Arquivo de Seleção Nacional - Página 4 de 7 - Fair Play

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Bruno Costa JesuínoMarço 27, 20208min0

Imaginem que eram o Fernando Santos e que teriam de tomar decisões para o (agora) Europeu 2021. Quem convocavam se tivessem de decidir agora? Eis as escolhas a pensar no agora e no depois. Venham daí essas discórdias.

São Patrício e mais dois

Na baliza não há dúvidas. Rui Patrício e mais dois. Anthony Lopes, capitão do Lyon, é o que apresenta melhores credenciais para fazer sombra ao guarda-redes do Wolverhampton. No entanto, por motivos pessoais, já chegou a pedir autorização para não ser convocado. O experiente Beto com 37 anos (Göztepe), conhecido por fazer bom balneário tem sido opção habitual para número 2 ou número 3. Se o luso-francês continuar afastado da seleção destacam-se três nomes: Cláudio Ramos (Tondela), José Sá (Olympiakos) e Rui Silva (Granada).

Ordem de preferência: Rui Patrício, Anthony Lopes, José Sá, Rui Silva, Beto e Cláudio Ramos.

No eixo da defesa é Pepe e mais três. Ou será dois?

Neste sector, quando os selecionadores têm um médio que pode jogar a centrar, muitas vezes optam por levar apenas três centrais, até porque além do guarda-redes, é onde os treinadores menos mexem. Parece-me óbvio que a experiência de Pepe é fundamental e será o mais titular de todos.

Rúben Dias, tem sido sempre titular, fez uma Liga das Nações fenomenal (melhor jogador da final), e mesmo o seu menor fulgor deve-se acima de tudo às fragilidades que toda a equipa do Benfica tem apresentado. Vítima disso mesmo, e eventualmente não só, foi Ferro. O jovem central encarnado era visto como provável no leque dos 4 ou 5 principais opções, terá sido ultrapassado por Domingos Duarte, a fazer grande época do Granada. Ah e pela segunda vida de Rúben Semedo.

O terceiro continua a ser o experiente José Fonte (menos um ano que Pepe). Bruno Alves, o mais velho de todos, será menos provável.

Ordem de preferência: Pepe, Rúben Dias, José Fonte, Domingos Duarte, Rúben Semedo, Ferro e Bruno Alves.

Tantos e tão bons na direita que algum pode ir parar à esquerda

Na esquerda Raphael Guerreiro é indiscutível. Apenas o sineense Mário Rui, normalmente titular no Nápoles lhe consegue fazer sombra. A terceira opção andará muito longe.

No entanto o lugar de Mário Rui pode estar ameaçado pela ‘excesso’ de qualidade existente à direita. Nélson Semedo, João Cancelo, Ricardo Pereira, qualquer um deles já jogou várias vezes à esquerda, e ainda o campeão europeu Cédric.

Ordem de preferência: Ricardo Pereira, Nélson Semedo, João Cancelo e Raphael Guerreiro.

Seja para 442 ou 433 opções para o meio não faltam

Danilo, o mais defensivo de todos os médios, poderá beneficiar da polivalência de poder jogar a central, e assim Fernando Santos levar apenas três (tendo em conta da idade de Pepe e Fonte, poderá ser mais arriscado).

Rúben Neves e William Carvalho serão as opções mais fortes para jogar de início, seja num meio campo a 3 com um médio mais ofensivo ou com duplo pivot. João Moutinho, apesar dos seus 33 anos, será a opção seguinte para alternar com William e Rúben, até pelo entendimento que tem com Rúben no clube inglês. Sérgio Oliveira e André Gomes são ainda nomes a ter em conta.

Renato Sanches, também opção para jogar como falso ala no 442 também será um nome a ter em conta, tanto pelas suas diferentes características como pelas prestações no Lille.

Ordem de preferência: William, Rúben, Danilo, Renato Sanches, João Moutinho

Mais à frente ou como ala

A seleção tanto se tem apresentado em 442 como em 433. Na primeira opção jogadores como Bruno Fernandes e João Mário são opções para falso ala, tal como Bernardo Silva. E o já referenciado Renato Sanches, que tem jogado assim no Lille, e no Europeu 2016 jogou muitas vezes com essa função. Pizzi será outra opção a ter em conta.

Ordem de preferência: Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Renato Sanches, Pizzi

Avançados soltos e talvez um mais fixo

Na frente não dúvidas quanto ao capitão e melhor marcador de sempre da seleção. Tendo por base o 442, Cristiano Ronaldo deverá ter companhia de João Félix, Gonçalo Guedes ou Diogo Jota que tem estado em grande forma.

Na maioria das vezes, face às características dos jogadores a seleção tem optado, e bem, por jogar muitas vezes com jogadores móveis, sendo Cristiano o mais fixo.

No Euro 2016 jogou com Nani, no Mundial 2018 teve o apoio de Gonçalo Guedes ou André Silva, ficando este mais fixo. André tem sido o ponta-de-lança desde Nuno Gomes e Pauleta que tem apresentado melhores números. Depois de um época quase sempre lesionado, tem estado em boa forma no Eintracht Frankfurt. Curiosamente terá como principal concorrente o colega de equipa Gonçalo Paciência.

Éder, será sempre um nome a ter em conta, mas a sua chamada será pouco provável, e o próprio bracarense Paulinho partirá à frente.

Entre a posição de extremo no 4 do meio campo e a possibilidade de jogar na frente de ataque temos ainda a opção Rafa, importante para quando for preciso acelerar e agitar o jogo. Em circunstâncias normais será um dos selecionados. Ricardo Horta e Bruma, e o próprio Gonçalo Guedes, com características semelhantes serão alternativas dentro da mesma linha.

Ordem de preferência: Ronaldo, João Félix, Diogo Jota, Rafa, André Silva/Gonçalo Paciência, Ricardo Horta, Paulinho, Bruma e Éder.

Os “meus” 23

Guarda-redes: Rui Patrício, Anthony Lopes e José Sá

Defesas centrais: Pepe, Rúben Dias e José Fonte

Defesas Laterais: Nélson Semedo, Ricardo Pereira, João Cancelo e Raphael Guerreiro

Médio centro: William Carvalho, Rúben Neves, João Moutinho e Danilo

Médios ofensivos / Falsos Ala: Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Pizzi e Renato Sanches

Ala / Avançado: Rafa, Guedes e Diogo Jota

Avançado: Cristiano Ronaldo e Gonçalo Paciência/André Silva

Mas o europeu foi adiado um ano, o que muda?

Estas escolhas foram feitas tendo em conta o momento actual, mas sendo o europeu adiado (e bem) num ano muito coisa pode mudar. Desde já a performance que os jogadores venham a fazer na próxima época, possíveis lesões, aparecimento de novos valores e… a idade dos mais velhos.

Pegando neste último ponto, o destaque principal vai para o centro da defesa. Pepe em 2021 terá 38 e José Fonte 37. Levar os dois pode ser arriscado, e será normal que pelo menos um caia, ainda para mais se a opção for apostar convocar apenas três centrais. No entanto, salvo qualquer quebra física gigante ou lesão pelo menos um dos dois irá para ser a voz da experiência. Principalmente Pepe.

No meio campo, João Moutinho com 34, e face rotação da sua posição, poderá perder fulgor. Mas se fizer mais uma época gual a estas duas (na qual foi eleito pelos adeptos como melhor jogador) que argumentos teremos para não o chamar face à qualidade e inteligência que vai demonstrando dentro quatro linhas?

Na frente Ronaldo. Será o Ronaldo dos 36 anos inferior ao Ronaldo dos 35? Esperamos e, pelo “monstro” físico que ele é, acreditamos que vai continuar a ser decisivo.

Lado positivo? Poderemos ser o primeiro campeão europeu em título por 9 anos seguidos.

Nota: Importante todas as medidas que estão a ser tomadas. Quanto maior for o nosso sacrifício AGORA e cumprirmos as regras, mais rapidamente retomaremos a nossa vida normal. #FicaemCasa

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Bruno Costa JesuínoNovembro 18, 20198min0

Se no futebol a expressão “passar do 8 ou a 80” encaixa que nem uma luva, a análise a um treinador de futebol, aos olhos dos adeptos, pode facilmente ir do “-8 ao 800”. Muitas vezes no espaço de seis meses, 30 dias, ou mesmo um jogo. Qualquer treinador tem que ter essa noção, que o digam Bruno Lage, Fernando Santos e Sérgio Conceição, que constantemente passam de bestiais a bestas, e vice-versa.

A mudança do paradigma

Era uma vez um menino que sonhava ser jogador de futebol… Era uma vez um menino que sonhava… Era uma vez um que sonhava ser treinador de futebol.

O futebol sempre ocupou o imaginário de muito jovens, que se imaginam a jogar lado a lado, em pleno relvado, com os craques que os fazem vibrar. No entanto, esse paradigma, sofreu alterações, e ao longo das últimas duas décadas, esse sonho não se cinge apenas dentro das quatro linhas. Ao ‘sonho de menino’ de ser jogador profissional de futebol, juntou-se a aspiração de ser treinador. A isto muito se deve ao crescimento mediático e ao aumento da influência (e importância dada) ao treinador.

“Agora qualquer miúdo quer ser treinador de futebol. Qualquer ex-jogador de futebol quer ser treinador de futebol. Muitos estudantes de motricidade humana querem ser treinadores de futebol. É normal sonharem chegar ao topo, a concorrência é muita e subir a pulso na carreira é cada vez mais difícil.” (Vítor Oliveira)

Casos de sucesso como o de José Mourinho, ajudaram muito a que ser treinador se tornasse tão ‘sexy’ como ser jogador. Não é por acaso, que surgem cada vez mais jovens a apostar na carreira de treinadores ainda muito jovens, e direções dos clubes a dar oportunidades a estes. No entanto é um percurso bem difícil, principalmente nos primeiros anos, até se conseguir atingir estabilidade.

“É preciso ter alguém ao nosso lado que compreenda esse nosso sonho. Anos a investir numa carreira que pode nunca chegar a compensar.” – Paulo Fonseca

Para um treinador, os conhecimentos tácticos são a valência mais importante, mas que precisam de outras características tão transversais quanto fundamentais. Entre elas a capacidade de liderança:

“Eu peguei numa equipa que ganhou tudo. Nunca tinha treinado na primeira liga, e gerir aqueles jogadores que queriam sair e pensaram que isso não aconteceu por causa de ti, não é fácil. Com muitos foi ali bater quase de frente” – Vítor Pereira (quando assumiu o comando técnico do Porto)

No entanto essa capacidade de liderança tem que ser adaptada ao contexto da equipa que se vai treinar. Paulo Fonseca percebeu isso após chegar (talvez cedo demais) a uma equipa grande como o Porto. É importante que ao longo da carreira os erros definam uma aprendizagem, tornando o treinador mais capaz para se adaptar ao clube no qual se trabalha. Depois do Porto, Paulo Fonseca voltou ao Paços, e partir daí tem estado sempre em crescente: Braga, Shaktar e agora Roma.

 “Eu acreditava numa liderança que podia resolver tudo de uma forma aberta, mas principalmente num grupo da dimensão do FC Porto, não tens que abrir discussão a nada. Tem de ficar bem explícito quem manda.”

Em equipas grandes o ganhar é o mínimo que os adeptos exigem. Se a pressão já é muita quando se ganha, quando se perde aumenta muito mais. Por isso é que muitas vezes quando se entra num espiral negativo de resultados  é difícil inverter. Por isso, num equipa ganhadora, é importante evoluir e exigir quando se ganha para evitar potenciais relaxamentos.

“Quando ganhas ficas menos atento ao processo. É nas vitórias que tens que aumentar exigir mais da equipa.” (Carlos Carvalhal)

Numa altura em que o acesso a informação é cada vez mais maior, pede-se também que o treinador seja cada vez mais pró-activo. Que seja um criador de novas soluções, e preparar a equipa para ultrapassar as adversidades em qualquer um dos momentos do jogo. Tentar replicar um trabalho de sucesso de um treinador num determinado clube está longe de ser meio caminho andando para o sucesso num outro clube.

 “Se eu falar com um treinador jovem, ele vai-me ouvir e pensar nos pontos que lhe falei. Mas ele deve refletir e não copiar. Só faz sentido ele implementar as suas próprias ideias.” (Vítor Pereira)

Bruno, Sérgio e Fernando ‘heróis’ ou ‘vilões’?

Seja um treinador mais ou menos experiente, ex-jogador de valor ou mais desconhecido, mais duro ou mais ‘gentleman’, com um estilo de futebol mais rendilhado ou mais directo, todos são alvos da impaciência dos adeptos.

Sérgio Conceição, foi um jogador de nível internacional e conhecido por todos. Um extremo intenso, rápido e com uma raça inconfundível. Depois de uma carreira de treinador em crescendo, chegou ao seu clube do coração: o FC Porto. Numa altura em que o clube precisava de um novo rumo, intervencionado pela UEFA e a precisar de reaproveitar jogadores emprestados, a direção do Porto apostou no que denominam de “treinador à Porto”. Mesmo após uma primeira época de sucesso, não foi preciso muito para os adeptos começaram a criticar. Pedem mais qualidade de jogo, dizem que é um futebol demasiado directo, sempre à procura da profundidade e demasiado dependente das características físicas dos jogadores. Mas este estilo de jogo sempre a imagem das equipas de Sérgio Conceição, inclusive na época de estreia quando foi campeão e idolatrado pelos adeptos.

Muitas dessas críticas começaram a surgir, quando há um ano, o criticado Rui Vitória é despedido e surge Bruno Lage como timoneiro do Benfica. Um treinador com historial nas camadas jovens do Benfica e com experiência internacional como adjunto de Carlos Carvalhal. Entrou num contexto difícil, mas após a primeira vitória embalou no campeonato e até ao fim apenas perdeu 2 pontos, foi inclusive ganhar ao estádio do Dragão, e tornou-se campeão nacional. Com um futebol ofensivo, rendilhado e com muitos golos, Bruno Lage foi promovido a herói pelos adeptos do clube como se de um treinador imbatível se tratasse.

Ambos tiveram excelentes épocas de estreias, mas a memória dos adeptos é curta, e como em certo momento (em alturas diferentes), Sérgio Conceição e Bruno Lage pareceram quase imbatíveis, basta as equipas não estarem nesse máximo já visto, para serem criticadas… mesmo com “dragões” e “águias” a terem mais pontos que na época passada por esta altura (Porto +1, Benfica +7).

“Para muitos estamos acima das expectativas, para outros estamos abaixo, mas para estes estamos abaixo porque fomos nós que elevamos a bitola” –  Miguel Valença, protagonista na reportagem original do Canal 11 “O Treinador”.

Com carreiras europeias abaixo das expectativas, no campeonato, Benfica e Porto estão nos lugares cimeiros. Bruno Lage apenas perdeu 3 pontos, numa derrota com Sérgio, que perdeu na jornada inagural com o Gil Vicente e empatou na deslocação ao terreno do Marítimo.

Só um dos dois poderá ser campeão, e o que não o for, os adeptos facilmente vão esquecer tudo o que de bom já fizeram. Nem um nem outro são tão bons como os adeptos por momentos acreditaram, mas são muito melhores do que aquilo que se vai ouvindo por aí.

“As pessoas não percebem que entre o ganhar e o perder está uma linha finíssima. Entre o sucesso e o insucesso essa linha também é muito fina e que vamos chegar ao final da época com uns a rir, outros a chorar, outros assim-assim. Mas passar de um mês começa um novo campeonato e os sonhos renascem. É esta a magia do futebol.” – Vitor Oliveira

Fernando Santos e a sua carreira na seleção foi um tema que já abordei no Fair Play – ler artigo aqui – devido às inúmeras críticas que vai recebendo por parte do adeptos. Alguns dirão… “Como é possível o único treinador que trouxe títulos para Portugal ser tão criticados?” Outros criticam… “Foi campeão europeu com sorte!” ou “Um campeão europeu tem de jogar muito mais”. Eu prefiro lembrar-me do que Fernando Santos disse no primeiro dia: “Com os jogadores que temos se formos mais pragmáticos ganharemos títulos importantes”. E não é que… Não será dos melhores estrategas entre os melhores treinadores, mas parece ser um excelente líder e condutor de homens (algo ainda mais fundamental numa seleção). Aliás, Ricardo Quaresma não tem dúvidas disso, como se pode ver no vídeo abaixo:

O futebol é uma daquelas coisas da vida que tem a capacidade de puxar o lado mais irracional das pessoas, seja para o bem, seja para o mal. Para concluir, deixo duas citações, a primeira (principalmente) para os treinadores, a segunda, para todos nós.

 “Os que agora te insultam amanhã estão-te a aplaudir” (Paulo Fonseca)

“O futebol é a coisa mais importante, entre as coisas menos importante da vida.” (Vítor Oliveira)

Trailler da reportagem original Canal 11 “O Treinador”


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