Natanael Costa e o Oleiros no caminho da História na Taça de Portugal

Francisco IsaacOutubro 10, 20177min0

Natanael Costa e o Oleiros no caminho da História na Taça de Portugal

Francisco IsaacOutubro 10, 20177min0
Entrevista Exclusiva ao Fair Play do treinador do ARC Oleiros na antevisão ao encontro frente ao Sporting Clube de Portugal.

Os Tomba-Gigantes fazem parte da História do futebol e a Taça de Portugal não foge a esse cenário. O ARC Oleiros está nas “bocas” da Imprensa Desportiva uma vez que vai receber no seu recinto o Sporting Clube de Portugal de Jorge Jesus. Uma equipa carregada de humildade mas ambiciosa que não vai facilitar, de forma alguma, a vida aos Leões. Pelo contrário, podem esperar uma equipa combativa, sonhadora e munida dos seus “próprios” segredos.

Fica a conhecer o Oleiros e o seu timoneiro, Natanael Costa.


Natanael Costa, gostavas de que a ARC Oleiros vestisse o “papel” de “Tomba-Gigantes” nesta eliminatória da Taça de Portugal? O que procuram tirar desta experiência?

NC. Sonhamos com isso e vamos lutar por isso, sabendo que a realidade de ambas as equipas é muito diferente. No entanto, se tivermos um dia muito bom e o Sporting um dia menos conseguido… tudo é possível! A história da competição já conheceu situações desse género. Têm de servir de estímulo para a nossa equipa.

O clube nunca tinha passado uma eliminatória desta competição. Chegámos já à 3ª este ano. É um jogo em que não temos qualquer tipo de pressão, por isso vamos tentar desfrutar do jogo, com responsabilidade e lutando contra a lógica.

Como começou esta tua viagem no Oleiros? O quão difícil é ser treinador de uma equipa deste patamar?

NC. Já tinha sido sondado por pessoas do clube anteriormente, mas por um motivo ou outro, acabei por não ingressar no clube. Após um ano de paragem por opção própria, surgiu novamente o convite. Ouvi as pessoas que dirigem o clube e achei que poderia ser bom para ambas as partes, eu assumir o comando técnico da equipa.

As principais dificuldades até ao momento relacionam-se com a construção do plantel. O clube não pode competir financeiramente com as equipas desta divisão e geograficamente, os jogadores acham pouco atrativo morar em Oleiros. De resto, as dificuldades são ultrapassadas com trabalho e boa vontade.

Começaste como preparador-físico no Sertanense e foste evoluindo até chegar à posição de técnico principal. Que conselhos podes dar a jovens que pretendem ingressar nesta carreira? E que sacrifícios devem estar dispostos a fazer?

NC. Não é a primeira vez que sou treinador principal. Já o tinha sido com 26 anos, na antiga 3ª divisão nacional. Não aconteceu por objetivo, mas sim de forma natural. O único conselho que dou às pessoas mais jovens é que não procurem receitas, que questionem tudo e procurem encontrar as suas próprias verdades. Que nunca deixem de procurar conhecimento, que não se acomodem.

A médio-longo prazo queres chegar a outros patamares ou esta “viagem” como treinador não é tido como uma carreira de longa duração?

NC. É algo em que não penso. O meu objetivo em relação ao futebol é que no final da época, as pessoas que me convidaram sintam que valeu a pena apostar em mim e acima de tudo, que consiga contribuir para a valorização humana e desportiva dos jogadores que compõem o plantel do Oleiros.

O objectivo em 2017/2018 no Campeonato de Portugal passa pela manutenção ou algo mais?

NC. Manutenção.

Como é o vosso dia-a-dia? Desde que vos calhou o Sporting CP mudaram alguma coisa nas vossas rotinas ou está tudo igual?

NC. Está tudo igual. Talvez um pouco mais de diálogo para ajudar a manter o foco nos compromissos do Campeonato de Portugal que se realizam antes desse jogo.

Como apresentarias a equipa do Oleiros aos adeptos que vos desconhecem? Pontos fortes e aonde fazem a diferença?

Somos uma equipa que ainda se está a conhecer e a ganhar rotinas. O espírito de grupo está a crescer. Em campo somos uma equipa corajosa, sempre com a intenção de atacar a baliza adversária.

Vale a pena seguir com atenção o Campeonato de Portugal? O que é que esta divisão pode oferecer aos fãs do Desporto Rei?

NC. Vale claramente. Vale principalmente pelo equilíbrio existente e pelos jovens de qualidade que todos os anos vão emergindo nesta competição.

Achas que os apoios concedidos a equipas como o Oleiros são suficientes para desenvolver o clube ou há uma discrepância muito grande entre ligas e, até, em formações da mesma divisão?

NC. A realidade é o que é. Temos que nos saber ajustar e com os meios existentes, fazer o melhor possível.

Sim, há alguma discrepância. É natural que equipas de cidades como Leiria, Viseu, Águeda, Anadia, Castelo Branco, gastem mais do que uma equipa duma vila pequena como a de Oleiros.

O quão importante é para as pessoas de Oleiros receber o Sporting em casa?

NC. É muito importante. Primeiro porque se vai respeitar o “espírito da Taça”, a ida dum clube de dimensão mundial a uma pequena vila do interior do país. Apenas nesta competição é possível um clube “Grande” competir com uma equipa duma divisão inferior. Os jogadores conquistaram o direito de estar na 3ª eliminatória, depois fomos afortunados com o sorteio e a possibilidade da realização deste jogo, que irá ficar perpetuado na memória das pessoas.

É também um estímulo para as pessoas do concelho de Oleiros e concelhos envolventes. Esta zona sofre muito com o êxodo populacional para o litoral do país, com a falta de oportunidades ou estímulos para as populações mais jovens e obviamente, pelos catastróficos incêndios que deflagraram este verão. Este jogo, vem trazer sorrisos às pessoas!

Estás desejoso de enfrentar o Mestre da Táctica, Jorge Jesus? Vais tentar surpreende-lo de alguma forma?

NC. Não! Não encaro a situação dessa forma mais pessoal. O futebol não é um jogo de Xadrez com peças inanimadas. Se assim fosse, em 100 jogos com o JJ, perderia os 100! É um treinador que respeito, mas espero que os meus jogadores possam fazer algo surpreendentemente agradável.

O Leandro Santos é um dos jogadores mais experientes no Oleiros, que inclusive chegou a ser teu atleta no Sertanense… pode ser ele um dos jogadores-chave na Taça de Portugal?

NC. Ele merecia isso! Sempre foi um exemplo na dedicação, entrega e profissionalismo. É o jogador desta zona do país que na última década, apresentou melhor rendimento. Este ano tem tido alguns problemas com lesões, mas tem uma capacidade de superação que pode servir de estímulo para os colegas.

O Oleiros é uma equipa totalmente profissional ou é uma mistura de profissionais e semi-profissionais? Humildade e dedicação são dois que atribuis à tua equipa?

NC. Temos estudantes, trabalhadores e um grupo de jovens, quase todos estrangeiros, que só jogam futebol e sonham com uma carreira noutros patamares. Só com humildade e dedicação poderão ter sucesso. Potencial existe na maioria dos jogadores, espero que o transformem num rendimento elevado e consistente.

Que mensagem gostavas de deixar aos adeptos do Oleiros e aos potenciais visitantes leoninos?

NC. Que desfrutem da festa e cooperem com o espírito da Taça! Que respeitem todos os intervenientes do jogo, desde jogadores, árbitros, adversários, etc. Que este jogo sirva para valorizar o futebol e o desporto em geral.

Foto: Maisfutebol

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