José Vareta. “O espírito de luta do Direito é passado entre gerações.”

Francisco IsaacJaneiro 28, 20189min0

José Vareta. “O espírito de luta do Direito é passado entre gerações.”

Francisco IsaacJaneiro 28, 20189min0
O internacional de XV e 7's falou da recuperação da lesão, dos seus tempos no Porto e no GD Direito. Entrevista em exclusivo com José Vareta
José Vareta, a tua recuperação está a correr bem? Ainda vamos conseguir ter-te em campo esta época?

JV. A minha recuperação está a correr bastante bem, ainda numa fase precoce, mas a correr melhor que a lesão anterior, gosto de ser ambicioso e acreditar que é possível jogar ainda esta época, é também uma forma de motivação, contudo é um objetivo um pouco irrealista.

Nestes momentos mais complicados qual é o teu “foco”? Como te manténs motivado?

JV. Uma lesão é sempre complicada, especialmente duas lesões seguidas, ainda assim tenho a sorte de estar a ser acompanhado pelos melhores. Não posso deixar de agradecer à Comcorpus, em especial ao Dr. Frederico Varandas e à minha fisioterapeuta Rita Afonso. Juntamente com as pessoas mais especiais para mim nos momentos que estou mais em baixo conseguem minimizar os problemas e motivarem-me. Aproveito também para agradecer à Gameready que me deu a possibilidade de recuperar com os melhores. Neste momento foco-me muito em recuperar, treinar o que consigo e ajudar o Direito em tudo que é preciso. Por outro lado, não estando a jogar Rugby tenho mais tempo para me dedicar a outras prioridades como a faculdade e tudo indica que acabarei o curso este ano.

Olhando para a presente temporada, achas que o Direito tem a qualidade suficiente para voltar a ser campeão?

JV. Não tenho dúvidas nenhumas disso, o Direito tem jogadores trabalhadores e com muita qualidade. Se o grupo se focar em quem está presente e continuar a trabalhar de uma forma humilde como tem feito, tenho a certeza que podemos ser campeões.

Qual é a principal motivação dos “Advogados”? De onde vem o vosso espírito lutador?

JV. Acho que como todas as equipas o Direito também é motivado pelas vitórias e pelas conquistas, mas para mim o que distingue este clube dos outros é que prioriza a ideia de uma única família, que representa todos os valores que o rugby nos transmite.

Esse espírito lutador tem vindo a ser passado de geração em geração. Desde o dia em que vesti a camisola do GDD, me foi incutido esse espirito pelos mais velhos: João Correia, Bruno Raposo, Gonçalo Uva, Vasco Uva, Salvador Palha, Diogo Coutinho, Miguel Leal, Miguel Portela, Pedro Leal, António Aguilar, Gonçalo Malheiro, Adérito Esteves, Lino Tudela foram e são (alguns ainda) os principais responsáveis.

Ainda te recordas do teu primeiro jogo pelo GD Direito? E ensaio?

JV. Primeiro jogo claro que me lembro, foi uma vitória contra a Agronomia em Monsanto numa sexta-feira à noite antes do natal, foi um excelente presente. Para ser sincero não me recordo do meu primeiro ensaio, recordo-me de acontecimentos bem mais importantes.

Qual foi a tua primeira impressão quando chegaste ao primeiro treino do Direito? Tens saudades do CDUP e do Porto?

JV. Um erro muito comum é assumir que o clube que me criou foi o CDUP, na realidade comecei a jogar rugby no CDUP muito novo, mas a partir dos 10 anos fui jogar para a Escola de Rugby do Porto, um clube criado pelo meu Pai – mais um contributo para o Rugby Nacional. Ou seja, na fase mais determinante do meu crescimento como jogador, fui jogador da ERP. Corrigindo assim a vossa questão: tenho saudades da ERP?

Sim, tenho bastantes, foi este clube que me criou e tenciono acabar a jogar lá nem que seja com 40 anos.
Quando cheguei ao Direito deparei-me com uma realidade totalmente diferente, um campo com condições diferentes das que eu conhecia, com os melhores jogadores de Portugal,… Acho que o que mais me impressionou foi a concentração dos trinta, quarenta jogadores no treino. O medo de errar era tanto que fazia com que não existissem praticamente bolas no chão.

Ao serviço do GD Direito (Foto: João Peleteiro Fotografia)
Falando do Porto… a família Vareta tem uma longa história com o rugby português, mas foi o teu pai a convencer-te a jogar ou foste pela tua própria vontade? Ainda te recordas dos teus primeiros colegas de equipa?

JV. Para ser sincero não me lembro de como tudo começou. Desde que me lembro quem sou que tenho uma ligação forte com o Rugby. Nunca foi preciso ninguém me convencer, quando era mais novo lembro-me de fazer as viagens todas que os Juniores do CDUP faziam, na altura jogava lá o meu irmão e o treinador era o meu pai. Fazia Porto-Lisboa, Lisboa-Porto para ver os Juniores jogar. Sempre adorei o espírito do Rugby e lembro-me o quanto me divertia a fazer aquelas viagens.

Não faltaria um jogo por nada. Lembro-me vagamente de ainda estar no CDUP e jogar com o Pedro Bettencourt, Tomás Sousa Branca, Zé Gama, Bernardo Seara Cardoso, Carlos Sottomayor, Francisco Vieira entre outros. Mais tarde na Escola de Rugby do Porto, onde joguei com os jogadores que hoje em dia fazem parte do meu grupo de amigos: Zé Paula, João Maria Silva, Nuno Sousa Guedes, Manel Mamede,… tudo jogadores que ainda hoje em dia continuam envolvidos no rugby nacional e internacional.

Depois de teres vindo para o Direito conseguiste as tuas primeiras convocações pela Selecção. Como foi ser chamado para a selecção? E quando pudeste finalmente entrar em campo como Lobo, qual foi o teu primeiro pensamento?

JV. Sempre tive a oportunidade de fazer parte das seleções das camadas jovens e ainda a jogar pela Escola de Rugby do Porto com 17 anos fui chamado pela primeira vez aos treinos dos 7’s. Foi um sonho tornado realidade poder treinar com jogadores como o Pedro Leal, Adérito Esteves, Gonçalo Foro, Diogo Mirando, David Mateus, Duarte Moreira, Frederico Lage, que estava habituado a ver só na televisão. Após uns anos de 7´s tive a primeira chamada à seleção de XV na época 2015/2016. Acho que o primeiro pensamento foi de objetivo cumprido: quase 15 anos a treinar para aquele dia.

Jogaste contra Alemanha, Espanha, Suíça, entre outras, mas tiveste um jogo de “fogo” contra a Geórgia. Como foi placar alguns jogadores que já estiveram/vão estar no próximo Mundial? Sentiste uma diferença substancial na qualidade e consistência de jogo?

JV. A Geórgia é uma equipa muito forte e tem vindo a melhorar o seu Rugby como temos visto nos últimos jogos, mas por vezes temos tendência para exagerar e construímos uma imagem   deles superior àquilo que eles realmente são. Sem dúvida que um jogo contra a Geórgia é um jogo duro fisicamente, mas são esses jogos que nos queremos e que nos fazem evoluir.

Jogo que mais gostaste de jogar por Portugal a nível de XV? E de 7’s?

JV. Nos 7´s  o jogo que mais gostei de jogar talvez tenha sido na época 2012/2013 em Las Vegas frente à Inglaterra, 0 placagens falhadas em 14 min, ganhamos 21-5 se não estou em erro.
No XV ainda com poucos jogos e apenas com uma vitória destaco o jogo da Geórgia por ter sido o primeiro em casa, com o apoio da minha família.

Tens saudades das World Series? Recordas-te de alguma etapa em especial? E um episódio que tenhas passado com essa equipa onde jogava o Pedro Leal, Diogo Miranda, Adérito Esteves entre outros?

JV. Tenho saudades, claro, mas acredito que ainda vou ter o prazer de representar Portugal nesses grandes palcos. Acho sinceramente que todas as etapas que fiz foram especiais, mas a primeira vez que fui ao Dubai sem dúvida foi a mais marcante, não só por ter sido a primeira, por ter tido a oportunidade de começar no 7 inicial no primeiro jogo, por ter marcado ensaio na primeira vez que toquei na bola após um cruzamento com o Francisco Vieira de Almeida mas principalmente por termos ido à Cup deixando para trás a África do Sul e a Inglaterra.

Achas que vamos voltar aos de outrora? Projectos como a Academia Pedro Leal podem fazer a diferença no rugby português?

JV. Sou muito adepto dos Projetos fora dos clubes, estou ligado à APL sempre que consigo. Os jovens jogadores que serão o futuro do Rugby adoram, aprendem muito com os melhores jogadores da atualidade. Como costumamos dizer na APL não há clubes, todos os jogadores e treinadores são bem vindos o que faz com os valores do rugby sejam incutidos aos atletas desde pequeninos. É uma experiência, que infelizmente enquanto jogador nunca tive, mas como treinador é uma alegria ver os jogadores a evoluírem. Conheço também a academia JLVareta no norte que tem como objetivo apoiar os clubes, fazendo um acompanhamento individual aos jogadores melhorando as capacidades técnicas específicas por posição. Todos estes projetos ajudam à evolução do Rugby português.

Algumas perguntas-rápidas para fechar: DJ Forbes, Seabelo Senatla ou Dan Norton?

JV. Dan Norton

Maior lenda com que já jogaste: Vasco Uva, Gonçalo Uva ou Pedro Leal?

JV. São três lendas e fico muito feliz por ter jogado com esses três e com mais umas quantas lendas, mas como toda a gente também tenho um ídolo e respondendo a essa questão: o Vasco Uva.

Melhor placador entre os irmãos Vareta? E aquele que é mais rápido? E o mais inteligente?

JV. O melhor placador é o Afonso, mais rápido sou eu e mais inteligente o Francisco.

Super Rugby ou Top14? E que equipa era a tua opção?

JV. Super Rugby, Crusaders

Queres deixar alguma promessa, mensagem ou voto para os adeptos do rugby português e do GDD? E para a família?

JV. Quero agradecer a todos pelas mensagens de apoio que tenho recebido. Aos adeptos do GDD quero agradecer por poder fazer parte desta família e posso prometer que voltarei com mais vontade ainda de vestir a nossa camisola. Aos adeptos do rugby português e a muitos jogadores gostaria de pedir duas coisas: primeiro que não defendam os valores do rugby sem os realmente porem em prática, em segundo lugar pedir que se unissem, mais do que nunca, porque só assim conseguiremos realmente sair da posição onde estamos.

Parabéns pelo vosso trabalho.

José Vareta na selecção de 7’s (Foto: Luís Cabelo Fotografia)

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