Desafio messiânico

Pedro NunesSetembro 23, 20174min0
Um Barcelona com muitas dúvidas existenciais e que viu sair dois dos seus grandes aliados dos últimos anos, uma Argentina com a possibilidade de falhar o Mundial, um Ronaldo prestes a igualar o número de bolas de Ouro. Aos 30 anos, esta é uma das épocas mais desafiadoras da carreira de Lionel Andrés Messi.

O duopólio Messi/Ronaldo sofreu o seu primeiro ataque oficial. Neymar decidiu fazer aquilo a que ainda nenhum mortal se tinha proposto: desafiar os extraterrestres. Com o objectivo de lançar a sua candidatura ao título de melhor jogador de futebol do mundo, saiu da sombra de Messi para ser o porta-estandarte em Paris. Em Barcelona deixou um trio de ataque órfão da sua asa esquerda. Um dos tridentes mais mortíferos de que o futebol tem memória ficou, assim, desfalcado. Este grito do Ipiranga coloca Neymar com um desafio gigante para enfrentar. Porém, não é menor do que o que está previsto para Lionel Andrés Messi, até porque Neymar tem mais margem de erro do que o argentino.

Esta época, no seu todo, tem um peso muito grande naquilo que é o desenho da história do futebol moderno. Um dos maiores motivos é o Mundial a realizar-se lá no final da temporada. Na Rússia, várias nações lutarão pelo maior título que há neste desporto. Entre elas, estará o já qualificado Brasil de Neymar, ao quais se juntarão – caso nenhuma hecatombe aconteça – Portugal com Ronaldo e a Argentina de Messi.

Está aqui o primeiro problema do argentino para esta temporada. Nada corre bem à selecção azul celeste. Neste momento estão em 5º lugar do grupo de qualificação da América do Sul, com dois jogos por fazer: a receção ao Perú e a visita ao Ecuador. Desde o acesso directo aos playoffs, passando mesmo pela a impossibilidade de chegar ao Mundial, todos os cenários são ainda plausíveis para a selecção das pampas. Depois de três finais perdidas consecutivamente e duma renúncia à selecção, Messi voltou à luta com a camisola do seu país. Pode parecer estranho, mas o nível de La Pulga está tão elevado que há quem considere atingir uma final do Mundial no país rival e duas finais da Copa América, um fracasso. A dívida é imensa e esta pode ser a última grande oportunidade de conquistar o grande título. Ao colocar a cabeça na almofada, Messi já deve ter calculado todas as equações possíveis para erguer aquele troféu em Moscovo, no dia 15 de Julho de 2018.

Mas há mais. A época 2017/2018 tem também um peso acrescido na contagem de Bolas de Ouro entre Messi e Ronaldo. Se tudo correr como está previsto, será o português a receber a quinta e empatar, em termos absolutos, com Messi. Ver o português vir embalado, depois de uma recuperação de duas bolas em que só o filho da D. Dolores acreditou, estará certamente a mexer com as ideias do argentino. 

No Barcelona, a carga de trabalhos também aumentou, caindo mais peso sobre as costas de La Pulga. Valverde parece ter nele o seu braço direito e já declarou que um dos seus objectivos “é deixar Messi o mais à vontade possível com o seu jogo”. A conjuntura também não é fácil e há ainda o imbróglio da renovação de contrato. É complicado pedir a Messi que, para além de ser Messi – que já deve ser bastante complexo -, seja também Xavi e Neymar. E um pouco de Iniesta, que tem jogado em modo intermitente. E Dembelé, o substituto de Neymar, que só volta aos relvados em Janeiro. E Dani Alves, já agora, que também faz bastante falta e era um dos seus principais aliados no jogo culé, ainda sem um substituto nesse aspecto.

Aos 30 anos de vida, Messi vê-se agora metido num dos maiores desafios da carreira. Entrando na cabeça do astro argentino, parece haver duas opções. A primeira passaria por levantar a bandeira branca da rendição e passar a época em modo descansado, deixando que o Real levasse a hegemonia europeia para Madrid. Depois, no final, levar a equipa às costas na Rússia, bem ao estilo maradoniano. Válido. Mas descabido. E nada messiânico. A prova disso é que a época já começou e ele optou pela segunda – a única que existe na cabeça dele. Há bons indicadores: 9 golos em 5 jogos para a liga. Sozinho anotou tantos como o Real Madrid e já é o início de época mais goleador da sua carreira. Tal como se costuma dizer, é o único jogador capaz de faz um passe e a seguir finalizá-lo. Melhor não esquecer que Messi é capaz de executar coisas que os simples terrestres não são, sequer, capazes de imaginar.

Foto: Notícias ao Minuto

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