Onde é que anda o Flop: Kaviedes o matador que nunca jogou
Benni McCarthy quem se esquece do mortífero avançado sul-africano que chegou às Antas/Dragão e num par de meses ganhou um cântico ainda hoje entoado pelos adeptos do FC Porto? Ninguém certo? Então e quem se lembra de Ivan Kaviedes do… bem a adjectivicação correcta seria “fantasma” equatoriano que a única coisa que assombrou foi a SAD portista?
O striker chegou no mesmo pacote que McCarthy, já que ambos foram transferidos do Celta de Vigo para a Invicta. Se o sul-africano arrumou com 12 golos no fundo das redes no espaço de cinco meses, já Kaviedes jogou apenas… zero minutos com o símbolo do FC Porto ao peito. Prometeu muito na conferência de imprensa e muito se falou do que podia fazer dentro de campo.
Mas quem era Ivan Kaviedes? Um produto das escolas do Emelec, o ponta-de-lança marcou 43 golos numa só época. Veloz dentro da caixa, com um sentido posicional especial que ia de encontro com um potente poder de remate e finalização. O ano foi 1998 e mesmo com o goleador ao serviço, o Emelec não levantou qualquer título.
De qualquer forma, a excelente prestação do equatoriano mereceu a atenção dos clubes europeus, com o Perugia a ganhar o leilão. Nos poucos meses que teve ao serviço do Perugia, Kaviedes completou 14 jogos e marcou 4 golos, sendo um dos jogadores-salvadores do clube do centro de Itália.
A boa entrada na Europa valeu nova transferência, desta feita para o Celta de Vigo, que vivia os seus anos de ouro com uma forte presença na La Liga (coincidentemente, foi a altura em que a Galiza teve um forte protagonismo no futebol espanhol) e que vinha a “incomodar” os grandes do país vizinho.
Só que o “calvário” de Kaviedes começou com esta ida para Vigo, jogando apenas 6 jogos na primeira metade do campeonato, não conseguindo assumir o mesmo protagonismo que nas passagens pelo Emelec e Perugia. A roda de empréstimos começou com Puebla (2000), Valladolid (2000-2001) e, finalmente, FC Porto.
Em Janeiro de 2002, o FC Porto passa por um momento crítico da sua “vida”… Octávio Machado é despedido logo a abrir o ano, Kaviedes chega e José Mourinho assume a equipa. O rebuliço e confusão que se instalou na Invicta acabou por “estragar” com a vinda do equatoriano, que esperava ter conseguido bem mais que 0 jogos disputados no Campeonato.
Chegou rotulado de matador, com um toque de bola mágico e felino, onde ainda combinava bem com a sua velocidade dentro da grande área. Só que não convenceu de forma alguma a equipa técnica azul-e-branca. Jogou frente ao SC Braga para a Taça de Portugal, entrando por Carlos Secretário num momento em que os dragões já perdiam por duas bolas a uma. Nada fez e acima de tudo atrapalhou o ataque do FC Porto que estava desesperado por dar a volta ao jogo.
A 23 de Janeiro chega Mourinho e, ao bom gosto do treinador, muda tudo. Kaviedes deixa mesmo de ser convocado e passa a ser só um empecilho, sendo mesmo retirado da lista de inscritos para UEFA. O clube trata logo de prescindir dos serviços do avançado com uma rescisão de contrato em Fevereiro, mais precisamente a 22 desse mês.
Uma passagem altamente fugaz, sem “alma” e sem sequer ter feito um remate em direcção à baliza, Kaviedes foi uma desolação para o público das Antas, que esperava bem mais de um jogador que vinha com rótulo de serial-killer.
O avançado causou polémica e controvérsia com Octávio Machado a apontar o dedo (ou vários dependendo do alvo) a Jorge Mendes por ter imposto o avançado ao FC Porto. Pode recordar o comunicado do agente aqui.
A saída do FC Porto pode-se explicar por várias razões sendo a primeira a falta de convicção que o próprio tinha nas suas capacidades na altura. Para jogar no Porto de Mourinho era preciso trabalhar, trabalhar e trabalhar, meter o body on the line e tentar demonstrar inteligência com e sem a bola. Kaviedes desistiu rapidamente do sonho europeu, para voltar para o Equador… a corrida pelo Mundial foi mais importante que lutar por um lugar e isso dita a carreira do avançado.
Ironicamente, Kaviedes mal jogou no Mundial, consumando só 90 minutos em três jogos… o Equador não passou da fase-de-grupos. A partir daí, o avançado optou por jogar na América Central e do Sul, tendo sérias dificuldades para se impor no futebol mundial.
No Barcelona… do Equador, Kaviedes ainda conseguiu marcar 14 golos e realizar algumas boas exibições que lhe permitiram regressar à Europa. Mas quem iria buscar um avançado que nunca tinha provado os seus créditos sob pressão? Bem, os negócios ruinosos em Inglaterra são regra e o Crystal Palace foi o clube a dispensar cerca de dois milhões de Libras pelo avançado.
O valor de transferência ainda é alvo de discussão, uma vez que o Palace afirma que não é verdade, apesar de empresário e o Barcelona SC afirmarem e provarem o contrário. Em Inglaterra, completou 4 jogos e…zero golos. Esta situação de “não facturação” à frente da redes aconteceu por sete vezes na carreira do equatoriano: Vigo, Puebla, Porto, Palace, Deportivo Quito, LDU Loja e LDU Portoviejo.
Actualmente, Kaviedes joga nas divisões secundárias,no Clube Aguilas Santo Domingo do Equador, isto com já uns 40 anos nas pernas. Pelas “águias” já marcou sete vezes e tem sido importante na formação do clube. Mas o mais engraçado aqui é o facto de estar a jogar ao lado do seu filho adoptivo, Marco Kaviedes.
1ER GOL NINE KAVIEDES CON EL DEP. SANTO DOMINGO@DiegoArcos14 @aguschmer @pamozaec @HECKELGUSTAVOVE @ECUAGOL @Teradeportes @sol_deportiva pic.twitter.com/7mnmzgdLCw
— Luis Gonzalo Cadena (@luisgonzalo8123) May 6, 2017
Jaime Ivan Kaviedes, El Nine como é conhecido no Equador, marcou uma era do futebol equatoriano já que foi ele o homem que marcou o golo que meteu o país no seu primeiro Mundial, no ano de 2001. Rápido, felino e com um toque de bola “adocicado”, Kaviedes prometeu muito mas acabou por desiludir quase mais de metade dos clubes por onde passou.
No FC Porto é relembrado como um dos maiores flops do século XXI, que prometia golos e mais golos, numa altura em que o clube da Invicta estava desesperado por referências de área (Pena tinha tido uma queda abrupta no ano de 2001 e 2002) e precisava de se revitalizar. O timing foi péssimo, a postura de Kaviedes também não foi a desejada e a paciência da direcção azul-e-branca era mínima.
Kaviedes é um jogador mais “humano” e dedicado às massas, com um amor pelo Equador sem igual, de tal forma que lhe toldou a continuação na Europa. Agora está nas “Águias”, tem a sua própria escola de futebol que funciona dentro do mesmo clube e vive uma vida pacifica.