Portugal no Rugby Europe Championship 2022: os destaques da época

Francisco IsaacMarço 25, 20228min0

Portugal no Rugby Europe Championship 2022: os destaques da época

Francisco IsaacMarço 25, 20228min0
A campanha dos Lobos acabou no Rugby Europe Championship de forma amarga, e Francisco Isaac olha para o que foi a prestação portuguesa

Não acabou da melhor forma o Rugby Europe Championship 2022 para o rugby português, com os “Lobos” de Patrice Lagisquet a terminarem no 4º posto na corrida para o Campeonato do Mundo de Rugby, que se realizará no próximo ano em França, ficando assim à porta do maior evento desportivo da modalidade, apesar de grandes esforços e excelentes exibições conseguidas nestes dois últimos anos, podendo ser entendido como o ponto de partida para o que há ainda de vir no futuro próximo.

Com o fim da campanha, é altura de olharmos para alguns dados, factos e números que nos ajudam a perceber a extensão das prestações da selecção Nacional ao cabo de quatro jogos – lembrar que o encontro frente à Rússia não se realizou, com a Rugby Europe a adicionar 4 pontos de vitórias a Portugal -, e começamos com um detalhe curioso: os “Lobos” sofreram menos pontos e ensaios em 2022.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS?

Comparando as duas temporadas do Rugby Europe Championship, Portugal concedeu menos 9 ensaios e 41 pontos, sofrendo mais pontos através de penalidades apontadas aos postes, subindo de 3 sofridas em 2021 para 9, naquilo que pode ser compreendido como uma estratégia dos adversários de evitarem arriscar em fases-estáticas e apostarem em pontos seguros, algo vislumbrado, por exemplo, contra a Roménia, onde Ionel Melinte converteu 9 pontos só a partir deste ponto.

Se os “Lobos” obtiveram melhores registos defensivos contra a Geórgia (menos 4 pontos) e Países Baixos (menos 25 pontos), o mesmo não aconteceu contra a Espanha (mais 5 pontos sofridos) ou Roménia (mais 9 pontos sofridos), tendo sido aquilo que talvez fez a diferença , pois os “Lobos” sofreram praticamente o mesmo número de ensaios (a Roménia marcou mais um) contra estes dois últimos adversários em ambas as épocas.

Os “Lobos” registaram uma pior indisciplina tanto em Bucareste como Madrid, principalmente nas segundas-partes, consentido aí 9 e 7 penalidades, respectivamente, que ofereceram outro espaço de manobra aos “Leones” e “Carvalhos” na luta por um lugar no Campeonato do Mundo, com um total de 98 pontos e 11 ensaios consentidos.

E o ataque? 139 pontos marcados, divididos em 19 ensaios, 13 conversões e 6 penalidades, o que significou um registo “pior” se compararmos com 2021, isto talvez devido pela não realização do jogo contra a Rússia (não foi dado qualquer resultado ou pontuação final), tendo na época anterior atingido 199 pontos, 25 ensaios, 21 conversões e 9 penalidades, ou seja, uma queda geral em todos os vectores. Olhando para os quatro embates de 2022, Portugal marcou mais pontos só contra a Geórgia (9), igualou contra a Roménia (27 pontos), sendo que contra Espanha (menos 15) e Países Baixos (menos 3) deu-se menor fluidez ofensiva.

Com um ataque menos eloquente contra os dois rivais directos pelas vagas do Mundial de Rugby, e uma defesa que acabou por ceder mais pontos contra esses dois mesmos adversários, os “Lobos” acabaram por tropeçar na corrida ao Campeonato do Mundo, isto até depois de terem iniciado a campanha de 2022 com um empate memorável contra a Geórgia, a selecção que viria a garantir novamente o título de campeã do Rugby Europe Championship.

ESTREIAS E MUDANÇAS

Existem mais diferenças entre 2021 e 2022? Sim, e vamos focar duas que podem ajudar a explicar alguma da instabilidade exibicional de Portugal: número de jogadores utilizados e número de atletas que alinharam nos 4 jogos desta temporada. No ano passado, Patrice Lagisquet e a equipa técnica nacional lançaram cerca de 33 jogadores, enquanto em 2022 o número passou para os 36, com as estreias absolutas de João Dias, Steevy Cerqueira, Cody Thomas e Vincent Pinto, mantendo assim o núcleo “duro” da equipa quase inabalável. Porquê quase?

A começar pela ausência forçada de Mike Tadjer – lesão grave a nível do joelho -, passando depois pela pouca utilização de João Granate (em 2021 alinhou nos 5 encontros e actuou quase a totalidade dos 80 minutos, para em 2022 só ter jogado a titular em dois jogos, e suplente noutro), Nuno Sousa Guedes (as lesões só permitiram ao 15 realizar um jogo, frente aos Países Baixos), Jerónimo Portela (também falhou um encontro por lesão, frente à Roménia, tendo se sentido a falta nesse embate) e Raffaele Storti (mazelas físicas limitaram a sua utilização, que passou de 360 minutos de 2021 para uns meros 57 em 2022), o que acabou por trazer instabilidade ao sistema de jogo dos “Lobos”.

Só dois jogadores foram totalistas de minutos neste Rugby Europe Championship 2022, sendo eles José Madeira e Rodrigo Marta, que curiosamente foram dois dos melhores atletas desta temporada, não só pelo impacto com bola, mas por todo o trabalho noutros sectores.

Contudo, há uma nota importante a reter… Portugal ficou a 6 pontos de uma reviravolta contra a suposta melhor Espanha dos últimos 30 anos, o que deve servir de nota importante para perceber que Portugal não esteve longe de assegurar um feito histórico, falhando-o não por causa da derrota em Madrid, mas, possivelmente, pelos pontos bónus perdidos no decorrer dos dois anos, ou pelo desaire na última bola de jogo consentido ante a Roménia no Jamor, isto quando os “Lobos” estiveram na frente do resultado toda a segunda parte. Outro dado “importante” é o facto da selecção nacional ter perdido três pontos bónus (dois de defesa e outro de ataque) e quatro de vitória na última bola de jogo, o que bastaria para chegar ao 2º lugar ou, se contarmos só os pontos bónus, o 2º lugar dividido com Espanha.

MELHOR JOGADOR: JOSÉ MADEIRA (AVANÇADOS) E SAMUEL MARQUES (3/4’S)

O que dizer de José Madeira, que aos 20 anos começa a sedimentar um lugar como uma das peças-nucleares do XV nacional, muito devido ao seu alto índice de trabalho sem bola, oferecendo um apoio exímio ao portador de bola ou à subida da linha-de-defesa, garantindo, por outro lado, uma estabilidade total nas fases-estáticas e uma disputa minuciosa no breakdown (cinco turnovers em 2022), o que faz do 2ª linha do Grenoble Rugby um dos grandes futuros da oval lusa. Com 320 minutos realizados, José Madeira marcou um ensaio, praticamente chegou às 50 placagens, e impôs-se como uma das unidades de maior mobilidade e suporte dos “Lobos”.

Nos 3/4’s, a escolha não foi tão óbvia (mesmo nos avançados, ficámos entre José Madeira, Francisco Fernandes e Rafael Simões) ou fácil, já que Tomás Appleton, José Lima, Rodrigo Marta e Samuel Marques foram simplesmente excelentes em toda a campanha, com a nossa opção a recair no formação português. 30 pontos marcados, 3 assistências, Samuel Marques criou sucessivas dificuldades às equipas contrárias, tanto a partir do jogo ao pé, com grubbers e pontapés altos inesperados, como pelas mudanças rápidas de direcção de jogo que procuraram criar brechas nas defesas opositoras, isto sem falar do seu sentido de oportunidade, como se viu no encontro frente à Roménia, por exemplo.

A classe de Samuel Marques foi decisiva em 2021 e, em 2022, voltou a ser importante para que Portugal se mantivesse na luta por um lugar no Campeonato do Mundo, mostrando toda uma eloquência na distribuição de jogo que fará saudades quando deixar de estar presente nas convocatórias, com 107 pontos amealhados na combinação deste biénio do Rugby Europe Championship.

JOGADOR QUE MARCA A ÉPOCA: FRANCISCO FERNANDES (AVANÇADOS)

O Rugby Europe Championship 2022 fecha com alguma amargura para o rugby português, contudo, há que olhar para o futuro, mesmo que o próximo ciclo de corrida ao Campeonato do Mundo seja já sem alguns nomes de alto peso, como será com Francisco Fernandes. O pilar, de 36 anos, dificilmente estará no Mundial de 2027 caso Portugal consiga o apuramento, mas não deixa de ser um dos grandes nomes da bola oval lusa dos últimos 10 anos, com 25 internacionalizações e uma série de grandes momentos com a camisola portuguesa vestida. Em 2022 foi dos jogadores mais importantes, oferecendo uma excelente resposta portuguesa na formação-ordenada, sempre com boas intervenções na defesa e até na manobra da oval, com um exemplo disso a ser o passe final para Jerónimo Portela, que facilitou a missão do abertura em esboçar um cross-kick na direcção de Rodrigo Marta.

A lealdade constante, o sacríficio contínuo e a experiência imensa deram outra força aos “Lobos”, com a comunidade rugby lusa a só ter de agradecer o préstimo dado pelo pilar, que ainda deverá fazer parte do elenco até 2023.

DADOS DE PORTUGAL DO RUGBY EUROPE CHAMPIONSHIP

Maior marcador de ensaios: Rodrigo Marta e Pedro Bettencourt – 3 ensaios
Principal marcador de pontos: Samuel Marques – 30 pontos;
Maior assistente: Samuel Marques – 3 assistências:
Jogador com mais quebras-de-linha: Rodrigo Marta – 8 quebras-de-linha


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