Paulo Meneses. “O Aizawl FC da Índia é comparado com o Leicester”

Francisco IsaacJaneiro 9, 201817min0

Paulo Meneses. “O Aizawl FC da Índia é comparado com o Leicester”

Francisco IsaacJaneiro 9, 201817min0
O treinador do Aizawl FC, campeão da Índia, falou sobre a carreira, os objectivos e o que é ser treinador. Entrevista em Exclusivo com Paulo Meneses
Paulo Meneses, experiência espectacular na Índia? Estás a gostar de do Aizawl FC?

PM. Sim, experiência muito positiva a todos os níveis (Futebolísticos, culturais, sociais). O clube, é o actual campeão da Índia, temos um desafio enorme pela frente, porque nunca tinha ganho o titulo Nacional. Muitas vezes, o Aizawl FC é comparado com o Leicester em Inglaterra. O Leicester só perdeu 2 jogadores, e o Aizawl FC perdeu 7 jogadores titulares. Temos uma equipa bastante jovem, porque a direcção decidiu promover 7 Juniores à equipa sénior, no entanto, conseguimos contratar bons estrangeiros para ajudar nesta caminhada.

A época na Índia é dividida em dois momentos: estadual e nacional, certo? Como descreves o campeonato indiano?

PM. Sim, de Agosto a Dezembro tivemos a Liga Estadual – Mizoram Premier League (conseguimos ir à Final), e a partir de Dezembro começou a I-League. E a partir do final de Janeiro teremos a Champions League Asiática.

Maiores qualidades do jogador indiano? E onde é que têm de melhorar muito ainda?

PM. Posso falar de uma forma mais acertada do Jogador Indiano do Estado do Mizoram. Os melhores e mais talentosos jogadores, são formados no Estado do Mizoram. Existem bastantes espalhados pela Índia, e alguns incluso estão na nossa equipa. O Jogador Indiano é agressivo, bastante trabalhador, bom tecnicamente, mas falta-lhe um pouco de qualidade táctica. Às vezes é necessário trabalho extra a nível do entendimento do jogo (O que fazer, como reagir ou que comportamentos têm que ter em cada momento do jogo).

Tens muitos adeptos a seguir a equipa? O futebol vai alguma vez fazer frente ao Críquete em solo indiano?

PM. Mais uma vez, me refiro ao Futebol no Estado do Mizoram. Aqui, o Futebol é a modalidade mais popular. Toda a gente é louca por Futebol e pelo Aizawl FC. Em todos os Estados que vamos jogar, há sempre adeptos do Aizawl FC. Dou-lhe um exemplo, este fim de semana vamos jogar a Calcutá contra um dos maiores clubes da India: Mohun Bagan. Em Calcutá vivem milhares de pessoas do Estado Mizoram, muitas dessas pessoas vão apoiar-nos.

Acho que pouco a pouco, o Futebol vai-se aproximando do Críquete. Vejo algum desenvolvimento no Futebol, para que isso aconteça. O Mundial Sub17 que se realizou há 2 meses atrás, é prova disso. Vimos estádios completamente cheios, vimos uma organização à altura do evento, a Federação trabalhou e preparou bem a equipa Sub17 para representar o país. Tudo isto é importante.  

Paulo Meneses sobre o Aizawl FC (Foto: Arquivo Pessoal)
Qual é o teu grande objectivo para a época actual? Achas possível revalidar a I-League em 2017/2018?

PM. Sempre disse e continuo a dizer, ano de transição do Aizawl FC, não só porque nunca tinha ganho nada, mas também porque tenho uma equipa bastante jovem. Por isso não é fácil…porque todas as equipas se motivam bastante para ganhar ao campeão.

Vamos jogo a jogo, até agora está a correr bem, não só a nível de resultados, mas também a nível da qualidade de jogo apresentada (alvo de elogios de adeptos e directores de equipas adversárias). Claro que temos um discurso dentro do balneário (Ser campeão de novo)….e outro para fora (vamos jogo a jogo).

Para o público português que desconhece o Aizawl FC, consegues dizer dois ou três jogadores que têm capacidade de chegar longe?

PM. Sim, temos vários jogadores jovens com bastante potencial.

Destacaria um jovem de 17 anos…que já jogou vários jogos a titular – Valpuia.

Temos também o Chhara, com 17 anos marcou 5 golos na Mizoram Premier League e ganhou o prémio de melhor jogador jovem.

E também de destacar o Puitea, jovem com 19 anos, que tem sido utilizado bastantes vezes.

Estes 3 jogadores têm um potencial enorme de continuar a crescer e de chegar longe.

Agora sobre o teu passado… como é que começou esta tua aventura como treinador? Chegaste a jogar futebol ou és género do José Mourinho, André Villas Boas, treinadores que nunca jogaram mas acabaram como treinadores?

PM. Um pouco de ambos perfis. Joguei futebol 14 anos (distritais, 3ª divisão e 2ª Divisão B em Portugal). Depois Licenciei-me em Educação Física no Instituto Jean Piaget – Viseu, depois Licenciei-me em Ciências do Desporto – Treino Desportivo em Futebol na Faculdade de Motricidade Humana, e por fim fiz uma etapa de Erasmus no INEF em Madrid em Fútbol de Alto Rendimiento, onde colaborei também como Professor com o ex Preparador Físico de Vicente Del Bosque na Seleção Espanhola.  

Começaste como scouter no Leiria, correcto? Guardas bons momentos da tua passagem por Leiria?

PM. Sim, comecei como Scouting na União de Leiria, na equipa técnica de Pedro Caixinha. Foi bastante positivo a minha passagem por Leiria. Foi uma etapa importante no meu crescimento e o primeiro contacto com o Futebol de alto rendimento.

Tens alguns conselhos para jovens scouters que estão a começar? O que é mais difícil nessa profissão?

PM. Para os jovens que estão a começar, o meu conselho é que sigam os seus instintos ..que estudem todos os dias um pouco de futebol, que vejam muito futebol (que é o mais importante para conhecer e entender o jogo) e que… acima de tudo sejam auto-críticos e que sejam eles mesmos.

O que é mais difícil nesta profissão, é mesmo a falta de instabilidade que a profissão nos dá. O fato de estarmos a trabalhar longe do nosso País, dos nossos amigos e família, acaba por ser o mais duro, no entanto já me habituei a isto.

A tua carreira de treinador começou em Espanha, mas chegaste a passar como treinador-adjunto noutro ponto muito exótico: Laos? Gostaste da experiência?

PM. A minha carreira como treinador começou na Academia de Talentos do Sporting Club de Portugal. Também estive como um dos treinadores na equipa da Faculdade de Motricidade Humana – campeonato universitário.

Então depois, rumei a Espanha. Onde estive 2 temporadas no AD Alcorcón, depois uma passagem fugaz pelo ED Moratalaz. Durante estes 3 anos, colaborei com gente da equipa técnica do Vicente Del Bosque na Seleção Espanhola, onde tive participação no planeamento e preparação da Copa de Confederações Brasil 2013; do Mundial Brasil 2014; Europeu 2016.

Depois, fui para o Chorrillo FC, equipa que actualmente campeã da 1ª Liga Panamenha.

O que aconteceu no Lanexang United F.C? São países onde a actividade profissional como futebol é

PM. No Lanexang, eu e o Eduardo Almeida, tivemos uma experiência muito rica, a todos os níveis. O Lanexang United é um dos clubes maiores de Laos, e conseguimos apurar a equipa para a Champions League Asiática.

 Olhando para a tua carreira como treinador o que é que aprendeste até hoje que é fundamental para sobreviver nesta profissão tão difícil?

PM. Sermos nós próprios, manter relações pessoais autênticas, sermos organizados e metódicos, com capacidade de adaptação ao meio em que estamos, entender a Cultura de onde estamos a trabalhar. 

Com Vicente del Bosque (Foto: Arquivo Pessoal)
Melhor jogador com quem trabalhaste? E a equipa que mais gostaste de estar?

PM. Aizawl FC. Andrei Ionescu (Ex Internacional Romeno).

Define a profissão de treinador em três palavras.

PM. Paixão, Compromisso, Autenticidade.

Que filosofia de jogo és seguidor: a de Pep Guardiola, do futebol de domínio e pensado? De José Mourinho de trabalho de adaptação ao adversário e resposta de contra-ataque? De Sarri e do futebol total e de domínio exacerbador? Ou outro tipo de escola?

PM. A Filosofia que gosto de colocar em pratica, é um pouco influenciada por todas essas tendências. Recolho e aprendo de todos eles, para depois adaptar o que mais me parece essencial e importante para minha própria Filosofia. No entanto, tudo depende do tipo de jogadores que temos no plantel…para depois nos adaptar-nos um pouco às suas características e retirar o melhor rendimento possível de cada um. Mas numa perspectiva colectiva, posso dizer que gosto que a minha equipa tenha o jogo controlado (com posse de bola), embora se possa controlar o jogo sem a posse de bola (Em Organização Defensiva).

De Mourinho, recolho a parte de alguma adaptação ao adversário…principalmente quando a minha equipa não tem a bola, ou seja, ter em conta alguns pontos fortes do adversário para não sermos surpreendidos, mas, tenho que referir que, a minha equipa, a minha Filosofia, é sempre mais importante que o adversário, por isso dou muito mais importância aquilo que a minha equipa pode fazer contra qualquer adversário.

Tens alguma mensagem para o público português, amigos família e colegas de carreira?

PM. Para todos em geral, a mensagem que quero deixar:

Lutem todos os dias pelo aquilo que querem alcançar. Nunca desistam dos seus sonhos e objectivos. Sejam autênticos em tudo o que façam e tentem superar-se todos os dias.

Especificamente para os Portugueses:

Que estejam orgulhosos de todos os Portugueses, somos enormes em muitas áreas, quer internamente,  quer além fronteiras, não só no Futebol.

Para colegas de carreira:

A nossa capacidade de adaptação aos variados contextos, a capacidade de relação humana (com jogadores, staff, directores e adeptos) e também a qualidade no entendimento do jogo e no treino…faz de nós únicos no mundo do futebol.

Coloquem em pratica tudo com autenticidade. Tentem colocar em pratica a Inteligência Emocional em tudo o que façam. Criem um ambiente de empatia com toda a gente no clube… construam, cuidem do grupo de trabalho através do “Team Spirit” e “Team Work”. Façam sentir importante a todos os jogadores e todos os membros do staff… criem lideres na equipa.

No comando do Campeão da Índia (Foto: Arquivo Pessoal)

VERSÃO INGLESA | ENGLISH VERSION

Paulo Meneses, a great experience in India? Are you liking Aizawl FC?

PM. Yes, a very positive experience on all levels (cultural, social, football). The club is India’s champion right now , we have a major challenge ahead of us because we had never won the national title before. Aizawl FC is usually compared to England’s Leicester. Leicester only lost 2 players whilst Aizawl FC lost about 7 main players. We have a quite young team, since the club’s administration decided to promote 7 junior players to the main team, we also have hired a few foreign players to help us in this endeavor.

The football season in India is divided in two moments: state and nacional, right? How would you describe the indian championship?

PM. Yes, from August to December we have the State League– Mizoram Premier League (we managed to reach the final), and from December on we have the I-League. And from January on we’ll have the Asian Champion’s League.

What are the best qualities of the Indian player? And where’s room for improvement?

PM. I can speak specifically to the qualities of the Mizoram State Indian player. The best and most talented players are trained in the Mizoram State. There are quite a few all over India and some are in our team. The Indian player is aggressive, a good worker, technically competent, but lacks a little bit of tactical quality. Sometimes you need to put on some work where understanding of the game is concerned (what to do, how to react what behavior to have on each moment of the game).    

Paulo Meneses sobre o Aizawl FC (Foto: Arquivo Pessoal)
Do you have many fans of the team? Do you think football can ever be a foe to cricket in India?

PM. Again, I’ll be referring to football in the Mizoram State. Here football is the most popular activity. Here everyone’s crazy for football and Aizawl FC. Every state we play in there’s always Aizawl FC fans. I’ll give you na exemple, this weekend we’ll be playing in Calcutta against one of the major indian clubs: Mohun Bagan. In Calcutta live thousands of people from Mizoram State and many come to support us. Little by little football can approach the dimension of cricket. I see some development in football towards that goal. The under-17 world cup, played two months ago, is proof of that. We saw full stadiums, a great organization, a Federation that prepared well the under-17 team to represent the country. All of this is important.

What’s your main goal for the current season? Do you think it’s possible to renew the  I-League title in 2017/2018?

PM.I’ve always said, and I still do, it’s a trasition year for Aizawl FC, not just because it had never won anything but also because it’s a pretty young team. So it isn’t easy… because all teams are quite motivated to win against the champion. We’ll played game by game and so far it’s going well, not just where results are concerned but also the quality of the game itself (we’ve seen compliments from fans, director and opposing teams). Of course we have one mindset in the locker-room (to be champion again) and a different one on the outside.

To the portuguese public that doesn’t know  Aizawl FC, can you point out one or two players that have the capability to go far?  

PM. Yes, we have several young players with great potential. There’s a 17 year old that has played several games, Valpuia. There’s also Chhara, 17, who scored 5 goals in Mixoram Premier League and won the award for best young player. And I would also like to mention Puitea, 19, that has played consistently. These 3 players have great potential to go very far.

 Now to talk about your past…how did you start coaching? Did you play football before or are you more of a Mourinho, Villas Boas type

PM. A little bit of both. I played football for 14 years (district league, 3rd division,2nd division B in Portugal). Then I graduated with a degree in Phisical Education from Piaget Institute in Viseu, then another degree in Sport Science – Sport training in football from FMH and I did Erasmus in INF in Madrid in Fútbol de Alto Rendimiento, where I collaborated as a professor with the former physical trainer of Vicente Del Bosque on the Spanish national team.  

You started as a scouter in Leiria, correct? Do you remember that time fondly?

PM. Yes, I started scouting in União de Leiria, in Pedro Caixinha’s technical team. My time in Leiria was quite positive. Na importante step for my growth and my first direct contact with high intensity football.

Any advice for young scouters? What’s the hardest thing in that job?

PM. My advice would be follow your instincts… study football every day, wtch a lot of football and above all be critic and be yourself. The hardest thing on this job is the lack of professional stability. Having to work far from our country, our friends and family is the hardest thing, but I am now used to it.

Your career as a coach started in Spain but you also spent some time as an assistant coach in Laos. Did you enjoy the experience?

PM. My career as a coach started in the Talent Academy of Sporting Club de Portugal. I was also a coach of the team of FMH, university championship. Then I went to Spain. I was in AD Alcorcón for two seasons, then a quick stay in ED Moratalaz. During those 3 years I collaborated with the technical team of Vicente Del Bosque, I participated in the planing and preparation of the Confederations Cup 2013, the World Cup in Brasil 2014 and the European Championship 2016. Then I went to Chorrillo FC, now in the 1st Panamanian League.

What happened in Lanexang United F.C?

PM. In Lanexang Eduardo Almeida and I had a very rich experience on all levels. Lanexang United i sone of the biggest clubs in Laos and we managed to qualify the team for the Asian Champions League 

Looking at your career as a coach, what do you think it’s fundamental to survive in this tough profession?  

PM. Being yourself, keeping authentic personal relationships, being organized and methodic, having a capability to adapt, understanding the culture where you’re working.

Best player you’ve worked with? And the team you’ve most enjoyed?

PM. Aizawl FC. Andrei Ionescu (former Romanian international).

Define coaching in three words.

PM. Passion.Commitment. Autenticity.

What’s your game philosophy: Pep Guardiola’s, a thought through and dominium football? José Mourinho’s, adaptation to the opponent and counter-strike? Sarri’s total football?

PM. My philosophy is a little bit of all those.  I learn from all of them so I can then adapt the essential for my way of thinking. But it all depends on the type of players you have in your team… so we can adapt to their characteristics and get the best out them. But from a collective perspective I can say that I like it when my team has control over the game (ball possession)  although you can also control the game when you do not have the ball (organized defense ). I get the adaptation to the opponent from Mourinho…especially if may team doesn’t have the ball, that is knowing your opponent’s strengths so that you’re not surprised by them. My team is always more important than any opposing team, it’s always more important what we can do against any other team.  

Do you have any message to the portuguese public, family, friend, colleagues?

PM. Fight every day for what you want to achieve. Don’t give up your dreams and goals. Be authentic in everything you do and try to overcome yourself every day.

To the portuguese in particular: be proud of all Portuguese, we’re great in many areas, not just football, both nationally and internationally.

To my colleagues: our capability to adapt to numerous contexts, the human relation potential we have (with players, staff, directors, fans) and the clear understanding of the game makes us unique in the world of football. Put it all in practice with authenticity, with emotional intelligence. Create an environment of empathy for everyone at the club… built the ‘team spirit’ and the ‘team work’. Make players and staff feel important…create leaders in the team.

No comando do Campeão da Índia (Foto: Arquivo Pessoal)

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