SC Campomaiorense: Do Alentejo para o Jamor em 1998/1999

Francisco da SilvaOutubro 30, 20176min0
Recorde os principais protagonistas que levaram pela primeira vez um emblema alentejano ao Jamor.

No segundo artigo da rubrica “Futebol Popular” recuperamos o elenco do SC Campomaiorense que em 1998/1999, não só carimbou a permanência no principal escalão do futebol português, como conseguiu ainda que pela primeira vez um clube alentejano chegasse ao Jamor. Recorde nomes como Poleksic, Quim Machado, Isaías, Laélson ou Demétrius.


O Alentejo há muito que deixou de estar representado no escalão principal do futebol nacional, contudo, o seu último representante deixou um legado notável e que continua a alimentar o imaginário dos mais saudosistas. À boleia de uma ambição desmedida e sem o devido suporte financeiro local, Campo Maior deixou de figurar no panorama desportivo português fazendo cair no esquecimento o SC Campomaiorense.

O emblema centenário jamais será recordado pelo seu modesto historial desportivo, o que realmente impressionava era a forma calorosa e genuína como o Alentejo abraçava o Desporto Rei. Recorde abaixo os principais protagonistas que faziam parte do plantel do SC Campomaiorense, orientado primeiramente por João Alves e de seguida por José Pereira, que levou até ao Jamor o melhor do Alentejo.

O Guardião

Diretamente de Chaves para Campo Maior chegou Dragoslav Poleksic para agarrar a baliza do clube alentejano. O montenegrino era um guardião imponente, 191 centímetros de altura, destemido e intimidante no 1×1, no entanto, Poleksic era incapaz de tranquilizar totalmente os seus companheiros de defesa pois revelava demasiada excentricidade e insegurança dentro e fora dos postes. A antítese do montenegrino era Paulo Sérgio, um keeper relativamente baixo mas que demonstrava uma maior maturidade, tranquilidade e segurança sempre que chamado ao onze. O barreirense formado no Vitória de Setúbal compensava os seus 180 centímetros com uma boa agilidade, uma comunicação eficaz com os seus companheiros de equipa e um posicionamento clínico dentro dos postes.

A Muralha

O núcleo defensivo de Campo Maior era decididamente heterogéneo, conjugando quer jovens talentos quer veteranos competentes. Quim Machado era o lateral direito experiente tão difícil de quebrar como de ultrapassar. Aguentava os 90 minutos com a mesma sagacidade dos mais jovens, disfarçando limitações técnicas com uma entrega inquestionável. No lado contrário do terreno, despontava Rogério Matias, um defesa esquerdo que se projetava com qualidade no ataque e causava calafrios às defesas adversárias com os seus cruzamentos venenosos cheios de intenção. A alternativa a Rogério Matias residia no jovem Carlos Fernandes, um defesa esquerdo emprestado pelo Sporting que começava a dar os primeiros passos na primeira liga portuguesa. Também cedido pelo Sporting, Marco Almeida, assumia-se como um dos pilares da defensiva campomaiorense, demonstrando bom sentido posicional, imponência no jogo aéreo e competência nas dobras ao seu companheiro habitual, René Rivas. O experiente central brasileiro era o líder incontestável do eixo defensivo fruto da sua agressividade, potência física e marcação que tornavam René Rivas um central duríssimo de enfrentar. Outro elemento importante neste setor era Nuno Campos, um jogador polivalente que atuava a lateral, a central e ainda dava uma perninha no meio campo defensivo pois reunia leitura tática, resistência física e muito voluntarismo. O veterano Jorge Ferreira encerrava o núcleo duro defensivo do emblema de Campo Maior, afirmando-se como um dos ativos mais experientes, competentes e utilizados pelos técnicos João Alves e José Pereira. Uma palavra ainda para os jogadores Bruno Mendes, Luís Miguel e Basílio Marques que, apesar de apresentarem diferentes valências, não chegaram a serem indiscutíveis no plantel de 1998/1999 do Campomaiorense.

O Motor

O centro de terreno do Campomaiorense era sobretudo habitado por homens de barba rija, combativos e com uma forte entrega ao jogo. Mauro Soares era um médio defensivo forte fisicamente, experiente, taticamente lúcido e que se assumia como uma mais valia na destruição do processo ofensivo adversário. Fernando Sousa era um jogador bastante útil nos encontros em que o Campomaiorense necessitava de maior consistência defensiva, especialmente por ser um elemento agressivo na procura da bola e difícil de superar fisicamente. Sabugo, na sua primeira temporada no principal escalão português, assumiu-se como um bom médio de transição que associava competência tática, qualidade no passe e boa saída de bola. Por fim, havia ainda Vítor Manuel que, ao contrário dos outros médios do emblema de Campo Maior, era um playmaker que distribuía jogo e sabia ler o movimento dos seus colegas de equipa. Cerebral, tecnicista e forte nas bolas paradas, Vítor Manuel era o elemento que adicionava mais criatividade e imprevisibilidade à casa das máquinas campomaiorense.

A Artilharia

A posição de bombardeiro-mor de Campo Maior estava entregue a Demétrius. O brasileiro era um avançado extremamente irreverente e com um killer instinct impressionante, que associava velocidade, capacidade de drible, mobilidade e faro de golo. Na temporada 1998/1999, a 2ª do brasileiro em Portugal, Demétrius balançou as redes adversárias por 16 vezes para o campeonato, assumindo-se como o 3º melhor marcador da competição. Além de Demétrius, o Campomaiorense contava ainda com 2 nomes de peso no seu ataque, Isaías e Laélson. O primeiro dispensa apresentações pelo seu historial no futebol português, contudo, nunca é demais referir a inteligência tática, a técnica individual e a capacidade de remate do brasileiro que o tornavam aos 35 anos um jogador ainda bastante útil para o emblema de Campo Maior. Já Laélson era um extremo “baixinho” mas muito veloz e forte nas ações 1×1 que desequilibrava com facilidade para assistir os seus companheiros de equipa ou bisar a baliza contrária. Outro dos elementos mais importantes para a qualidade ofensiva do Campomaiorense era Welington. O brasileiro era o típico extremo que fazia estragos com a sua técnica e verticalidade, nesse sentido, era bastante útil para agitar os encontros mais equilibrados. Uma palavra ainda para Jorginho, um jovem extremo que procurava afirmar-se no futebol português e era utilizado apenas como solução de recurso para mudar o rumo dos acontecimentos.

O Onze

Guarda-redes: Dragoslav Poleksic;
Defesas: Quim Machado, Marco Almeida, René Rivas e Rogério Matias;
Médios: Nuno Campos, Mauro Soares e Vítor Manuel;
Avançados: Isaías, Laélson e Demétrius.

PS: Excluídos do elenco acima encontram-se jogadores que na temporada de 1998/1999 que não realizaram pelo menos 200 minutos, tais como, Paulo Miranda, Nélson Morais, Waldo e István Vincze.


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