História (mais ou menos antiga) do Surf, por João Boavida (parte 1 de 3)

Palex FerreiraFevereiro 12, 20188min0

 História (mais ou menos antiga) do Surf, por João Boavida (parte 1 de 3)

Palex FerreiraFevereiro 12, 20188min0
João Boavida conta a História do Surf indo até ao passado histórico, aos "mitos", aos primeiros surfers e outros pormenores. Conhecias a História do surf?

Fomos ao encontro de um grande apaixonado do surf caparicano e nacional desde a sua génese em Portugal, João Boavida, surfista, um dos criadores do Museu do Surf – AHMS (na LufisurfStore) , caçador de arco e flecha, e ótimas histórias sobre a sua vida, sempre que possível, fomos até ele para nos contar a sua versão da História do surf em Portugal e como surge no mundo.

História (mais ou menos antiga) do Surf – por João Boavida

 A história acontece em simultâneo em muitos sítios diferentes.

E não é fácil escrever sobre este assunto sem omitir alguns factos, porque os ignoramos ou porque, embora com muita importância, há uma hierarquia de valores nas brumas do tempo…

Por outro lado, quem conta uma história fá-lo à sua maneira, dando relevo ao que considera mais importante…Neste caso, preferi escrever um pouco mais sobre a história antiga e desconhecida para muitos, do que relatar factos da época mais recente.

No que diz respeito ao Surf em Portugal, não será  fácil estabelecer uma data certa para o início da prática desta modalidade, tanto que a mesma tem várias nuances ou formas de ser praticada, todas elas mais ou menos válidas…Lá iremos!

O que se sabe é que em todas  as costas por esse mundo fora, com temperaturas de água agradáveis, pelo menos no Verão, e com algumas ondas, os habitantes locais desde sempre gostaram de nadar e brincar no mar.

Por outro lado, se há a necessidade de pescar longe da margem,  e de passar a rebentação com alguma segurança, quer na ida quer na volta, as embarcações desenvolveram características que lhes permitem passar a onda, ou voltar com a ajuda dela para terra. É o caso dos “caballitos de totora”, no Perú, pequenas embarcações feitas de junto, ou dos nossos Meias-Luas, característicos das zonas de Ílhavo e da Costa da Caparica. E sendo assim,  “correr ondas” já existe por lá, por cá, e há muito tempo, em todo o lado que o permita.

Caballito de Totora no Peru. Fonte: AHMS
Anos 50,  Costa da Caparica. Fonte: AHMS

No entanto, foi o retorno ao mar e às praias, verificado no início do século XX, que massificou a natação no mar, e as brincadeiras nas ondas, nomeadamente as chamadas “carreirinhas” ou “ratinhos”, que serão a forma mais simples e acessível do “bodysurf”.

Bodysurf, foto de 1912 Hawaii (fonte: AHMS)

E foi no Hawaii que tudo é dado a conhecer… desde que Mark Twain e Jack London visitaram as ilhas, e transmitiram ao mundo o que viram, no início do Séc. XX..

Séc 18, surfistas havaianas… Fonte AHMS
Histórias do Havaí Fonte: AHMS
Jack London, com prancha primitiva. Fonte: AHMS

Mas já haviam relatos, através dos visitantes que lá chegavam de barco, aquando da chegada às ilhas no século XVIII.

E através dos próprios praticantes locais, que quiseram divulgar a sua modalidade…nomeadamente o olímpico Duke Kahanamoku, e o menos conhecido  luso havaiano George Cunha… Foram eles, ambos grandes nadadores, que levaram o surf aos Estados Unidos  (com George Freeth,1912, Califórnia) e à Austrália.

E estamos a falar nos anos 20…Sem dúvida que os grandes responsáveis pelo salto do surf desde as ilhas havaianas para o resto do mundo, são estas personagens, entre outras de sobejo valor e notoriedade, como o californiano Tom Blake, um soul surfer pouco mais novo que o Duke e inventor da quilha para pranchas de surf, que se fixou no Hawaii, para estar mais perto donde tudo acontecia!

Viagem à Austrália…George Cunha à esquerda da foto, o empresário a meio e o Duke do lado direito. Fonte: AHMS
Duke Kahanamoku. Fonte: AHMS
Tom Blake, o primeiro soul surfer e waterman completo! Fonte: AHMS
A primeira Quilha (1935) feita por Tom Blake. Fonte: AHMS
Tom Blake em Santa Mónica Fonte: AHMS

George Douglas Freeth, nascido em 1883 no Hawaii e de descendência real havaiana, amigo do Duke e reconhecido surfista, foi citado por Jack London aquando da sua visita ao Hawaii, como exemplo dum típico e atlético surfista local. É tido como o pai do surf nos Estados Unidos, e como o primeiro nadador salvador a sério, com 78 salvamentos confirmados, em Redondo Beach e San Diego, para onde se mudou em 1907. Morreu cedo, vítima da pandemia de gripe, em 1919. Esteve envolvido no desenvolvimento da paddleboard de salvamento.

George Freeth Fonte: AHMS

Mas anteriormente, em 1885, três príncipes havaianos foram estudar para os Estados Unidos; e enquanto lá estiveram, fizeram surf em Santa Cruz! A semente foi lançada bastante cedo.

Príncipes havaianos (Fonte: AHMS)

E as ondas começam a chegar também à Europa, primeiro através da Inglaterra. Depois de visitar o Hawaii e os Estados Unidos, alguns destemidos tentaram, em águas europeias, imitar o que tinham visto e na sua forma mais simples; estamos a falar das duas primeiras décadas do séc. XX.

Nigel Oxenden, do primeiro clube de surf inglês, em 1923 (Fonte: AHMS)
Carreirinhas com paipos, anos 20, Inglaterra (Fonte: AHMS)
As chamadas “tábuas de tampa de caixão”… Cornualha, anos 20 (Fonte: AHMS)

O Principe de Gales e o Lord Mountbatten, anos vinte, depois da influência duma visita ao Hawaii e Estados Unidos…Stand-up surfing, uma excepção ao que se via na Inglaterra na altura,!

As chamadas “tábuas de tampa de caixão”… Cornualha, anos 20 Fonte: AHMS

Aqui teríamos que fazer uma pequena nota: se o stand-up surfing aparece na Europa continental em datas posteriores, as modalidades mais simples de andar nas ondas, como o paipo, o matt surfing (colchão insuflável), ou as carreirinhas (um arremedo do actual bodysurf) já existiam desde o início do século passado. Como chegaram cá? Não se sabe ao certo. Talvez porque era natural aparecerem.

É, contudo, na Austrália que o surf tem o seu segundo boom, tendo em conta a célebre visita do Duke e do George Cunha, em 1915, que teve um impacto enorme. É de salientar que a Austrália tinha já há bastante tempo a prática organizada do salvamento marítimo, logo perfeitamente receptiva a uma modalidade desportiva deste tipo…:e o bodysurfing era prática corrente.

Logo a seguir à visita, começaram a ser usadas pranchas em madeira sólida, tipo toothpick/paddleboard, 16 pés,  para um surf de pé com pouca manobra. No entanto, só na década de 50 é que houve o grande salto, depois da visita duma equipa americana/havaiana de nadadores salvadores, surfistas, que participaram num  Surf Carnival, levando pranchas de fibra de vidro e balsa, com uma capacidade de manobra perfeitamente diferente!

No final dos anos 50, princípio dos anos 60, este desporto aumentou de popularidade em flecha, com o uso do foam e com inovadores shapers australianos…e assim a Austrália passou a ser a segunda grande potência mundial.

Agradecemos ao João Boavida, por este documentário sobre o surf e a sua história. e ficaremos a aguardar pelo contributo.

#Aloha


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