Os Efeitos da Seca de Títulos Persistem

Francisco da SilvaAgosto 25, 20184min0

Os Efeitos da Seca de Títulos Persistem

Francisco da SilvaAgosto 25, 20184min0
A temporada sensacional do FC Porto em 2017/2018 veio atenuar a ansiedade e o desespero que se vivia nos hostes do Dragão, contudo, um dos efeitos mais prolongados da seca de títulos persiste, o problema das renovações contratuais.

Ao longo das últimas 5 temporadas, o FC Porto viveu o período mais estéril, em termos financeiros e desportivos, da sua história recente com uma seca prolongada e dolorosa. Neste momento temporal, sentaram-se no banco de suplentes do Dragão Paulo Fonseca, Julen Lopetegui, José Peseiro ou Nuno Espírito Santo, porém, o único denominador comum entre estes diferentes técnicos foi a incapacidade de potenciar o talento do plantel e de cativar os adeptos azuis e brancos durante toda a época. As performances desanimadoras traduziram-se numa seca histórica e difícil de superar. Não fosse a mestria de Sérgio Conceição em 2017/2018, o hiato de títulos no Dragão podia ter-se estendido por um tempo indeterminado e demasiado doloroso para todo e qualquer simpatizante portista.

O técnico conimbricense reservou para si um lugar na história azul e branca ao ter recolocado o FC Porto na rota dos títulos e ao ter potenciado como ninguém o talento, tantas vezes, desperdiçado pelos seus antecessores. Moussa Marega, Ricardo Pereira, Vincent Aboubakar ou Sérgio Oliveira são a prova mais cabal deste facto, corroborando a famosa frase de que no futebol “passamos de bestas a bestiais e vice-versa em frações de segundos”. Contudo, Sérgio Conceição chegou demasiado tarde para resolver um dos maiores problemas causados pela seca desportiva no Dragão, as renovações de contrato.

Moussa Marega, a grande surpresa em 2017/2018 | Fonte: Expresso (Miguel Riopa)

Desde 2013, o insucesso dentro das quatro linhas do emblema da Invicta não só levou ao desespero uma massa adepta apaixonada e sedenta de conquistas, como se tornou uma espiral recessiva de consequências imprevisíveis e prejuízos incalculáveis. Época após época, a falta de títulos desvalorizou o plantel, não potenciou individualidades, não justificou investimentos e, ainda, empurrou para um tempo incerto a renovação dos vínculos contratuais das maiores estrelas do clube, pelo menos até estes justificarem novos prémios de assinaturas e aumentos salariais.

Ora, a saída a custo zero de Iván Marcano e Diego Reyes é a face mais visível deste jogo de dominó, porém, a venda a preço de saldo de Ricardo Pereira demonstra também muita da inércia e esterilidade que assolou o Dragão entre 2013 e 2017. Se o rendimento coletivo do FC Porto durante este período tivesse sido satisfatório e vitorioso, muito provavelmente teria potenciado as performances individuais dos jogadores levando o clube e os atletas a renovar os seus vínculos (com respetivos aumentos nas cláusulas de rescisão) ou à venda dos elementos por valores inflacionados. Face a 4 anos sem qualquer título conquistado, não admira que os jogadores tenham aproveitado o ano incrível do FC Porto em 2017/2018 para saírem pela porta grande e verem a sua qualidade reconhecida por um salário infinitamente superior. O grande prejudicado foi o clube liderado por Jorge Nuno Pinto da Costa pois viu sair a custo zero um pilar da sua muralha defensiva e vendeu com “desconto” um dos maiores dínamos ofensivos da equipa. Só não existiu passivo desportivo pois Sérgio Conceição foi um verdadeiro líder na forma como uniu os jogadores e os comprometeu com o clube e com a cidade.

O pior de tudo é que a sangria ainda não terminou. Em 2018/2019, a indefinição à volta do futuro de Yacine Brahimi e Héctor Herrera promete assombrar os adeptos azuis e brancos que temem mais saídas a custo zero no final da temporada, bem como, receiam que os níveis de compromisso dos jogadores seja afetado por constantes rumores e devaneios. Menos preocupantes são as situações dos dispensáveis Adrián Lopez, Hernâni e Fabiano que nunca demonstraram talento suficiente para encantar a plateia do Dragão.

O rombo financeiro e desportivo pode ser enorme, tudo dependerá do melhor defensor do portismo no balneário, Sérgio Conceição, e da capacidade negocial, cada vez menor, de Jorge Nuno Pinto da Costa. Impotentes, os adeptos azuis e brancos anseiam por uma venda milionária ou uma renovação in extremis que garantam um FC Porto tão comprometido, apaixonado e vencedor como vimos em 2017/2018.

O espírito do Dragão em 2017/2018 | Fonte: Bernardo Lobo Xavier

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