Francisco Martins. “Captação é para mim a palavra chave para o futuro!”

Francisco IsaacDezembro 31, 20178min1
O antigo director técnico das selecções nacionais e candidato à FPR falou com o Fair Play! Francisco Martins e as propostas para os problemas do rugby
Francisco, tens saudades de fazer parte do corpo técnico da equipa de 7’s dos World Series? O que mais gostavas nas etapas dos Circuitos?

FM. Tenho muitas saudades. De todo o trabalho realizado em equipa, de ultrapassarmos todas as dificuldades juntos e, claro, de levantarmos a Taça. Tenho muitas saudades que Portugal esteja nas World Series e no topo do Campeonato da Europa. Mas, acima de tudo, tenho muitas saudades da grande equipa que éramos.

Como explicas o nosso sucesso, na altura, na vertente de sete?

FM. Para mim o sucesso esteve no empenho conjunto de todos e no sabermos ultrapassar todas as dificuldades (nacionais e internacionais); muitas vezes contra pessoas que achavam que os sevens eram uma brincadeira. Gostava de referir  toda a equipa que durante os anos (2000 a 2013) trabalharam para o sucesso dos Sevens Portugueses – Os Presidentes Pedro Ribeiro, Dídio de Aguiar e Carlos Amado da Silva; todo o Staff que passou pela Federação,  Fernanda Assis,  (Pai) Mirra; a Equipa Médica com os seus 3 grandes Fisioterapeutas Luís Ramusga, José Carlos e César Gonçalves; os Treinadores Tomaz Morais, Evan Crawford, Pedro Netto, Frederico Sousa; o Preparador Físico José Carvalho (pai e filho); os diversos fotógrafos e todos os jogadores que trabalharam durante anos. As minhas desculpas se esqueci de algum nome.

E como repetirias a fórmula para voltarmos a fazer parte do Circuito Mundial? Achas que temos possibilidades de voltar lá?

A fórmula foi inventada anteriormente pelas diversas equipas técnicas. Muito trabalho, persistência, empenho de todos (clubes e jogadores), responsabilidade e um objetivo comum: vencer. Faria toda a diferença trabalhar uma academia de jovens entre os 16 e 20 anos para fornecer a Seleção Sénior.  Com tudo isto iríamos certamente regressar e ficar no Circuito Mundial e no topo da Europa.

Quem foram, para ti, os grandes “obreiros” dos 7’s? E que jogadores nunca te vais esquecer nas etapas?

FM. O primeiro obreiro dos Sevens em Portugal foi o Clube do Rugby pela mão de cinco senhores do rugby português: Pedro Fragoso Mendes, João Fragoso Mendes, Pedro Ribeiro, Manuel Cabral e António Simões dos Santos, com o torneio Lisboa Sevens. A partir de 2000 outros dois grandes obreiros, Tomaz Morais e Evan Crawford, dão o seu contributo para o impulso dos Sevens no Circuito Mundial.

Com o risco de omitir algum dos grandes nomes dos Sevens Portugueses os jogadores que nunca me vou esquecer são: Nuno Durão, Vilar Gomes, António Pinto, Rohan Hoffmann, Diogo Mateus, David Mateus António Aguilar, Martim Tomé, Diogo Coutinho, Sebastião da Cunha, Pedro Leal, Adérito Esteves, Duarte Moreira, Gonçalo Foro e Nuno Sousa Guedes.

Mas também quero dar os meus parabéns a todos os que tiveram a possibilidades de vestir a camisola nacional de Sevens.

Porque é que te candidataste às eleições de 2015? Achas que os problemas que já se faziam sentir na altura, continuam agora ou a situação piorou ou melhorou?

FM. A razão da minha candidatura deve-se a diversos fatores mas principalmente  a necessidade de renovar. Penso que o Rugby Português piorou nos últimos anos e a prova está nos resultados. A nível Sénior, baixámos de divisão no XV, saímos do Circuito Mundial nos Sevens, não nos apurámos para os jogos Olímpicos e, na época passada, acabámos em 10º lugar no Campeonato da Europa de Sevens. No entanto, é de salientar o excelente trabalho da seleção Sub-20, mas esse trabalho já vinha a ser desenvolvido pela anterior direção (seleções sub-17e sub-18).

Tens algumas ideias para os próximos anos para a modalidade? Necessitamos de uma renovação, revolução ou reconstrução?

FM. Captação é para mim é a palavra chave. Temos diminuído o numero de atletas nos últimos anos e isso é muito preocupante. Sem captação a renovação será muito difícil. É necessário voltar às escolas para captar novos jogadores e obter resultados internacionais para aliciar mais atletas. Após um trabalho muito profissional a reconstrução é possível se não iremos cada vez mais ter dificuldades em atingir os nossos objetivos.

Francisco Martins sempre no comando (Foto: Filipe Monte Fotografia)
 Temos de voltar a apostar seriamente nos 7’s? Achas que é uma vertente que facilmente se “vende” a nível do desporto escolar?

FM. Penso que o Rugby de Sevens deve ser a prioridade de todo o rugby português, não descurando, no entanto, o trabalho efetuado no Rugby de XV. O problema é que muitos têm dito que é uma aposta os Sevens , mas, na realidade, muito pouco ou nada tem sido feito nos últimos anos. Para além do desporto escolar ser uma excelente aposta, o trabalho nos clubes é fundamental.

Mas todo isto só será possível se a FPR e os Clubes acreditarem e, em conjunto, desenvolverem um trabalho muito profissional para melhorar os resultados que tivemos no passado ressente.

Como começou a tua ligação ao rugby? Jogaste a nível sénior? E se sim, quais foram os clubes?

FM. Comecei a jogar na época de 1973/1974 no CDUL. Na época seguinte mudei para o Clube Rugby do Técnico onde joguei até a época de 1988/1989. Joguei em Económicas entre 1989 e 1991 e, em Setembro de 1991, voltei a jogar no Clube de Rugby do Técnico até Junho de 1998. Em Setembro de 1998 fui jogar para o Grupo Desportivo Direito até Junho de 2000 quando regressei novamente ao CR Técnico ate Junho de 2002.

O que é que o rugby te ensinou nestes anos todos? Achas que os valores da modalidade não estão a ser tão bem transmitidos nos dias de hoje?

FM. O que o Rugby me transmitiu foi o trabalho em equipa, o espírito de sacrifício, mas, acima de tudo, sermos verdadeiros e coerentes. Existe uma grande diferença entre ler e praticar os princípios dos valores do Rugby.  Acho que, atualmente, estes princípios não estão a ser bem transmitidos corretamente por quem tem essa obrigação.

E que tens a dizer da Selecção Nacional? Um apuramento para o Mundial 2019 seria positivo para a modalidade ou serviria apenas para “tapar” os problemas da modalidade?

FM. Uma qualificação para um Mundial é sempre um acontecimento muito positivo, no entanto concordo que seria um tapar (esquecer) os verdadeiros problemas da modalidade, que continuariam a ser os mesmos.

A gestão da direcção actual da federação centralizou-se em demasia em Lisboa? Ou o rugby já está mais equilibrado em termos de esferas de influência?

FM. A nova direção defendeu a descentralização, mas nunca a conseguiu pôr em pratica e isso é mau para o Rugby Português. Não me parece que exista equilíbrio; continuamos a ter um grupo de pessoas que não pensa no futuro do rugby, mas sim no presente ou mesmo só no seu clube.

Melhor jogador de 7’s em Portugal: António Aguilar, Duarte Moreira, Pedro Leal ou Adérito Esteves?

FM. Dentro dos três nomes que mencionaste para mim o melhor jogador de 7’s é o Adérito Esteves. Contudo tanto o Duarte Moreira como o António Aguilar ou Pedro Leal são também excelentes jogadores. Mas tem que mencionar outros admiráveis jogadores: Diogo Mateus, Sebastião da Cunha, entre muitos outros.        

Melhor selecção de 7’s do Mundo que viste a jogar? E treinador?

FM. A melhor selecção de 7’s do Mundo é a Nova Zelândia e os melhores treinadores de Sevens é a dupla Gordan Tiejens e Tomaz Morais.

Achas que Portugal vai voltar a surpreender o Planeta da Oval?

FM. Tenho a certeza que sim, mas para isso acontecer temos que voltar a trabalhar muito e seriamente. Temos que diferir as prioridades e postar fortemente nelas para assim levarmos Portugal ao seu lugar.

Queres deixar uma mensagem à comunidade do rugby português?

FM. Para conseguirmos levantar o Rugby português temos que trabalhar em conjunto com o mesmo objectivo, e não deixarmos prevalecer os objectivos pessoais e particulares de cada clube. O rubgy tem que ser pensado a médio e longo prazo e não apenas no presente.

Acreditem que é possível voltar a elite do Rugby Mundial.

Os bons velhos tempos dos 7’s (Foto: Arquivo de Pedro Leal)

One comment

  • Julio Faria

    Janeiro 2, 2018 at 12:45 pm

    O Fernando Martins tem muita razão quando refere que actualmente a FPR apenas aposta nos clubes ligados à direcção da Federação.Actualmente apenas existe o clube CDULe mais um ou outro de Lisboa.A promessa da descentralização foi mentira.Os actuais dirigentes apenas quiseram tomar o poder para depois servirem o seu clube(CDUL)sem qualquer escrupulo.Esta é que é a verdade.Temos uma Federação ao serviço dos clubes de Lisboa e principalmente do CDUL,que ,no entanto e nempor isso consegue os resultados que ambiciona.Enquanto não se fizer uma direcção ..que defenda os interesses da descentralização,nada se consegurà

    Reply

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS