A armada portuguesa em Génova

Pedro CouñagoJaneiro 28, 20189min0
Artigo do Fair Play a dar destaque à presença de três jogadores portugueses no Génova, uma equipa histórica da Série A e que continua a pescar bastantes jogadores no futebol português, principalmente aos grandes clubes.

Os adeptos do futebol português devem marcar-se por acompanhar os jogadores portugueses, seja em que zona da Europa e do mundo tal aconteça, visto que são embaixadores da nossa cultura no estrangeiro. Quando tal acontece numa determina equipa de forma plural, com mais do que um português, a curiosidade é ainda maior. Tendo em conta este aspeto, o Fair Play propõe-se a estudar a armada portuguesa que, por estes dias, mora em Génova.

Miguel Veloso é, certamente, o jogador com maior impacto, devido ao seu estatuto de internacional português por cinquenta e seis ocasiões e por já vestir a camisola azul grená pela quarta época, se bem que não seguida (entre 2010 e 2012 e desde julho de 2016 até agora). Agora, em janeiro, chegaram à equipa dois jogadores que chegam para ajudar o Génova a subir na tabela classificativa e a chegar a um patamar de maior tranquilidade. São eles Pedro Pereira e Iuri Medeiros, vindos de Benfica e Sporting, respetivamente.

Miguel Veloso

Filho de António Veloso, ex-jogador que se notabilizou enquanto jogador de Benfica, Miguel Veloso é um médio de fino recorte técnico que tem já trinta e um anos. Nos seus anos áureos, foi descrito como um dos seus maiores talentos portugueses da sua geração, mas a verdade é que o médio tem tido, talvez, uma carreira um pouco aquém daquilo que poderia ser o seu potencial.

Quando chegou a Génova vindo do Sporting em 2010, pensou-se que esta transferência pudesse ser um passo atrás para futuramente dar dois passos à frente, mas tal não aconteceu. Na sua primeira passagem por Génova, o centrocampista passou duas temporadas em Itália, altura em que realmente sobressaiu mas não deslumbrou ao nível que se previa. Não deu o salto no futebol italiano, tendo sido, depois, transferido para o Dínamo de Kiev, em 2012.

Quatro temporadas depois, em 2016, Miguel Veloso chegou a custo zero a Génova, provando que o médio deixou saudades numa equipa que passava por dificuldades e que continua a passar. Teve de fazer um trabalho de reabilitação a nível físico, visto ter ganho alguma massa corporal, mas tem sido um elemento preponderante numa equipa que precisa de experiência e estabilidade.

O médio é titularíssimo, como comprovam os seus dezanove jogos realizados esta época na Série A. É um dos principais esteios da equipa, com o seu pé esquerdo a proporcionar uma qualidade de passe acima da média. Já não tem o fulgor de início de carreira, não se marca por ser um jogador rápido, mas essencialmente funcional e cada vez mais cerebral. Sem golos, mas com capacidade de por a equipa a jogar e de lançar os seus colegas mais avançados, é este o seu mote.

Miguel Veloso já realizou 98 jogos com a camisola do Génova. Está à beira de passar a marca centenária (Foto: Getty Images)

Miguel pode ser uma excelente influência para Iuri Medeiros e Pedro Pereira no que toca à adaptação ao clube e a um possível papel como mentor, visto que o seu estatuto de internacional por cinquenta e seis vezes lhe permite que tal aconteça. Será sempre o elemento com mais preponderância, pelo menos enquanto não regredir nas suas capacidades principais.

Iuri Medeiros

Vindo do Sporting por empréstimo, Iuri Medeiros pode ser a solução que o Génova necessita para terrenos mais atacantes e para oferecer qualidade com bola a Davide Ballardini. No que toca a opções para as alas, a equipa tem um défice de opções válidas, e pode ser por aí que se explica a pouca acutilância e a pouca largura apresentada, que se traduz num ataque muito pouco eficaz, com apenas dezasseis golos marcados em vinte e dois jogos.

Num esquema de 3-5-2, com meio campo reforçado, Iuri será possivelmente obrigado a fazer algum trabalho a nível defensivo, visto que o papel dos alas passa por fazer todo o corredor, e este pode ser um bom desafio para o extremo, que pode elevar o seu nível nas diferentes funções dentro de campo.

Iuri tem sido uma espécie de mal amado pelos adeptos leoninos e pelo treinador Jorge Jesus, já sendo referenciada a sua saída do clube há alguns meses, principalmente por falta de oportunidades, e a verdade é que tal aconteceu mesmo em janeiro, sendo esta uma oportunidade para o ainda jovem português se destacar e afirmar-se totalmente como jogador destinado a voos interessantes.

Na passada época, o extremo brilhou ao serviço do Boavista, com o seu pé esquerdo a fazer maravilhas. Iuri tem grande capacidade técnica, não sendo propriamente rápido mas tendo uma interessante capacidade de drible e de cruzamento. Agora estes atributos podem fazer-se mostrar, pois certamente esta é uma montra para o português se mostrar a alto nível, como aconteceu na passada época.

Curiosamente, é mais um jogador relacionado com o Sporting a jogar no clube, depois de Miguel Veloso e de Diego Capel nos tempos recentes, este último que já saiu. Esta é uma equipa que pode permitir a Iuri finalmente passar de uma esperança a uma confirmação, e se tal acontecer, o Génova pode e deve contratá-lo em definitivo no Verão. Por enquanto, vejamos se Iuri consegue contribuir com golos e assistências para uma equipa que bem precisa dos mesmos para deixar de correr o risco de estar na luta pela manutenção até final de época.

Pedro Pereira

O jovem lateral direito é o mais jovem dos três jogadores, e é aquele que tem mais terreno a percorrer. É curioso o percurso realizado pelo jovem de vinte anos. Por altura do verão de 2015, o jovem transferiu-se da equipa júnior do Benfica para a Sampdoria, estreando-se na principal equipa com apenas 17 anos. O jogador fez vinte e um jogos na Série A no decorrer de época e meia pelo arquirrival da equipa que agora vai representar, tendo ganho uma experiência considerável para a sua idade.

Aqui, Pedro Pereira vestia a camisola do principal rival do Génova. Agora,
é tempo do lateral se afirmar com a camisola azul grená, e isto apenas aos 20 anos de idade (Foto: Getty Images)

Com o seu desempenho interessante, no mercado de inverno de 2017, o Benfica decidiu fazer voltar o jogador num negócio bastante arriscado, avaliado em cerca de 2,7 milhões de euros e ainda com a cedência definitiva de Filip Djuricic, um flop na equipa encarnada. Mas a verdade é que, um ano depois, a evolução do lateral estagnou drasticamente, tal é a falta de jogos realizados. Agora, o lateral volta a Itália, num contrato de empréstimo de 18 meses, com opção de compra por parte do Génova.

É uma lufada de ar fresco para a carreira de Pedro Pereira. A qualidade existe, e, em Itália, com a sua passada experiência, pode ser o seu derradeiro palco de afirmação no futebol sénior. Será, muito provavelmente, mais um caso de um atleta que fará grande parte da carreira no estrangeiro, o que é pena pois teve raríssimas oportunidades no Benfica, tirando praticamente numa pré-época desastrosa para toda a equipa como aquela realizada em 2017.

O lateral tem potencial para, a longo prazo, ser jogador de seleção, mas para tal precisa de crescer e fazer o seu percurso com tranquilidade. Agora, o seu trabalho passa por recuperar a confiança perdida nestes últimos meses e readquirir os índices físicos e mentais adequados para jogar a alto nível e figurar nas principais opções da equipa. Tem toda uma carreira à sua frente e este pode ser o palco que lhe permite “ganhar calo” para aquilo que pretende enquanto futebolista.

Como a relação entre os três pode ser benéfica?

Só o facto de os três jogadores partilharem os mesmos costumes e a mesma cultura cria logo uma empatia especial. No caso de Miguel Veloso, que é um jogador bastante experiente, a sua função pode passar por uma de mentor aos restantes dois atletas, uma função de ajuda e de mostrar aquilo que representa o Génova em Itália, um clube histórico nove vezes campeão e, mais importante, o clube mais antigo em atividade em terras transalpinas. Agora, o clube tem agora objetivos bem mais modestos.

No caso de Iuri Medeiros e Pedro Pereira, a presença de outros portugueses permite-lhes ter uma base de construção de relações dentro da equipa e permite-lhes ganhar mais confiança e motivação para os seus desempenhos. Iuri precisa desesperadamente de deixar de ser considerado como uma promessa e de confirmar o seu talento num nível que não seja médio. Pedro Pereira precisa de voltar a sentir felicidade enquanto jogador de futebol e de crescer mentalmente, não se perder devido à sua tenra idade.

Os dois atletas já estão a trabalhar para entrar forte para entrar nas opções de Davide Ballardini (Foto: Buon Calcio a Tutti)

Esperemos que estes três jogadores portugueses consigam, em conjunto, ajudar o Génova a alcançar melhores resultados do que aqueles que a equipa tem proporcionado aos seus apaixonados adeptos. Os três terão diferentes papéis e uma diferente influência no clube, mas têm os três condições para sucederem.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS