior neste momento? Sair para um país do Hemisfério Sul ajuda ao desenvolvimento?

JA. A minha experiência nessa parte do Mundo foi curta, tenho a certeza que há em Portugal pessoas que os possam ajudar mais, mas sem dúvida que sim, é um rugby diferente, divertido de se jogar.

Perguntas e respostas mais curtas: jogador mais icónico em Agronomia?

JA. Duarte Cardoso Pinto será um eterno claro. Mas mais presentes na minha vida como jogador, Fernando Almeida, manos Paulo Duarte.

Por qual optavas: sofrer uma placagem do Meli Rockua ou ter que placar o Fernando Almeida?

JA. Sem dúvida que prefiro placar o Fernando Almeida, todos sabemos que este rapaz tem muitos pontos fortes, mas o ataque……….

Melhor jogador em Portugal?

JA. Vasco Ribeiro.

Super Rugby ou TOP14?

JA. Super Rugby.

Situação de jogo: ter que sair de uma formação-ordenada a 5 metros da linha na última jogada do jogo ou arriscar um drop que dava a vitória por um ponto?

JA. Drop… um sonho…

O que é ser Agrónomo em três palavras?

JA. Compromisso, União e Família

Queres deixar uma mensagem de apoio aos teus colegas de Agronomia e à restante comunidade do rugby português?

JA. Já tive oportunidade de o fazer quando fui a Portugal ver a Supertaça. Tenho a certeza que este ano vai ser um ano de Agronomia, tenho pena de não estar presente, mas acredito que este ano não escapa!!

Contra a Roménia (Foto: João Peleteiro Fotografia)

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