Sporting a um pequeno passo da derradeira afirmação?

José DuarteNovembro 1, 20174min0

Sporting a um pequeno passo da derradeira afirmação?

José DuarteNovembro 1, 20174min0
Depois do empate caseiro frente à Juventus, a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões continua a ser uma possibilidade

Pela segunda época consecutiva o Sporting enfrenta sem conseguir obter o sucesso desejado ante algumas das mais poderosas equipas da competição, deixando no entanto em todos os jogos uma boa imagem de si e do seu futebol. Junto dos seus adeptos a sensação de que se ficou a uma pequena distância de fazer história e de fazer abrir a boca de espanto da Europa do futebol. O melhor exemplo é o que sucedeu o ano passado em Madrid, ante aquele que se viria a erguer o troféu da melhor competição de clubes do mundo.

Como explicar então o que falta ainda para que essas vitórias aconteçam? Estamos perto de que isso volte a suceder, tal como no passado, ou estamos cada vez mais distantes? É sobre isso que nos vamos debruçar aqui.

O primeiro foco tem que incidir sobre a conjuntura externa. Sempre foram enormes as diferenças que nos separavam dos países mais poderosos economicamente e que dominavam as competições futebolísticas, quer de clube quer de selecções. No entanto os clubes portugueses sempre conseguiram dar boa conta de si e furar aqui e ali o bloqueio dos mais fortes.

Há contudo dois momentos que marcam o nosso descolar do pelotão da frente e que parece ter vindo para ficar: a famosa Lei-Bosman, com o disparar dos valores exigidos pelos jogadores e com o séquito de empresários que os passaram a acompanhar. Entretanto a chegada dos hiper-milionários, que muitas vezes não representam apenas grandes empresas mas até mesmo nações (Paris St. Germain, Manchester City). O futebol mudou e a Liga dos Campeões passou a ser um sonho de muitos mas uma possibilidade de muito poucos.

No caso especifico do Sporting o regresso aos grandes palcos acontece depois de uma profunda crise, seguramente uma das piores de sempre. O último fôlego ficou para trás numa meia-final surpreendente que se decidiria nos últimos minutos em Bilbao, isto depois de uma carreira absolutamente fulgurante, marcada por grandes exibições, que levaria à final perdida dolorosamente em Alvalade.

Um momento de teste às convicções | Foto: Sporting

A meia-final em Bilbao ocorrida em 2012 marcaria também inicio de uma profunda crise interna que inclusive afastaria o Sporting das competições europeias de clube. Um momento raro e que obviamente ilustra uma séria desarticulação estrutural que teria que deixar marcas e da qual não se recupera com um simples estalar de dedos. Pelo contrário, as dificuldades económicas impediam a formação de plantéis competitivos, obrigando o clube a recorrer aos jogadores da cantera ainda em fases muito precoces e obrigando a recrutar em mercados menos dispendiosos.

Há que lembrar também o grande afastamento temporal do clube das vitórias mais importantes, como são os campeonatos que, além do prestigio, é um importante factor para a construção de equipas plenas de experiência e confiança, factores indispensáveis para se vencer. Esse período sem vencer não terminou ainda mas a chegada de Jorge Jesus a Alvalade trouxe uma significativa mudança na abordagem do mercado e, consequentemente na ambição com que se passou a olhar para as competições, das quais as organizadas pela UEFA não poderiam ser excepção.

Foto: Sporting

As condições oferecidas pelas competições internas não nos oferecem as experiências necessárias para lidar com as dificuldades dos jogos europeus em que o papel de predadores nos jogos nacionais se inverte para o de presas internacionalmente. Talvez isso ajude a perceber porque os resultados nos fogem nos últimos minutos dos encontros, como por exemplo em Madrid e agora nos dois jogos com os italianos. Como se a superioridade ao nível dos executantes individuais não fosse por si só um factor de desequilíbrio mais do que suficiente porque é nos momentos em que o cansaço se instala que diminui a concentração o que é frequentemente fatal a este nível.

Mas, tal com nas competições internas, se é verdade que o nível é indiscutivelmente maior e se encurtaram distâncias de forma significativa, falta ainda a consumação das exibições em resultados. Tal significa reconhecer que o trabalho não está ainda completo. Estando tão perto como temos estado, estamos seguramente na presença de um problema de afinação, de detalhe, de atenção aos pormenores. É também o momento do derradeiro teste à resiliência e confiança no modelo seguido.

O último salto que parece faltar é provavelmente o que separa o clube da mediania da excelência e por isso mesmo é o mais difícil de alcançar.


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