Leixões SC e o sonho de aportar em palcos maiores

Francisco IsaacJaneiro 16, 20188min0

Leixões SC e o sonho de aportar em palcos maiores

Francisco IsaacJaneiro 16, 20188min0
É o Leixões SC um candidato claro à subida de divisão? Ou o clube de Matosinhos vai se ressentir da saída de Jorge Henriques? Uma breve análise ao momento

Começamos com uma pergunta: a saída de João Henriques pode ou não colocar a subida em perigo? Bem, o primeiro resultado logo a seguir à saída do técnico português foi uma afirmação de força e querer, com Malafaia agora no comando dos “Bebés”. O Fair Play já tinha falado um pouco sobre o projecto da formação de Matosinhos em outro artigo, mas a boa forma, os resultados e alguns dos protagonistas merecem que revisitemos o plantel do Leixões SC.

O início de época na Ledman LigaPro foi medíocre, com só 7 pontos conquistados de um total de 15 possíveis, ficando na retina a derrota por 4-1 contra o Real SC e os 3-0 contra o Académico de Viseu, um candidato que se “afirmou” desde que começou o campeonato. A defesa parecia ser um problema grave e que deixava os adeptos minimamente preocupados na afirmação do clube na Liga Pro.

O quarteto que começou o campeonato era liderado pelos centrais, Ricardo Alves e Jaime Simões (jogou no CLUJ e Apol. Limassol), com o belga Hendrickx à direita e João Lucas do outro lado. Os 1-4 sofridos contra a equipa de Massamá abanaram com o onze de Daniel Kenedy. A 19 de Agosto após a derrota com o Viseu, o antigo internacional português foi demitido do cargo com João Henriques a assumir a liderança.

HENRIQUES DESAFIOU E O LEIXÕES APARECEU

Sem grande experiência neste patamar como técnico principal, o português deu outros contornos a uma equipa que teve o tal início de época cinzento, “sentando” Hendrickx (que entretanto saiu dos “Bebés” em Novembro, rumo ao seu país de origem) e a promover Derick Poloni e Jorge Silva à titularidade.

Mesmo com algumas derrotas até a este momento, este tem sido o bloco defensivo da equipa de Matosinhos, sendo que o brasileiro Poloni tem “rodado” com João Lucas (o lateral chegou mesmo a assumir a titularidade durante 12 jogos consecutivos). Depois dos 11 golos sofridos nos 5 primeiros encontros, o Leixões voltou a encontrar o “rumo” e a ter outro impacto na Segunda Liga.

Note-se que o Leixões tem 23 golos sofridos até ao momento, o que prova que a partir da 6ª jornada entrou uma eficiência defensiva decisiva para a obtenção de bons ou excelentes resultados. Dos 20 encontros jogados até ao momento na Ledman LigaPro, o Leixões já conseguiu ficar com as suas redes invioláveis por seis vezes, com destaque para o decisivo André Ferreira (formado na Academia do Seixal do SL Benfica) entre os postes.

Com 21 anos é um dos bons jogadores a despontar nesta LigaPro (já tinha actuado em 2016/2017 nesta divisão ao serviço das “águias” acumulando 34 jogos em toda a segunda liga), apresentando-se como uma boa barreira ante as melhores frente de ataque deste campeonato altamente disputado. Contra o FC Porto “B” (neste momento com 34 golos) susteve nas suas luvas a vitória (1-0), num jogo que tanto Fede Varela como André Pereira não conseguiram ultrapassar a frustração de ver o guardião a defender tudo.

O mesmo aconteceu contra a Briosa (1-0) ou Famalicão (1-0), equipas que não conseguiram quebrar com a boa estratégia de João Henriques, que assenta num meio-campo trabalhador e físico, mas com uma boa capacidade em alimentar as alas. Não é músculo exagerado, é “fisicalidade” lógica com um princípio de jogo bem idealizado que tem conseguido dar pontos importantes à equipa de Malafaia.

EUSTÁQUIO A RECUPERAR E BREITNER A BRILHAR

Com Eustáquio a servir de trinco, o meio-campo da formação de Matosinhos assume outra dimensão. O sub-21 português tem um “dom” especial nos pés, com uma liberdade na gestão de jogo bem curiosa, para além de poder tapar as incursões dos seus adversários no meio-campo defensivo do Leixões. Stephen Eustáquio é um atleta minimamente especial, com um toque de bola impressionante para a terna idade que apresenta (21 anos) e que o staff técnico dos “Bebés” soube moldar às exigências e necessidades da equipa.

Depois mais à frente está Luís Silva e Breitner, dois jogador-chave desta formação nortenha. O português já passou pela Liga NOS (ao serviço do CF “Os Belenenses”, após uma dispensa extremamente estranha por parte do CD Nacional) na época passada, tendo ajudado o GD Chaves na subida de divisão em 2015/2016, trazendo outra “calma” e estabilidade ao meio-campo onde a forma simples, eficaz e directa com que começa e conclui os processos defensivos e ofensivos impressionam.

Já Breitner é um jogador mais criativo, com capacidade de se adaptar aos pedidos do staff técnico, não ficando assustado se tem de ir para a ala-esquerda ou direita, atacando com a mesma veemência que teria se estivesse no meio. A sua área de actuação preferida é o centro do terreno avançado, em que o gesto técnico, o detalhe e pormenor criativo dão outro sabor ao meio-campo dos matosinhenses.

O venezuelano já conta com três assistências e oito golos na LigaPro, afirmando-se como um dos principais activos do Leixões SC. Só por três vezes se sentou no banco de suplentes, com duas delas a registarem-se resultados negativos para os “Bebés“, apresentando-se válido o nosso argumento que Breitner é um jogador fulcral na execução e brilhantismo da sua equipa.

A simplicidade do 2º golo…recuperação ao meio, bola na ala, passe ao primeiro toque e presença na área

Há que sublinhar outro ponto: a recuperação de Evandro Brandão. O português, que despontou aos 17 anos mas caiu abruptamente de forma e qualidade, conquistou um lugar no AD Fafe na temporada passada e convenceu a direcção do Leixões avançar para a sua contratação. Na equipa, que agora milita no Campeonato de Portugal, Brandão somou 10 golos em toda a temporada, deslumbrando com a bola no pé, com um toque de magia e velocidade que tentaram salvar o Fafe da descida.

Não o conseguindo, o extremo mudou-se para Matosinhos e, mais uma vez, tem estado em bom nível com 4 golos em 19 jogos. Mas o seu impacto vai muito mais além que meros apontamentos estatísticos, já que Brandão consegue alterar as dinâmicas de jogo, apostando em boas fugas pelo flanco, apostando em ir até à linha e depois virar para dentro, num ataque à grande área, ou garantir uma linha de passe para que os médios consigam “pingar” a bola para dentro da área.

Olhando bem ainda há Kukula (bons timings na recepção ou dar sequência rápido a lances de contra-ataque), Bruno Lamas (o brasileiro tem realizado uma temporada com mais altos do que baixos, com vários golos a saírem do seu pé, dotado de um bom drible) ou Ruben Belima (para quem não o conhece, fica a saber que o jogador da Guiné Equatorial foi atleta do Castilla, equipa satélite do Real Madrid).

Ter jogadores como estes no plantel mexe com o plantel… Bruno Lamas então tanto consegue receber a bola e “virar” o jogo do avesso com um grande drible e finta ou disparar com eficácia bolas paradas (o golo contra o Guimarães “B” é um comprovativo desse jeito especial). Este tipo de jogadores pode dar um extra ao Leixões naqueles momentos decisivos.

DESENHO TÁCTICO E O QUE ESTÁ EM JOGO

Tentando perceber agora como joga esta formação não é fácil, uma vez que o esquema táctico pode começar sempre num 433, mas que rapidamente se molda para um 41212 (com Eustáquio a assumir o papel de trinco e de médio de recuperação de bola) ou para um 42121, em que Luís Silva faz de duplo pivot com Eustáquio, para dar outra capacidade não só de “roubar”a bola, mas também para gerir melhor o centro do terreno e não permitir liberdade dos seus opositores do meio-campo.

O contra-ataque, o jogar ao primeiro toque e o trabalho “honesto” e intenso no centro do terreno, permitiram ao Leixões dar um salto na tabela, ocupando, neste momento, o 3º lugar na lista de subida (4º do campeonato), com os mesmos pontos que Académico de Viseu e Académica de Coimbra.

Mas o que faz falta neste Leixões? Recursos de banco para dar outra resposta em jogos mais complicados e, principalmente, para aguentar a segunda metade da temporada. Com Malafaia os adeptos dos “Bebés” têm possibilidades em regressar a palcos que não “actuam” desde 2010, altura em que desceram para a Segunda Liga.

Foto: Lusa

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