A herança de Andrea Pirlo

Diogo AlvesDezembro 18, 20174min0

A herança de Andrea Pirlo

Diogo AlvesDezembro 18, 20174min0
Andrea Pirlo saiu de cena e deixou uma herança pesada dentro da seleção italiana. Jorginho perfila-se como o grande sucessor do antigo jogador de Inter, Milan e Juve.

A seleção italiana vive por estes dias um dos maiores dramas da sua história, a Squadra Azurra falhará o próximo Mundial e era algo que já não acontecia há mais de 50 anos. Por isso, neste momento procura-se perceber o que falhou, para lá dos Alpes já rolam cabeças, passe o exagero. O selecionador Giampiero Ventura saiu e com ele o presidente da Federação Italiana também se demitiu do cargo. Sem ir mais longe, o caos está instalado dentro da Federação e procura-se encontrar no individual as culpas de um falhanço coletivo.   

O futuro passará por voltar a construir uma grande Itália para voltar a um Mundial (mas 1º o Campeonato da Europa), e, quiçá a conquistá-lo como fizeram já por quatro ocasiões, a última em 2006. E em 2006 estava na convocatória e dentro do retângulo de jogo mais concretamente, um dos grandes arquitetos da conquista de 2006, Andrea Pirlo. Um dos maiores baluartes do futebol italiano na última década a par do guardião Gianluigi Buffon. Foi dos pés dele que saiu assistência para um dos golos do torneio, o de Fábio Grosso aos 119′ minutos que abriu caminho à vitória sobre Alemanha na meia-final. Aos 120′ Del Piero viria a fazer o 2-0.  

A assistência de Pirlo nesse jogo, naquele minuto, e com aquela importância diz muito da categoria deste ex-jogador. Manteve a frieza, a classe e uma elegância ímpar que o caracterizava. O passe por si só quase conta uma história e apresenta ao Mundo Andrea Pirlo. Um arquiteto de passes capaz de desenhar os melhores caminhos para chegar à baliza, assim o fez nessa meia-final e noutras tanto.  

Andrea Pirlo não se destaca pela velocidade deslocamento, nem pela força com que desarmava os adversários, muito menos por ser grande e forte, mas pela velocidade raciocínio, imaginação através do passe – curtos e longos – e pela inteligência com que pautava o jogo. Geria ritmos, escolhia os melhores caminhos, aumentava a velocidade e diminuía quando queria, sendo também um excelente batedor de livres. Quando se defrontava a Itália ou o clube onde Pirlo militava o melhor era não cometer faltas à entrada da grande área, era aí onde Pirlo era exímio na cobrança de bolas paradas.  

Os anos passam e o regista acabou por retirar-se da seleção após o Mundial de 2014. Recentemente terminou a sua carreira ao serviço do New York City Football Club da MLS. A sucessão de Pirlo na seleção nunca pareceu ser muito pacífica, sendo que, Marco Verratti perfilava-se (e perfila-se) como principal sucessor do médio. Outro jogador que se destaca pela inteligência e capacidade de passe. Os dois ainda jogaram juntos no último Mundial de 2014.  

Não obstante, de haver Verratti, e, parecer que a sucessão estava feita, a realidade é que, entretanto, surgiu um jogador mais parecido a Pirlo dentro do futebol italiano, mesmo não sendo (ele) italiano. Jorginho, o médio do Nápoles é a personificação daquilo que é o regista no futebol italiano. Um médio que em muitos países é visto como um mero destruidor, em Itália o “6” é o jogador que inicia o ataque, e Jorginho fá-lo como poucos. Evidenciando uma rara capacidade de passe e visão de jogo (interligando-se entre si), posicionamento e velocidade raciocínio.  

O médio apenas atuou com a Suécia em San Siro e deixou claro que um médio como ele tem feito imensa falta no centro nevrálgico de Itália. Resolvida que está a situação de jogar pelo Brasil ou Itália, a partir de agora a Squadra Azurra pode olhar para Jorginho como o seu novo arquiteto, tendo em Verratti o companheiro ideal para juntos transportarem jogo usando os melhores caminhos. Isto tudo fará sentido sempre dentro da lógica do coletivo e de uma ideia comum.  

Jorginho terá de ser a partir de agora o Pirlo da próxima década e visto como figura central numa ideia de jogo que volte a colocar a Itália nas grandes lides. Quem vier a seguir terá de olhar para o Nápoles e ver ali um modelo indicado a seguir, um principio que pode ser a base. Tal e qual como Espanha fez em tempos com o Barcelona de Guardiola e mais recentemente Alemanha bebeu muito do Bayern Munique de Guardiola e de uma ideia em comum construída depois de anos na penúria.


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