O que fazer com Rafa Silva e 16M€ na bancada?

Pedro AfonsoOutubro 28, 20176min1

O que fazer com Rafa Silva e 16M€ na bancada?

Pedro AfonsoOutubro 28, 20176min1
Rafa Silva surge como o grande investimento do clube da Luz na época de 2016/2017. Pouco mais de um ano e cerca de 40 jogos depois, começa a parecer claro que o extremo é um "flop" dispendioso. Mas, uma vez que talento não lhe falta, como poderá ser explicado este eclipse do extremo português?

A novela de mercado de 2016/2017 culminou com a transferência de um dos melhores intérpretes da época 2015/2016 da Liga NOS, um campeão europeu, do SC Braga para o SL Benfica. A novela envolveu todos os clubes grandes em Portugal, o super-agente Jorge Mendes, muitas suposições e boatos sobre preferências clubísticas e um valor verdadeiramente avultado e único em Portugal: 16M€ mais o passe de Rui Fonte, que haveria de ser vendido uma época mais tarde por 9M€ para o Fulham.

A verdade, é que no último dia de mercado, Rafa Silva foi anunciado como reforço do Benfica, para gáudio de uns e (muitas) críticas de outros. Se por um lado grande parte acreditava no potencial e na qualidade do jovem português, outra grande parte criticava o valor avultado e a putativa incapacidade de adaptação a um futebol mais pensado e menos de contra-ataque de Rui Vitória (uma preocupação que abordaremos mais abaixo).

Um dos esteios da equipa minhota [Fonte: Diário de Notícias]

Os números

A estreia de Rafa acontece a 9 de Setembro, contra o Arouca num jogo fora de portas, onde o jovem extremo demonstrou uma acutilância ofensiva enorme, tendo sido parado apenas com um “arraial de porrada” que o atirou para os estaleiros durante mais de um mês. Voltaria a jogar a 19 de Novembro, frente ao Marítimo num jogo para a Taça de Portugal onde o Benfica venceu por 6-0. Rafa viria a terminar a época de 2016/2017 com 32 jogos, 1836 minutos e 2 golos marcados. Números aparentemente fracos, mas que espelham pouco a sua qualidade técnica.

Se 2016/2017 foi uma época de adaptação, onde ficaram claras as dificuldades de render num contexto substancialmente diferente daquele em que se encontrava em terras minhotas, Rafa Silva começa 2017/2018 de forma desastrosa. Até ao momento, tem 7 jogos, 319 minutos e 0 golos marcados. Mas mais do que os números, fica na retina uma verdadeira incapacidade de se ligar ao jogo encarnado, uma inconsequência ofensiva gritante e um bloqueio mental que poucos serão capazes de explicar.

Mas como explicar este rendimento?

Há dias, Jorge Gonçalves, antigo colega de Rafa Silva no Feirense, em entrevista ao Zerozero.pt, tem uma afirmação muito interessante e que pode ajudar a compreender a desilusão que Rafa tem sido para as hostes encarnadas: “Não quer dizer que ele seja malandro, ele é um atleta relaxado, a pressão não o afeta e isso quase que obrigava, um bocadinho, a termos que o picar. Porque a verdade é uma, tendo em conta as características que tem, na Segunda Liga era relativamente fácil para ele. Conseguia ganhar vantagem e se calhar não necessitava de estar a dar os 200 por cento, não é?”

Santa Maria da Feira era pequeno para tanto talento [Fonte: OnSoccer]

Esta descrição é preocupante e demonstra que grande parte da incapacidade de Rafa se afirmar no Benfica vem exatamente desta menor dedicação, maior dificuldade de adaptação a um meio infinitamente mais complexo e exigente do que a 2ª Liga. Nota-se um nervosismo latente em Rafa, de cada vez que pega na bola e chega ao último terço, onde parece que tudo se complica, onde tudo se perde.

Apesar de um problema grave que provém do próprio jogador, não podem deixar de ser tidos em conta dois factores mais externos que afetam (e de que maneira) o rendimento do jovem de Vila Franca de Xira:

Em primeiro lugar, a falta de aposta contínua e sustentada no jogador português. Rafa teve, a partir da segunda metade da época passada, pouquíssimos jogos consecutivos como titular, entrando sempre em momentos em que a equipa ou necessitava desesperadamente de marcar, com mais coração do que cabeça, ou entrando em momentos de controlo de jogo, onde o ataque não era, de todo, o foco encarnado. Notou-se uma evolução franca a nível de comprometimento defensivo, procurando adaptar-se às ideias de Rui Vitória, mas à custa de acutilância ofensiva. Rafa é, também, um jogador que perde imenso encostado às alas. Poderia servir um propósito de substituição de Jonas, contudo o brasileiro está aqui para durar.

Em segundo lugar, os adeptos. O adepto benfiquista é, na maioria das vezes, exigente. Contudo, essa exigência não é, de todo, uniforme nem coerente. Rafa e Carrillo foram vistos como as maçãs podres da época passada, sendo que todas as suas exibições eram analisadas com uma exigência que não afetou outros jogadores como Salvio ou Cervi. O último saiu para Inglaterra e assumiu preponderância no seu clube, demonstrando qualidade e critério. Rafa ficou para tentar assegurar o seu lugar.  Para agravar, Rafa não é um finalizador. Mas também não tem que o ser! A sua posição e características não necessitam de golos para comprovar a sua excelência. É mais provável que se o comum adepto se lembre do golo de Salvio contra o Sporting CP na época passada e escolha esquecer a cavalgada e primorosa assistência de Rafa para esse mesmo golo.

Então, que fazer com Rafa Silva?

Parece claro que os tempos estão difíceis para o extremo. Preterido dos convocados dois jogos seguidos (justamente, diga-se, por exibições miseráveis ao longo desta época), Rafa perdeu muito espaço no plantel e parece ter perdido, se é que alguma vez a teve, a paciência e compreensão do adepto encarnado.

Rafa não parece ter as capacidades mentais, neste momento, para poder vingar no Benfica. A equipa não apresenta um fio de jogo que beneficie os jogadores virtuosos (veja-se a titularidade por decreto de Augusto e Salvio, jogadores com um perfil mais “bruto”), mesmo que privilegie uma postura de contra-ataque, um pouco à imagem do Braga onde Rafa brilhou.

O talento não chega sempre… [Fonte: UEFA]

A opção será, tal como com Carrillo, emprestar Rafa a um clube de média-dimensão, onde possa assumir a titularidade e continuar o seu desenvolvimento, de uma forma também mais acompanhada. Com 24 anos, Rafa começa a chegar a uma idade crítica para um extremo e que poderá ditar todo o decorrer da sua carreira no futuro. Rafa tem pés para voos muito altos, mas precisa de ter cabeça para o acompanhar e um treinador e público que o apoiem.

 


One comment

  • Luis Filipe Grades Mantas

    Outubro 28, 2017 at 2:58 pm

    Conclusao de tudo isto, estando de acordo, existe um ditado que e bem verdadeiro,mais vale cair em graca do que ser engracado, como tal o atleta tem colocar a cabeca em ordem e mostrar todos os seus atributos, e o Clube tem todas as condicoes para poder vingar aquilo que fez no Braga, no minimo a 6o por cento.

    Reply

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS