Treinar para superar a mente – Parte I

Fair PlayNovembro 4, 20174min0

Treinar para superar a mente – Parte I

Fair PlayNovembro 4, 20174min0
O Ciclismo tem verdadeiros apaixonados e o Fair Play convidou um aficionado a contar o porquê de pedalar e Treinar para superar a mente! Identificas-te?

São sete e meia da manhã de um domingo e levanto-me de sorriso na cara, porque é dia de pedalar! Uma rotina que se instalou nos últimos 2/3 anos e que persiste mesmo nos dias frios e chuvosos – em que abro a persiana, na esperança que a chuva esteja mais calma… mas que logo rapidamente me recordo das boas sensações que a bicicleta me vai proporcionar: descer o pinhal por aqueles trilhos, subir a encosta com o coração na boca. “Vá Zé, vamos lá que vai valer a pena!”.

Do campo de futebol à sala de cirurgia e depois ao ginásio

Desde miúdo que sempre adorei fazer desporto, especialmente futebol. Nunca fui nenhum craque, mas gostava muito do jogo e acabei por entrar para a equipa de futsal da escola e, posteriormente, para um clube local de futebol de 11.

Ainda joguei três anos e apesar de ser baixo e gordinho, acabei por ir para a baliza e não virava a cara à luta na terra batida – fizesse chuva ou sol, para mim os treinos eram momentos especiais! Fiz vários jogos, mas infelizmente tive um problema nos discos da coluna e o médico aconselhou-me a regressar ao futsal. Como não quis deixar a bola, fi-lo e voltei aos pavilhões durante mais cinco anos – num clube local e posteriormente na equipa universitária.

Contudo, não foram momentos totalmente felizes, pois tive duas ruturas de ligamento cruzado anterior do joelho direito (uma em 2009 e outra em 2012). Após a segunda operação, e consequente longa paragem de recuperação, decidi nunca mais jogar. Fiquei com uma relação de amor-ódio – senti-me “traído” – eu gostava tanto do jogo que não era justo aquilo que me tinha acontecido. Mas tive de viver com isso e preferi não jogar mais para não arriscar uma nova lesão e passar por aquele sofrimento de novo.

Entre uma operação e outra acabei por entrar para o ginásio e fui ficando com vício da musculação. Ainda por cima, sempre tinha sido um miúdo gordo, e ao mudar a minha imagem com os halteres, até gostei daquilo. Comecei a encontrar ali um escape para o stress do quotidiano. Ajudava-me a desanuviar nas alturas de pico (recordo-me que não dispensava os meus treinos durante as épocas de exames).

Após a 2ª cirurgia ao joelho, o ginásio ganhou ainda mais importância, pois era o meu desporto. Comecei a ler sobre treino de força e hipertrofia e o interesse aumentou! Ainda hoje gosto de estudar sobre isso e considero que tenho muito para aprender.

O reencontro com os pedais

Foto: @Diario Digital Castelo Branco

Paralelamente ao ginásio, também comecei a ganhar gosto pelo “cardio”. Todavia, não era aconselhável correr com muita frequência devido ao impacto no joelho. E nessa altura “virei-me” para uma bicicleta de BTT que tinha na garagem e comecei a pedalar. Era de alumínio, roda 26 e já com uns sete anos, mas cumpria a sua missão. Tinha uma aplicação no telemóvel que contava os Km’s e achei engraçado aquilo de andar a fazer Km’s.

Lembro-me de chegar a casa e dizer “hoje fiz 20 km de bicicleta”, e depois na volta seguinte “hoje já fiz 30 km”. Comecei a andar ao domingo e a aumentar a duração e distância das voltas, chegando a casa com um cansaço de satisfação, diferente do que tinha no ginásio. O interesse pela bicicleta foi aumentando e as voltas de domingo tornaram-se obrigatórias. Com mais ou menos horas de sono na véspera, com chuva ou sol, por volta das 8h30/9h estava eu a sair de casa.

Os meus amigos não andavam de bicicleta e chamavam-me doidinho e, por isso, a maioria das voltas eram feitas sozinho. Fui descobrindo sítios e caminhos novos, com muitos episódios de “Já não sei por onde ando”, ligar à minha Mãe a dizer que não ia chegar a tempo do almoço, pois tinha-me perdido.

Ainda me lembro numa noite de consoada que estava um tremendo temporal e eu disse à minha Mãe que ia andar de bicicleta. Ela chamou-me todos os nomes e mais alguns e só me pediu para que tivesse um Natal descansado. Saí de casa na mesma e voltei passado 4 horas todo encharcado e a tremer de frio, mas com um sorriso de orelha a orelha.

José Afonso

“Treinar para superar a mente” é um relato feito por José Afonso, dividido em três partes. O próximo artigo contará como é possível superar todas as dificuldades de uma prova BTT.


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