Onde é que anda o Flop: Juan Esnáider, o striker que não saiu da clínica

Francisco IsaacDezembro 14, 201711min0

Onde é que anda o Flop: Juan Esnáider, o striker que não saiu da clínica

Francisco IsaacDezembro 14, 201711min0
Quem era e onde anda Juan Esnáider, a "estrela" que chegou da Juve para reforçar o FC Porto? O Fair Play explica tudo na rubrica "Onde é que anda o Flop?"

Julho de 2001… cidade do Porto… após a despedida emotiva do Engenheiro do Penta ao FC Porto, Octávio Machado agarra na equipa principal com aprovação directa do presidente (e amigo de longa data) Jorge Nuno Pinto da Costa. Com a Supertaça a meses de disputar, o plantel azul-e-branco carecia de um suplente “decente” para Pena

E aí chega ao dia de uma novidade bombástica para o Universo azul-e-branco…a vinda de um avançado que em tempos foi referência na Taça das Taças, que jogou no Real Madrid ou Juventus e que precisava de voltar a dominar os “ares” dentro da grande área. Quem? Juan Eduardo Esnáider.

Ponta-de-lança que ganhou fama na La Liga, marcando uma Era no Saragoça ou Atlético de Madrid, chega “agora” à Invicta com expectativas altas e com uma boa referência vinda de um amigo próximo, Juan António Pizzi. Ora se Pizzi já foi analisado pelo Fair Play, passamos agora a Esnáider.

Como dizíamos a expectativa foi alta, tanto pelo nome, como pelo facto do Porto ter falhado, pelo 2º ano consecutivo, o Campeonato Nacional, e agora estar num momento de vai ou não vai nas provas nacionais.

Todavia, e como poderão comprovar mais à frente, o avançado argentino foi um total fracasso da equipa de Octávio Machado, a exemplo de Kaviedes (outro avançado que já dedicámos o nosso tempo de antena).

Mas quem era Esnáider? E porque é que todos esperavam tanto do artilheiro? O avançado formado no Ferro Carril Oeste, foi contratado em 1991 pelo Real Madrid, quando ainda só tinha “soprado” 18 velas de aniversário. Muito promissor, o avançado despontou na selecção de esperanças da Argentina, quando marcou 7 golos em 5 jogos no Campeonato Sudamericano sub-20.

Só que esse 1991 ilustrou muito bem o que foi a carreira de Esnáider e passamos a explicar: depois de sagrar-se vice-campeão da América do Sul onde foi o máximo goleador e apelidado de um dos melhores na competição, de ter chegado ao plantel sério do Ferro (que entretanto milita na 3ª divisão argentina) e de ter vários olhos em cima de si, Esnáider realiza um Mundial de sub-20 atroz, revelando-se não só um um fracasso, como um atleta violento e temparamental.

No 2º jogo desse Mundial, Esnáider recebeu ordem de expulsão por uma agressão durante o encontro com Portugal (vitória dos lusos por 3-0!), tendo sido suspenso durante um ano de provas a nível internacional. Este “pormenor” afectou a subida do avançado à selecção principal das Pampas, que só muito depois (1995) viria a ser convocado, mas nunca com o certificado de confiança que talvez merecia.

Mas bem, Esnáider “lambeu” as feridas de 1991 e chegou a conquistar a Copa del Rey em 1992-1993 pelos madrileños, sem conseguir agarrar o lugar na equipa ou se quer se afirmar como uma “pérola” dentro do plantel do Real Madrid. E para onde foi o avançado? Para uma equipa “satélite” do Real: o Real Saragoça.

É aqui que o argentino encontra o seu melhor momento enquanto jogador de futebol, “rasgando” as redes adversárias por 42 vezes, num total de 85 jogos. Esnáider torna-se um símbolo dos Los Blancos, evocando um poder total dentro da grande área, com um pontapé bem calibrado e com uma cabeça espectacularmente afinada.

Em 1994-1995 foi fulcral para que a equipa conquistasse a Taça das Taças (uma das últimas edições, já que em 1999 finda esta competição), com um golo monumental frente aos Gunners, abrindo o marcador… vale a pena ver (1:23 do vídeo exposto). Claro que o melhor golo viria só na Morte Súbita, com Nayim (maioria desconhece o nome, mas ficará eternizado na memória do futebol dos anos 90 pelo golo nesta final), a disparar um remate balístico que só terminou nas redes de Seaman (esse mesmo!).

Esnáider foi um super-avançado em Saragoça, com uma capacidade para mudar os ritmos do ataque, encabeçando as melhores jogadas de perigo, organizando (e bem) as movimentações dos companheiros nos últimos metros, abrindo espaço para que ele brilhasse ou, pelo menos, que assistisse um colega dentro desse perímetro de jogo.

O argentino volta a estar nas “bocas” do Desporto-Rei, ajudando os bravos e corajosos do Saragoça a conquistar prestígio internacional, assumindo-se com uma das grandes figuras de proa deste clube.

O Real Madrid “resgata-o” no Verão de 1995, com a esperança de poder montar uma super-equipa de forma a não só revalidar o título, mas também atacar com outro afinco as provas da UEFA. Todavia, o regresso à capital espanhola fez mal a Esnáider… dias sombrios voltaram a toldar o melhor futebol do argentino que em 20 jogos, só conseguiu marcar um golo… o Real caiu na penumbra nesse ano, assim como Juan Esnáider.

Fabio Capello é o novo treinador do Real e faz uma série de trocas, vendas e dispensas, onde se incluía o nome do argentino, Juan Eduardo Esnáider. O Atlético Madrid de Jesús Gil abordou-o e contratou o avançado… para trás ficava a mítica camisola 7, que iria parar às mãos do lendário Raúl Gonzalez… se Esnáider não fez História, pelo menos participou nela.

O leitor poderá pensar que o avançado passou de certa forma (pelo menos na altura) de “cavalo para burro”, mas engana-se, uma vez que o Atlético de Madrid era o campeão em título de La Liga, apresentando um plantel poderosíssimo onde despontava o  treinador actual, Diego Simeone, assim como Leonardo Biagini, Santi, Toni ou Juan Vizcaíno.

Por isso, Esnáider voltava a receber um voto de confiança, assumindo-se como um dos reforços de gabarito do plantel de Radomir Antić. Mas a estadia do argentina só durou um ano mais em Madrid, já que no final dessa temporada acabou vendido à Juventus. O que se passou? Esnáider não fez de todo uma má temporada, registando 21 golos em 47 jogos, apresentando-se com um jogador de raça, incrivelmente lutador dentro da grande área e um guerreiro capacitado em trazer o seu melhor ao jogo.

Porém, os vários confrontos que teve com Antić e Gil condenaram a sua permanência no Atlético, que terminaria em 5º lugar, eliminado nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, onde Esnáider teve uma reacção explosiva para com o técnico, após ter falhado o penalti que daria a passagem às meias-finais da competição… e quem o defendeu? Van der Saar! E Esnáider o que fez quando falhou? Vejam…

Mudança atrás de mudança, o avançado argentino (que entretanto já tinha regressado aos jogos internacionais pelo seu país, contabilizando 50 minutos em três encontros), nunca mais o foi mesmo… e por várias razões. No Espanyol ainda viria a balançar as redes por 15 oportunidades, em trinta e um encontros, apresentando-se com quase as mesmas qualidades, mas já denotando algum cansaço e falta de “paciência” para trabalhar o seu jogo.

De qualquer forma, a vecchia signora confiou nas competências do striker e convenceu-o a mudar-se para a difícil e intensa Serie A. Em Itália não aguentou a maior fisicalidade das defesas adversárias, fracassando, por completo, a sua experiência na Juventus conseguindo só dois golos em 26 jogos… começaram as lesões, as más recuperações e a fraca capacidade para voltar ao alto nível.

Ainda jogou em 2000 no Saragoça, ajudando o clube a fugir à despromoção e a conquistar a Copa del Rey… embora estes feitos, Esnáider teve uma vida difícil na sua 2ª “vida” nos Los Blancos, terminando mesmo ao “murro e pontapé” com os adeptos no último encontro. Quando não conseguia apresentar o seu melhor a jogar, surgia o seu pior em termos de temperamento.

Voltamos ao momento do início do artigo…28 de Julho de 2001. FC Porto a necessitar de se reafirmar no panorama nacional, com sérias dificuldades em arranjar uma equipa compacta e bem trabalhada, desesperada por agarrar referências internacionais (Mourinho iria dar uma lição dentro de alguns meses em relação a esse tema) e Esnáider acabou por ser uma das “estrelas” de Octávio Machado. Ou pelo menos, uma suposta estrela.

Nas Antas, o argentino jogou apenas 6 jogos, não conseguindo qualquer golo na Primeira Liga, ficando para a memória o golo contra o Estrela da Amadora na 4ª eliminatória da Taça de Portugal (3-0 a favor dos Dragões). Em Janeiro de 2002, o FC Porto desfez o contrato com o avançado, partindo em direcção aos milionários do River Plate.

Esnáider não guardou grandes recordações da sua passagem pelo FC Porto e a forma como falou do clube, numa entrevista após a sua saída, foi num tom mais agressivo e crítico, apresentando aquela postura de vilão que de vez em quando fazia questão de apresentar ao público… aqui ficam as palavras:

“Para mim, foi um tempo de reflexão e de recuperação porque andava com muitos problemas físicos. Agora estou recuperado e posso dizer que o FC Porto foi uma clínica…”

Seguiram-se passagens pelo River Plate, Ajaccio, Murcia e Newell’s Old Boys, somando apenas 5 golos em quatro épocas diferentes… para Esnáider, um avançado que chegou a tocar com as “garras a Lua”, terminar desta forma foi como um castigo divino pelas suas reacções agressivas e temperamentais que mancharam a carreira em alguns momentos.

E agora? Onde anda o avançado que no FC Porto não fez melhor que um golo, deixando as esperanças dos adeptos por terra (numa época em que Pena iria “desaparecer” quase por completo da lista de marcadores) e que só teve palavras “azedas” para com um clube que teve paciência consigo?

Bem, Esnáider, parecendo quase impossível, assumiu o papel de um treinador calmo, preponderante e trabalhador, mas que, em conformidade com os últimos anos de carreira, teve bastante azar nos clubes em que apostou para fazer o seu início de carreira no banco de suplentes.

Depois de um breve período como treinador-adjunto no Getafe e treinador do Saragoça “B”, a equipa do Córdoba convidou-o a assumir o lugar até ao final da temporada 2012/2013. A equipa que disputava a 2ª divisão espanhola, terminou em 14º conquistando 7 pontos em 30 possíveis… Esnáider não continuou. O futebol não era de todo “mau”, mas algo insonso, com falhas no que concerne ao planeamento defensivo e à saída com bola (similar às de José Peseiro, apesar de ser uns bons “degraus” inferior).

Entre 2013 e 2016 assumiu só o papel de comentador e analista, não conseguindo cativar o interesse de qualquer clube na sua contratação. A falta de preponderância no banco de suplentes, a juntar as falhas que já mencionámos, não colocavam nenhum cenário a favor de Juan Esnáider. A passagem pelo Getafe como treinador-adjunto de Míchel, valeu-lhe um convite para assumir o clube que estava desesperado por se manter na La Liga em 2016.

Só que, e neste artigo isto foi repetitivo, Esnáider entrou com tudo, tentou montar a sua estratégia mas acabou na segunda divisão na última jornada… nesse encontro frente ao Real Bétis, que terminou com um 2-1, Esnáider viu metade da sua equipa a receber cartões amarelos, algo demonstrativo da agressividade em excesso e do desespero que o plantel apresentou na tentativa de se manter no mais alto escalão de futebol espanhol.

Em 2017 partiu para outros palcos, algo exóticos e diferentes para o que Esnáider estava acostumado: a J2 League (segunda divisão japonesa). JEF United Ichihara Chiba é o clube em que Esnáider liderou, terminando em 6º lugar no campeonato, mantendo-se para já no comando da equipa nipónica.

Esnáider acabou por fazer as pazes com os adeptos do Saragoça, no qual merecia uma vez que foi um dos responsáveis pela conquista de dois títulos importantes para a galeria de troféus dos Blancos. Um avançado com pé canhão, dotado de uma energia pura e “louca” ao bom estilo dos avançados argentinos, onde ainda somava um poder aéreo que fazia qualquer guarda-redes tremer, Juan Eduardo Esnáider balançou entre o brilhantismo e o detestável, entro o lógico e o caótico e entre os golos e as “secas” longas.

No FC Porto não se guardam grandes memórias de um avançado que coincidiu numa época de flops a nível do ataque… já falámos de Kaviedes e Pizzi, por exemplo. Mas pela sua história no futebol, Esnáider merece ser lembrado pelo melhor e não pelo pior.


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