Inclusão, Formação e Alto Rendimento

João BastosOutubro 17, 20176min0

Inclusão, Formação e Alto Rendimento

João BastosOutubro 17, 20176min0
O Fair Play esteve presente na III Convenção Portuguesa de Natação subordinada aos temas da inclusão, formação e alto rendimento

A Federação Portuguesa de Natação organizou a III Convenção Portuguesa de Natação que juntou técnicos e dirigentes que discutiram questões como a inclusão, a formação e o alto rendimento em natação


Os profissionais da natação estiveram reunidos na Reitoria da Universidade de Coimbra no dia 14 de Outubro a reflectir sobre os três momentos essenciais na carreira de um nadador de elite, ou seja, o momento da captação, no qual ele se sente atraído a praticar natação de competição em qualquer uma das suas variantes, o momento da sua formação e como ser bem sucedido nesta fase e o momento em que atinge o topo da sua carreira, ou seja, o alto rendimento.

Esta organização da FPN contou com a enriquecedora presença de duas referências internacionais nas suas áreas, no primeiro painel dedicado à natação pura, os treinadores Gary Taylor (NC State – EUA) e Alberto Silva (Pinheiros – Brasil).

Falhar é uma opção, desistir não é!

Gary Taylor é o Associate Head Coach da Universidade da North Carolina State, responsável pelo grupo de treino de fundistas que, desde este ano, integra a portuguesa Tamila Holub.

Taylor, para além de retratar uma realidade completamente diferente no que respeita à gestão e organização de uma equipa universitária norte-americana em oposição a qualquer equipa federada em Portugal, transmitiu a cultura de grupo – muito americana – que norteia o grupo. A cultura do grupo “The Pack” sobre o indivíduo é o valor que a NC State mais promove junto dos seus atletas, funcionando simultaneamente como um meio (para suportar os 9 treinos diários sem nenhum treino de recuperação) e como um fim (sendo a base do trabalho mental que o clube considera fundamental).

Para Gary Taylor é importante que os nadadores de fundo (seja em piscina ou águas abertas) tenham um grande auto-conhecimento, de forma a terem capacidade de abordar cada prova consoante ela se vai desenrolando.

O volume constitui, obviamente, uma parte importante do seu plano de treinos, mas mesmo para fundistas, o treinador norte-americano considera importante desenvolver força e velocidade.

Mesmo com todas as condições que uma equipa universitária norte-americana dispõe, também há limitações. Gary apontou o facto de não poder desenvolver estágios em altitude com a frequência que gostaria, uma vez que treina uma equipa universitária, não sendo aconselhável afastar os seus atletas do seu local de estudo.

Foto: FPN

Não vale achar que é fácil

Alberto Silva, conhecido no mundo da natação por Albertinho, é o técnico do Esporte Clube Pinheiros e durante a sua carreira treinou, ou ainda treina, nadadores como César Cielo, Gustavo Borges, Thiago Pereira, Flávia Delaroli Cazziolato e Nicholas Santos, entre outros.

A história de Albertinho começa enquanto treinador adjunto do Pinheiros que, sem qualquer experiência internacional, começa a treinar o vice-campeão olímpico Gustavo Borges, fruto de um desentendimento com o seu anterior treinador, e treinador principal do Pinheiros, Alberto “Albertão” Klar.

A partir daí cumpriu-se a velha máxima da “sorte que dá muito trabalho”. Trabalhar com Gustavo atraiu muitos jovens nadadores como Jader Souza, Nicholas Santos e mais tarde César Cielo, mas ao mesmo tempo Alberto Silva começou a desenvolver o seu programa de treino, em colaboração com vários profissionais ligados à medicina, fisioterapia e biomecânica, vocacionado para o treino de velocidade.

Exercícios de “peso morto” no ginásio, para-quedas e palas na piscina são práticas habituais (pelo menos nas 4 semanas iniciais de preparação para as grandes competições) no treino do treinador brasileiro. Uma rotina que não funciona apenas para os velocistas, como provou o tempo em que Thiago Pereira treinou com Alberto.

Para Alberto Silva foi um trabalho de fundo até fazer campeões do sprint.

Foto: FPN

“Dá vontade de chorar”

Foi assim que o treinador do Sporting, Carlos Cruchinho, respondeu quando convidado a comparar a realidade do alto-rendimento português com as duas realidades transmitidas pelos convidados estrangeiros.

O painel da tarde juntava o treinador da equipa vencedora da Taça de Portugal – Rendimento (Sporting), Carlos Cruchinho, o dirigente da equipa vencedora da Taça de Portugal – Formação (FC Porto), Luís Fernandes e o ex-treinador da selecção portuguesa no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, Aurélien Gabert.

Moderado pelo Director-Técnico Nacional, José Machado, a intenção do painel era perceber como pode uma equipa trabalhar ao nível da inclusão, da formação e do alto rendimento nos seus clubes.

O seccionista do FC Porto iniciou a sua intervenção dizendo que poderia estar algo deslocado num painel partilhado com técnicos e dirigido a uma plateia maioritariamente composta por técnicos. Mas o que é facto é que ficou patente pelos presentes que grande parte do tempo de um treinador de natação em Portugal é ocupado em tarefas de gestão (de instalações, de equipamentos, de carreiras dos nadadores e da própria carreira), uma situação que, naturalmente, está longe de ser a ideal para uma natação que se quer que seja tendencialmente mais profissional.

E o painel abordou precisamente a questão da profissionalização, quer de atletas, quer de treinadores, mas antes disso há que profissionalizar as estruturas, de forma a permitir que os treinadores se foquem no essencial: planeamento e treino. Caso contrário, os problemas (e a vontade de chorar) vão persistir.

Foto: FPN

A III Convenção Portuguesa de Natação dedicou painéis às águas abertas, pólo aquático, natação sincronizada, natação adaptada e dirigismo e foi inaugurado pelo vice-campeão olímpico Fernando Pimenta.

Um encontro de realidades e saberes num dia extremamente proveitoso para os presentes.


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