Reviravoltas de Sydney a Hamilton – Ronda 5 Super Rugby 2018

Francisco IsaacMarço 18, 20187min0
Um fim-de-semana de reviravoltas no Super Rugby com a melhor de todas a ser entre Waratahs-Rebels, que ditou o fim da invencibilidade da equipa de Melbourne!

BROADIE RETTALICK E O REGRESSO DO TERMINATOR 3.0

Finalmente o rugby neozelandês, Steve Hansen e os adeptos dos All Blacks tiveram a notícia pela qual todos esperavam: Broadie Retallick está de regresso. Não é de regresso à competição (isso já tinha acontecido logo na segunda ronda) mas sim às grandes exibições. No encontro frente aos Bulls, em que os Chiefs estiveram a perder até aos 55 minutos, o 2ª linha foi fundamental para a sua equipa.

Com dois ensaios, três quebras-de-linha, 60 metros com a bola nas mãos, Rettalick parecia um 3ª linha ou mesmo centro a sair disparado no ataque, sem que ninguém o conseguisse parar como ilustrou bem no seu primeiro ensaio: captação da bola à ponta, finta de passe e depois nem Odendaal, Gellant (grande exibição do defesa sul-africano) ou Jager a conseguirem placar o 2ª linha.

Um gigante na captação das bolas no alinhamento (9 em 9) e um exímio trabalhador nas fases mais “pesadas”, Retallick finalmente marcou o seu regresso à competição de uma forma inesquecível. Os Chiefs foram de 21-28 para 41-28 em 25 minutos… com 13 jogadores no “estaleiro”.

O JOGO DOS QUASE 80 PONTOS… QUE NÃO FOI ESPECTACULAR

As coisas não estão grande coisa para os lados de Ellis Park, já que os vice-campeões de 2016 e 2017 apresentaram sérias dificuldades no jogo contra os Sunwolves, uma irrequieta e rápida formação japonesa nesta temporada. Os Lions ganharam por 40-38 e tiveram um daqueles calafrios que deverá ficar durante algum tempo na memória dos sul-africanos.

Mas com quase 80 pontos no total, bem divididos pelas duas equipas, não terá sido este encontro um hino ao rugby? De forma alguma. Sobretudo foi um show de “horrores” no que concerne à eficácia em certos perímetros do jogo. Veja-se os Lions: 5 bolas perdidas nos rucks, 7 avants, 4 passes errados que terminaram fora das quatro-linhas ou no chão e duas bolas roubadas no contacto.

Mapoe, Vorster, Jantjies e Cronjé foram responsáveis por três erros próprios cada, com a dupla de médios a realizar um jogo muito pobre no que toca ao set-piece, à leitura do ataque ou no liderar das operações.

Os Sunwolves aproveitaram estes erros para irem somando pontos, lutando pelo resultado até ao apito final, impondo sérias dificuldades a uma equipa que supostamente ia ter um jogo menos complicado do que foi. Syws de Bruin vai ter muito trabalho pela frente, e a forma como o seu homólogo dos japoneses expôs as fragilidades dos sul-africanos é preocupante para a suposta melhor equipa sul-africana.

DEFENDER E DEFENDER À LEI DA BRAD THORN

Jogo muito “cinzento” em Buenos Aires entre Jaguares e Reds, com a equipa de Queensland a sair da Argentina com uma vitória por 18-07… mas o que interessa é ganhar e como se chega a esse objectivo pouco ou (quase) nada interessa! Brad Thorn, o antigo All Black é o treinador destes koalas, decidiu implementar alguns conceitos obrigatórios nos Reds: compromisso, trabalho duro e espírito de sacrifício.

Não há espaço para grandes invenções, pois o objectivo é engrandecer a equipa através de trabalho e excelência em certos pontos do jogo. Em termos de fases estáticas não perderam quase nenhuma, fazendo bom uso das saídas de alinhamento ou na estabilidade garantida das formações ordenadas.

Mas onde foram exímios foi na defesa… 88% de sucesso nas tentativas de placagem, com 95% entre os seus 22 e a área de ensaio, sendo a chave da vitória frente aos irritantes e confiantes Jaguares (não esquecer que tinham ganho aos Waratahs a semana passada). Caleb Tibu foi um dos melhores da formação de Queensland, com 18 placagens assertivas e todo uma raça e um trabalho físico que devem ter deixado orgulhoso Brad Thorn.

Marcar nas poucas oportunidades que se tem, gerir bem a bola e garantir que o adversário não tem oportunidade para inventar muito, são alguns traços destes Reds em 2018. Mas defender (muito) bem chega para atingir os playoff? Ou a equipa tem que começar a arriscar um pouco mais na saída com bola?

WARATAHS DO INFERNO AO CÉU EM 80 MINUTOS!

Primeira-parte: 10-20 a favor dos Melbourne Rebels. Segunda-parte: 51-27 para os Waratahs. É impressionante como é que uma equipa consegue em 40 minutos marcar 41 pontos, pondo fim à invencibilidade de um inesperado rival directo, assim como sossegou as críticas que andavam a ser alvo de.

Como se explica esta reviravolta? Os Waratahs tiveram uns primeiros 40 minutos de apatia geral, com vários erros seja na combinação de jogadas (Folau bem que pedia a bola mais cedo do que recebeu por exemplo), no carregar da oval (o primeiro ensaio dos Rebels resulta numa bola que salta das mãos de Foketi para as Tom English com o centro a marcar o ensaio de forma descansada) ou nas fases estáticas (sucumbiram sempre na saída a partir do maul).

Os Rebels aproveitaram a fraca postura dos tah’s a defender, num jogo com vários erros de ambas as partes, a maioria de placagem (no final do encontro ambas as equipas tinham falhado 55 placagens em 182 tentativas) ou de postura (a quantidade de turnovers que as avançadas conquistaram neste sector foi “assustadora”, com 14 TO).

Nos segundos 40 o jogo mudou de “ventos” com os Waratahs a carregarem e apresentarem um ataque mais organizado, onde Foley teve a sua influência mas foi Kurtley Beale a dar a velocidade e intensidade que é necessário. Os Rebels falharam placagens inacreditáveis e o último ensaio de Taquele Naiyaravoro é uma prova dessa postura completamente errada, apática e sem “paixão” que a formação de Melbourne apresentou na segunda metade do encontro.

Os Waratahs respiram agora um pouco melhor, mas ainda estão em 3º lugar a 5 pontos dos Rebels que ainda vão mantendo o seu 1º lugar na Conferência.

A GUERRA DOS SET-PIECES ENTRE SADERS E LANDERS

Um dos melhores adjectivos para o jogo entre Highlanders e Crusaders é: curto. Curto porque as equipas tiveram muito pouco espaço para explorar as costas dos adversários, curto porque ambas as equipas não queriam arriscar em demasia e jogaram num espaço mais reduzido do terreno. No final dos 80 minutos a equipa que acabou por conseguir arriscar mais saiu com a vitória.

Os Highlanders arrancaram assim uma vitória por 25-17, o que lhes não só lhes dá o primeiro lugar da conferência, mas manteve-os como a única invencível da competição e ainda tiraram o ponto de bónus defensivo dos Crusaders.

Mas até foram os campeões em título que começaram melhor, com um ensaio de laboratório de George Bridge. Alinhamento, bola rápida, 9 para 6 e 6 para o 10 que dá uma boa bola a um lançado ponta que aproveita o buraco para fugir. É um ensaio daqueles estudados e que acaba por sair bem porque há as ferramentas para tal.

Todavia, a excelência dos Crusaders foi definhando com o passar do tempo de jogo, muito por culpa da ausência de um médio-de-abertura que conseguisse operar bem as linhas de ataque, com Mitch Hunt a errar na maioria das decisões tomadas durante o encontro. Em sentido contrário, Lima Sopoaga foi excelente com a bola nas mãos com um ensaio (um side step que deixou Taufua sem reacção) e ao pé (não tanto aos postes, mas no decurso de jogo, colocando pressão nos jogadores dos Crusaders) ganhando a frente neste jogo.

Foi no trabalho nos pormenores que os Highlanders ganharam o jogo, com a avançada a demonstrar uma agressividade que pode trazer muito bons resultados durante esta época. Destaca para Luke Whitelock, que merece um olhar atento por parte de Steve Hansen, já que é um 8 forte, competente e resistente aos impactos de jogo.

DESTAQUES

MVP da Ronda: Broadie Retallick (Chiefs)
Jogo da Ronda: Chiefs-Bulls
Placador da Ronda: Tom Franklin (Highlanders)
Agitador da Ronda: Jordie Barrett (Hurricanes)
Vilão da Ronda: Ross Cronjé (Lions)


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