Copa Intercontinental: o que falta a Portugal para voltar aos títulos?

André CoroadoNovembro 14, 20177min0

Copa Intercontinental: o que falta a Portugal para voltar aos títulos?

André CoroadoNovembro 14, 20177min0
A selecção Portuguesa de Futebol de Praia precisa de mais alguma coisa para atingir outros patamares? Uma reflexão do Fair Play em relação às Quinas

Portugal vice-campeão: Jordan, superação e limitações

Emoções mistas caracterizam a prestação portuguesa na Copa Intercontinental. Se, por um lado, se trata da melhor prestação portuguesa na prova, corrigindo a má imagem deixada pelo 6º lugar de 2015, por outro lado, o palmarés lusitano continua a não contabilizar este troféu, que se junta ao lote dos títulos que Portugal esteve perto mas não logrou conquistar em 2017 e que marca a 4ª derrota consecutiva frente ao Brasil no mesmo ano.

Da mesma forma, se é inegável a existência de algumas lacunas na selecção portuguesa actualmente, não é menos merecedor de elogio a capacidade de superação de uma equipa que, não dispondo dos mesmos argumentos que o Brasil, soube disputar a final de igual para igual e vender cara a derrota, num esforço de auto-superação colectiva de que já dera provas contundentes, principalmente na meia final frente à Rússia.

A Copa Intercontinental não chegou num bom momento para Portugal. A meio do outono, 2 meses após a conclusão da época estival e do último desafio colectivo quer na selecção quer nos clubes, o ritmo de jogo da equipa nunca é o ideal, sendo um estágio de preparação claramente insuficiente, mesmo que os jogadores continuem a trabalhar para se apresentarem bem fisicamente. No treino oficial antes do pontapé de saída, Portugal enfrentou nova contrariedade: a lesão de Rui Coimbra, peça fundamental na manobra da selecção, que tinha vindo a alinhar com o trio Jordan-Bê-Léo no quatro de campo mais forte da Europa.

A juntar a tudo isso, vale a pena reconhecer que a selecção se encontra a efectuar a inevitável renovação, o que implica naturalmente a substituição gradual de alguns jogadores da geração campeã do mundo em 2015 por novas figuras nas convocatórias, sendo necessário algum tempo e um acumular de jogos para que as rotinas entre os jogadores do núcleo duro e os novos elementos possam ser devidamente cimentadas.

Já no decorrer do torneio, Portugal teve de reagir a duas expulsões por manifesta imprudência (mas não indisciplina) de Elinton Andrade e Bê Martins no segundo período da partida frente aos Emirados Unidos, bem como a uma desvantagem frente ao Egipto a 3 minutos do fim do jogo decisivo de apuramento para as meias finais.

As adversidades supra-citadas foram meritoriamente ultrapassadas pela equipa portuguesa, que contou com um punhado de exibições arrebatadoras de Jordan Santos para derrotar os Emirados Árabes Unidos (6-4) e o Egipto (vitória em penaltis após empate 6-6), alcançando as meias finais sem prejuízo da derrota por 4-1 diante do Brasil (sem os suspensos Andrade e Bê Martins).

Jordan assinou 7 dos 13 golos lusos nessas 3 partidas, cabendo ao capitão Madjer a assinatura de 4 tentos. A nível defensivo, prestações relativamente consistentes frente a Emirados e Brasil foram ofuscadas pelos erros defensivos que permitiriam ao Egipto operar uma reviravolta no marcador, invertendo um 5-1 para 6-5 com 5 golos consecutivos sem resposta (não retirando o mérito das belas jogadas egípcias em vários desses golos).

Uma vez no TOP 4, seria necessário rectificar esses pontos para que Portugal alcançasse os seus objectivos, e foi precisamente o que se verificou diante da Rússia, numa reedição da final da Liga Europeia (vitória russa por 3-1). Desta vez, o espírito de sacrifício dos jogadores nacionais no cumprimento escrupuloso dos processos defensivos e a insistência ofensiva, criativa mas disciplinada, permitiu que Portugal ultrapassasse uma situação de desvantagem induzida por um golo no mínimo controverso, vencendo por 3-2 com um livre de Jordan na ponta final do encontro.

Na final, como já referimos, o Brasil seria um adversário intransponível para a selecção lusa, mas a derrota por 2-0 não deslustra em nada o mérito luso na chegada ao 2º lugar, que lhe permitiu também recuperar a segunda posição no ranking mundial, ultrapassando o Irão.

Por seu turno, se a vitória sobre a Rússia e o regresso ao segundo posto da hierarquia mundial são um corolário merecido para uma selecção que voltou a apresentar em 2017 uma consistência de exibições e resutlados notável (inclusivamente superior à de 2016), é lícito retirar algumas ilações menos positivas deste último evento do ano.

Faltará algo à Selecção Portuguesa?

Não há dúvida de que Portugal não encontra na Europa quem lhe faça frente a não ser a Rússia, que mesmo assim acaba por nos parecer neste momento a um nível técnico-táctico inferior ao lusitano – o que acaba por procurar compensar em disciplina e organização, como temos vindo a enaltecer, mas mesmo isso pode não chegar quando do outro lado está uma equipa munida da mesma fibra psicológica e sentido de organização colectiva.

Também o Irão se encontra actualmente num patamar de excelência, conforme o atesta a capacidade de discutir o jogo com o Brasil (presentemente maior do que a da Rússia) e a recente regularidade de resultados. Este topo fica completo com a inclusão do Taiti, um caso especial atendendo ao carácter intermitente das suas aparições no cenário global, mas ainda assim vice-campeão mundial.

A argumentação que temos vindo a desenvolver sugere que Portugal surge na liderança deste grupo de perseguição ao Brasil, o que é sem dúvida um dado positivo. Todavia, o registo apresentado em 2017 apresenta algumas limitações que é legítimo elencar e procurar solucionar, por forma a permitir quer uma descolagem dos demais rivais do grupo perseguidor quer uma aproximação efectiva ao nível estratosférico actual do Brasil.

Assim sendo, a Copa Intercontinental veio pôr em evidência alguns dos problemas de Portugal, nomeadamente no plano ofensivo, uma vez que em matérias defensivas a equipa deu uma resposta primorosa nos últimos dois jogos.

Não obstante, a dependência excessiva na segunda equipa, em particular na pessoa de Jordan Santos (cuja prestação no último ano lhe deveria ter valido pelo menos a presença no melhor cinco do mundo), acaba por se revelar nociva para as aspirações de uma equipa que se propõe conquistar cada uma das competições em que disputa. Não existe no seio da selecção portuguesa um plantel equilibrado, com múltiplas opções e dois quatros de campo equivalentes, como acontece com a selecção Canarinha e como sucedia com Portugal no ano dourado de 2015.

A situação prende-se com as marcas do passar dos anos numa equipa que já era a mais envelhecida no mundial de Espinho, mas também com o facto de, 2 anos depois, as principais armas de ataque da equipa portuguesa estarem muito estudadas e sendo por isso mais facilmente anuladas pelas defesas adversárias. Urge renovar, quer a equipa quer algumas ideias de ataque.

Claro que todos estes processos são graduais, mas têm de ser acelerados para que Portugal possa continuar a manter os altos pergaminhos a que nos habituou e continuar a afirmar-se no panorama mundial. 2018 será um novo ano e a Nazaré já foi anunciada como palco da Euro Winners Cup e provável destino de mais uma etapa da Liga Europeia. Os dados estão lançados, cabe à selecção nacional e à família do futebol de praia português fazer o resto.

Quando voltará Portugal a conquistar uma grande prova internacional? (Foto: Lusa)

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