Seleções Regionais de XV Femininas – mais um degrau na escada da evolução

Nuno Luís LopesJaneiro 16, 20184min0

Seleções Regionais de XV Femininas – mais um degrau na escada da evolução

Nuno Luís LopesJaneiro 16, 20184min0
Começa-se a dar os passos certos para o rugby feminino em Portual com o início dos treinos Seleções Regionais de XV Femininas. Quando? Como? Tudo no artigo

No passado dia 14 de Janeiro tiveram lugar os primeiros treinos de Seleções regionais femininas de XV (Norte/Centro na Moita da Anadia e Lisboa/Sul o Jamor) que manifestaram uma interessante adesão e deixaram uma atmosfera promissora para o próximo treino e jogo a dinamizar nos dois próximos fins-de-semana.

Deve destacar-se o interesse e compromisso da Federação Portuguesa de Rugby na preparação destas equipas, que no caso de Lisboa contou com a presença dos treinadores Tomaz Morais, Henrique Garcia, Martim Aguiar e Rui Carvoeira, uma concentração de técnicos invulgar para o contexto do rugby feminino, que muito se saúda.

Paralelamente, foram dinamizadas nos mesmos locais, as seleções regionais de sub-18, procurando igualmente estimular e potenciar este escalão de formação que importa desenvolver e consolidar.

No Jamor, as jogadoras seniores de um conjunto muito alargado de equipas da área metropolitana de Lisboa, (que contou inclusivamente com jogadoras vindas do CRÉvora que estão a reorganizar a sua equipa feminina) fizeram por bem aproveitar estes raros momentos em que puderam treinar XV e com um número de jogadoras que permite uma dinâmica e alegria de jogo nem sempre possíveis no contexto dos seus clubes.

Com a perspetiva de aprofundar o conhecimento relativo ao Movimento Geral do Jogo de XV, as jogadoras foram evoluindo por um conjunto de exercícios que procuraram estimular a observação e interpretação da defesa, a comunicação e a tomada de decisão, procurando um sistema de continuidade/progressão entendido ajustado às características das jogadoras nacionais.

Se por um lado ficou bem patente o empenho e compromisso de todas, que por estes dias esquecerão as naturais rivalidades entre equipas e construirão em conjunto estas equipas regionais, também se diagnosticaram algumas lacunas que importa abordar, designadamente ao nível da técnica individual.

A inconstância da direção, velocidade e tensão do passe, a receção da bola no peito e a dificuldade manifesta por algumas no transporte da bola nas duas mãos, limitou muitas vezes a dinâmica do movimento coletivo, condicionando as soluções de procura e ataque do espaço disponível, tão precioso no Rugby de XV.

Importa realçar que um grande número das jogadoras presentes nunca terá jogado XV e terá certamente dificuldade quando o contacto não for condicionado e surgir a necessidade de acudir a um grande número de rucks, com a novidade do jogo no chão com um maior número de jogadoras a chegar e contestar o espaço e a posse de bola.

A dinâmica do movimento coletivo vai então depender da eficácia e velocidade de reciclagem da bola, sendo que o atraso de poucos segundos na disponibilização desta significará muitas vezes a reorganização da defesa e o retomar de movimentos para provocar a concentração da defesa e a reconquista de novos espaços a explorar.

A técnica de contacto vai certamente ser desafiada nos próximos treinos (particularmente no jogo!), sempre no sentido da conquista da linha da vantagem que obriga a defesa a recuar e possibilita o jogar nas suas costas, abrindo normalmente boas perspetivas ao ataque se a execução for competente e rápida.

Se uma das bondades da variante de Rugby de X, que teve este ano um Circuito Nacional Feminino muito participado, é o de ter formações ordenadas com 5 jogadoras, importará agora acrescentar uma terceira linha e construir a solidez desta fase estática para que se chegue ao rugby de XV, que permita acolher e integrar um maior número de jogadoras. Não será razoável esperar que isto aconteça espontaneamente mas importa que os clubes desenvolvam algumas iniciativas, que podem e devem ser catalisadas pela Federação.

Não sendo ainda evidente para todos os responsáveis do rugby feminino que se deve caminhar para uma igualdade de género no rugby nacional, fica evidente a bondade da opção estratégica da Federação que foi muito acarinhada pelas jogadoras selecionadas. Ficou óbvio para todos que se estão a dar os primeiros passos, que merecem continuidade e investimento, tendo presente que construir é bem mais demorado e trabalhoso do que desfazer o que existe.

Cabe a elas garantir o sucesso destas e outras iniciativas que daqui decorram, para que em poucos anos se consiga aumentar consideravelmente o número de praticantes, aumentar os escalões de formação (a qualidade exige tempo!) e podermos assistir a competições de XV estruturadas e desejavelmente, equilibradas.

Com o tempo virá a possibilidade de uma representação nacional feminina de XV. Quando lá chegarmos, podemos acreditar que estamos no rumo certo do desenvolvimento do Rugby feminino em Portugal.

Foto: Luís Cabelo Fotografia

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS