Seis Nações 2018 – País de Gales: é para ganhar Sr. Gatland?

Francisco IsaacJaneiro 8, 20188min0

Seis Nações 2018 – País de Gales: é para ganhar Sr. Gatland?

Francisco IsaacJaneiro 8, 20188min0
Mais um artigo sobre as Seis Nações e desta vez visitamos a gruta do Dragão Vermelho do País de Gales... é este o ano de Gatland? Ou é para esquecer?

Desde 2013 que os galeses não sabem o que é ganhar nas Seis Nações e desde 2013 que a qualidade de jogo galesa tem caído abruptamente e, por vezes, de forma catastrófica. O culpado para muitos? Warren Gatland. O kiwi que lidera a selecção dos Dragões Vermelhos desde 2007 (sim, 11 anos à frente de uma das selecções mais emblemáticas do Mundo do rugby) está agora com todos os olhos em cima de si.

Depois de uma “vitória” nas Series dos British and Irish Lions (sim, um empate final contra a Nova Zelândia foi entendido como quase uma vitória para os britânicos), agora o público galês quer resultados da sua selecção que pode estar à beira do “fracasso”. Porquê?

Jogos insípidos e sem sabor, sem aquela qualidade que outrora fizeram dos galeses uma formação temível, com uma velocidade que transita do rápido para o extremamente lento e sem fluidez, Gatland precisa de virar a “mesa” e enviar uma mensagem, principalmente para os seus parceiros das Seis Nações.

Mas o que devemos ver mais a fundo para além destas críticas iniciais?

REFORMULAÇÃO DA GATLAND LAW

O quase-fim da Gatlland’s Law, traduzido por Lei de Gatland em alusão à regulamentação imposta pelo seleccionador para o uso de jogadores que não tenham contrato com a Federação do País de Gales, pode beneficiar o futuro dos Dragões de Cardiff. Até 2017, só três jogadores que estivessem a jogar fora de portas, é que podiam ser convocados. A somar a isso, os jogadores que tenham completado 60 internacionalizações podem agora ser convocados, estejam a jogar na Escócia ou Austrália.

Façamos um pequeno exercício em como esta lei ajuda em muito a convocação para o torneio… sem a nova reformulação, Gatland teria que escolher três nomes destes todos: Thomas Francis, Rhys Priestland, Owen Williams, Dan Biggar, Jamie Roberts, Liam Williams, Scott Andrews e Taulape Faletau. Agora, pode escolher quatro… todavia, a nova legislação continua carregada de problemas

Rhys Webb, formação que agita o jogo galês sempre que entra em campo, vai assinar pelo RC Toulon no próximo verão e… só tem 28 internacionalizações. O que é que isto significa? Que não é elegível para jogar pela selecção do País de Gales. Ao não ter 60 internacionalizações, o formação fica automaticamente riscado de futuras convocatórias.

Posto isto… Gatland volta a ter direito a 4 convocados fora dos contratos do País de Gales, mas todos aqueles jovens que joguem fora do país, estão imediatamente riscados. Qual é a ideia? Forçar esses jogadores a ficarem no País de Gales, tentando impor limites ao mercado e aos contratos milionários. Warren Gatland é um “sábio” no jogo sujo e esta foi uma forma de tentar “salvar” (se é assim que se pode entender) o rugby galês.

Comprar a vontade dos jogadores, forçando-os a ficar no País de Gales até atingir as 60 internacionalizações para depois estarem habilitados a jogarem fora do espaço Nacional.

E o que isto provoca? A curto-prazo, Gatland pode ter os melhores disponíveis para os próximos jogos, garantindo Biggar e Webb (o primeiro já tem as tais 60 e assim pode sair para França), Faletau e Francis, Roberts e os Williams. Isto significa que vamos ter o melhor País de Gales dos últimos cinco anos.

LIAM WILLIAMS: A FLECHA PARA O ENSAIO

O ponta/defesa dos Saracens (para os adeptos que perguntam se Liam Williams ficara ilegível em jogar pela selecção com a nova lei, a resposta é não, uma vez que o contrato com os ingleses foi assinado pré-reformulação) é um jogador completamente diferente, com um poder de explosão formidável e que altera por completo o jogo.

Com 45 internalicações pelo País de Gales, Williams faz diferença a partir da ponta, com um físico invejável, a lembrar os melhores tempos de George North, que faz tremer os seus marcadores directos. No jogo ao largo é incapacitante o que pode fazer com a oval nas mãos, apresentando uma agressividade ofensiva fundamental para quebrar a linha defensiva. Foi assim com a Irlanda, Inglaterra e Escócia, com Liam Williams a aproveitar o espaço para infligir o máximo de dano possível.

Mas o que há mais a dizer sobre Williams? Inteligente sem a bola nas mãos, com um bom trabalho de comunicação, ajudando a equipa a montar a “manta” defensiva com qualidade, exigindo o máximo dos seus colegas do lado. É um bom placador, completo e que não desiste… está melhor neste momento que Alex Cuthbert, Scott Williams, Hallam Amos ou George North e isto é dizer que é o melhor ponta do País de Gales.

O jogo ao pé é outro dos seus pontos fortes, conseguindo montar uma boa estratégia de kick and chase, que Halfpenny já não tem (o defesa tem outras valências que forçam Williams a ficar com “residência” à ponta). Williams lê bem a disposição defensiva da equipa adversária, iniciando bons contra-ataques seja a partir do jogo ao pé ou de atacar os espaços concedidos pelo par de centros adversários.

THE RISE OF THE NEW WILLIAMS… OWEN WILLIAMS!

Em terra de galeses, o nome Williams é um dos mais comuns, principalmente no Mundo do rugby galês. Para além de Scott Williams e Liam Williams, segue-se Owen Williams. Jogador do Gloucester, estreou-se nos Internacionais de Outono pelo País de Gales… três internacionalizações, 33 placagens (98% de eficácia), 10 linhas defensivas conquistadas e um jogador altamente disponível para fazer o jogo “rodar”.

Owen Williams aparece na melhor altura possível, já que Jamie Roberts já não tem o “pulmão” e a fisicalidade de outrora, sendo necessário um novo homem-forte no centro do terreno. Warren Gatland encontrou no jogador dos Leicester Tigers o atleta certo… placador exímio, difícil de aguentar no primeiro contacto e participativo no ataque, Owen Williams é uma das novas forças do rugby galês.

Vai fazer com Jonathan Davies uma das melhores duplas de centros nas Seis Nações e poderá ser uma forma de garantir uma “ponte” de jogo necessária para os galeses atacarem equipas como a Escócia ou Irlanda… contra a Inglaterra dependem muito da participação do 5 da frente no jogo corrido.

AS TORRES DE GALES PROTEGEM O REINO DO DRAGÃO?

Com um dos mais emblemáticos jogadores a nível mundial ainda a jogar na selecção, Warren Gatland não tem só um grande jogador, mas também um espectacular capitão… de quem falamos? Alun Wyn Jones. O 2ª linha dos Ospreys pode “facilmente” chegar às 130 internacionalizações nos próximos dois anos, tendo neste momento 113.

Mas o que vale Jones para o jogo dos galeses? Não é só pela forma como luta no alinhamento, como trabalha na formação ordenada ou como se sacrifica nos rucks, é pela forma como evoluiu nos últimos anos, sendo dos avançados que participa melhor no jogo aberto e ofensivo do País de Gales, com altos skills que tornam-o um dos melhores a nível mundial.

A idade já pesa, mas também ajuda na altura de liderar tropas, de exigir o máximo dos seus colegas e de garantir o melhor (ou, pelo menos, que dêem tudo) que há para dar.

O 5 da frente do País de Gales será fundamental para tentar chegarem longe nas Seis Nações em 2018… se quebrarem, todo o jogo dos galeses “despedaça-se” e isso pode ser um problema.

A PREVISÃO DO FAIR PLAY

Terminarão atrás da Inglaterra, Escócia e Irlanda, já que o nível exibicional dos galeses está muito atrás das suas congéneres das Ilhas Britânicas. Um rugby pouco “alegre” e total, que vive de individualidades ou pequenos momentos de genialidade.

O grande jogo de abertura é contra a Escócia, viajando de seguida até a um reduto que não ganham desde 2015, Twickenham (na altura eliminaram os ingleses do “seu” Mundial), para lutarem contra a Inglaterra. De seguida, a Irlanda em Dublin, terminando em casa com uma dupla jornada contra a Itália e França… que pode garantir pelo menos um 4º lugar na edição de 2018.

Os testes de fogo começam cedo e será fundamental que consigam fazer algo diferente… não há Jonathan Davies, Sam Warburton, Taulupe Faletau, Ross Moriarty e Dan Lydiate, sendo que destes todos só Faletau é recuperável para os últimos jogos. Péssimo presságio para Gatland.

MVP DO PAÍS DE GALES: Liam Williams (Saracens RFC)
MELHOR AVANÇADO: Alun Wyn Jones (Ospreys)
MELHOR 3/4’S: Liam Williams (Saracens RFC)
SURPRESA: Owen Williams (Leicester Tigers)
XV TITULAR (PROVÁVEL): Rob Evans, Ken Owens, Tomas Francis, Jake Ball, Alun Wyn Jones, Aaron Shingler, Josh Navidi, Justin Tipuric, Rhys Webb, Dan Biggar,  Liam Williams, Owen Williams, Scott Williams, Hallam Amos e Leigh Halfpenny

O Melhor jogo do País de Gales nas Seis Nações 2017


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