O fim anunciado de um projecto de sucesso: a equipa B do Sporting

José DuarteMarço 16, 20187min0

O fim anunciado de um projecto de sucesso: a equipa B do Sporting

José DuarteMarço 16, 20187min0
O Sporting desiste do seu lado B, apesar do sucesso até agora obtido. Que efeitos isso terá no futuro e que impacto terá a criação de uma equipa sub 23?

Não se pode dizer que não tenha havido pré-aviso, uma vez que desde rumores até algumas declarações a indiciar a decisão, mas não deixa de ser surpreendente a decisão já anunciada oficialmente – André Geraldes assumiu-o recentemente – que o Sporting iria acabar com a sua equipa B para se inscrever num campeonato de sub-23, a iniciar já na próxima época.

Uma decisão surpreendente se tivermos em conta a importância que teve até agora para o clube a criação daquela estrutura e dos resultados obtidos. Num breve relance pelos nomes que passaram pelos diversos plantéis que constituíram a equipa B encontramos uma pléiade de nomes que vão desde promessas a desilusões mas que, feitas as contas do deve e haver, se revelou altamente compensatório, quer em resultados desportivos, quer em proveitos financeiros.

Vitor Golas, Edilino Ié, Santiago Arias, Cédric Soares, Tiago Ilori, Rúben Semedo, Pedro Mendes, Mauro Riquicho, Mica Pinto, Tobias Figueiredo, André Martins, Filipe Chaby, Eric Dier, Ricardo Esgaio, Podence, Bruma, Iuri Medeiros, Carlos Mané, Francisco Geraldes, Farley Rosa, Nii Plange, Diego Rubio, Valentin Viola, Cristian Ponde, Nuno Reis, Wallyson Malmann, Palhinha, João Mário, Ousmane Dramé, Ryan Gauld, André Geraldes, Gelson Martins, Hadi Sacko, Matheus Pereira, Rafael Leão.

Três promessas da equipa B, três destinos

A criação de uma equipa B era um passo considerado fundamental num clube que “aposta na formação”. Este novo escalão afigurava-se fundamental como tempo de estágio que não interrompesse abruptamente o crescimento dos jogadores logo após o final do período de formação e os lançasse às feras logo após os júniores. Um pouco como acontece quando um aluno termina a sua formação superior e só poucos estão efectivamente preparados para entrar no mercado de trabalho. Por essa razão entendemos que a equipa B devia ser ainda considerado como um escalão de formação. Como o terá obrigatoriamente que ser a equipa sub-23.

A decisão é ainda mais surpreendente se tivermos em linha de conta que ela foi anunciada ainda sem se saber qual o modelo competitivo da futura liga sub-23 e, pior, sem ser ainda claro o que pretenderiam fazer os principais clubes como os rivais FC Porto, SL Benfica – principalmente – mas também SC Braga, Vitórias de Setúbal e Guimarães e pouco mais.

E pouco mais porquê?

Uma das primeiras Equipa B. após a última reactivação

Por uma razão muito simples: a da competitividade. Basta olhar para o que é a miséria competitiva nos escalões de formação, onde raramente um clube fora dos chamados “3 grandes” consegue interromper a hegemonia em títulos, em número de jogadores seleccionáveis ou apetecíveis para o mercado. A criação de um campeonato sub-23 tem tudo para significar o prolongamento da redoma em que vivem os jogadores nos seus clubes até ao choque frontal com a difícil realidade. Era esse estágio que a equipa B lhes oferecia e que agora se esfuma: competição  com jogadores de todas as idades, índices físicos e níveis de experiência.

Não é também por acaso que vários clubes primodivisionários não conseguem aguentar as suas equipas B na II Liga. A competição é fisicamente dura e obriga a um nível de planeamento aturado. A subida pura e simples de escalão júnior para sénior dos seus jogadores não é suficiente para dotar os plantéis de níveis mínimos que lhes permitam a manutenção.

É necessário antecipar os ciclos e perceber quando é necessário recompor os plantéis, o que nem sempre é exequível financeiramente. Pelo que têm sido as últimas duas épocas é também um pouco isto que parece estar a faltar ao Sporting e que vem como produto do insucesso no recrutamento de elementos sem qualquer valor para se poderem considerar alternativas ao que o Sporting era já capaz de produzir. Tão nefasto como as megalomanias que haviam dado origem às aquisições pouco criteriosas de Gael Etock ou Diego Rúbio:

Ousmane Dramé, Everton Tiziu, Samba, Lewis Enoh, Matías Pérez, Hugo Sousa, Diogo Sousa, Mama Baldé, Tiago Palancha, Paulo Lima, Al Hassan Lamin, André Serra Jorge Silva, Hadi Sacko  Aya Diouf, Paulo Borges, Zhang Lingfeng, David Tavares, Rúben Varela, Luís Elói, Gil Santos,  Bernardo Moura, Rafa Benevides, Olávio Gomes, Diogo Barbosa, José Correia, Abou Touré, Abdoulaye Dialló, Ever Peralta, Bruno Pais, Khadime Ndiaye, Bruno Wilson, Jorge Santos, Sérgio Santos, Muhamed Djamanca, Luis Caicedo, Murilo de Souza, João Coelho, Gabriel Pajé, Francisco Sousa, Zé Pedro Oliveira, Sérgio Félix, Tomás Rukas, Betinho, Neymar Canhembe.

A evolução e consequente afirmação de um jogador não é um processo mecânico nem linear, depende sempre do universo muito exclusivo e particular que é um individuo e as suas circunstâncias. A existência de um novo patamar até aos sub-23 prolonga a permanência numa redoma que oferecerá aos jogadores a possibilidade de continuar a evoluir em condições técnicas e beneficiar de infraestruturas altamente vantajosas que não serão facilmente igualáveis noutras paragens.

Por isso este modelo irá beneficiar em primeiro lugar os menos aptos num determinado momento, retirando daí também proveitos o próprio clube. Mas poderá prolongar os problemas de inserção e adaptação aos que estão em estádios mais avançados e a precisar de desafios mais exigentes. É certo que alguns, os predestinados, continuarão a conseguir furar o bloqueio, havendo ou não equipa B ou sub-23, sempre assim foi e assim continuará a ser. A uns e a outros que venham a ser integrados neste novo projecto tenderá a protelar a entrada na realidade para a qual querem estar preparados o mais depressa possível.

E – a questão é obrigatória – será que as duas equipas poderiam coexistir?

Este é um cenário que parece estar a ser equacionado por alguns clubes, entre os quais o FC Porto e SL Benfica. É aquele que mais sentido faz para quem quer apostar efectivamente na formação. Mas, por exclusão de partes, e porque a existência de ambas se pode tornar muito onerosa, é a equipa B e o contexto onde está inserida actualmente aquela que parece oferecer o melhor cenário aos propósitos que a sua criação pretende significar. Na questão do custos ficam por avaliar valores intangíveis como o que se ganha e perde cada vez que um jogador dos nossos quadros se perder, se atrasar ou voar para outras paragens.

Nesta análise não podia obviamente também faltar a questão politica. A criação do campeonato sub-23 parece ser a resposta à pressão que alguns clubes da II Liga relativamente às verbas a distribuir, parecendo, aos clubes que agora se parecem retirar, que aqueles estão a com mais apetite do que a comida que conseguem reunir. Veremos o que o futuro dirá, até porque na maior parte dos casos os resultados / consequências não são imediatos.

Esses pareciam ser já bem visíveis após quase uma década de equipas B, não só ao nível da sustentabilidade dos clubes, pelo que os jogadores oriundos da equipa B representaram em rendimento desportivo e económico-financeiro. Mas mas também nos melhores recursos das selecções mais jovens do futebol sénior. Neste momento, e deste ponto de observação, este salto da B para um plano C é claramente um salto no escuro. Veremos onde é que os pés vão encontrar o chão.

Rafael Leão um dos últimos produtos da equipa B


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